A cavala, capturada com abundância na costa portuguesa, rica nutricionalmente, mas pouco valorizada económica e culturalmente, é hoje o ingrediente base de hambúrgueres como forma apelativa e saudável de introduzir o pescado na alimentação de crianças e jovens.
A ideia de criar hambúrgueres de cavala surgiu no âmbito do projecto “FishGourmet”, promovido pela empresa pública Docapesca, Portos e Lotas, que desafiou ontem alunos de escolas de hotelaria e cozinha nacionais a apresentarem receitas próprias, com o objectivo de “valorizar e divulgar o pescado português numa perspectiva de consumo sustentável e saudável”.
Durante a mostra de hambúrgueres vencedores do “FishGourmet”, que decorreu no navio Santa Manuela, fundeado na doca do Parque das Nações, em Lisboa, a directora comercial e de marketing da Doca Pesca, Portos e Lotas, Ana Paula Queiroga, disse à Lusa que o conceito pretende “atingir o público jovem e crianças, por ser um prato que, naturalmente, já consomem, o hambúrguer”.
O concurso do “FishGourmet” recebeu “54 receitas de hambúrgueres de cavala”, tendo sido seleccionados três vencedores, através de um júri que incluiu nutricionistas para avaliarem o teor nutricional e a qualidade do produto.
A receita da aluna Ana Rita Marques, de 21 anos, do curso de Restauração e Catering, na Escola Superior de Turismo e Tecnologia Mar (ESTM), do Instituto Politécnico de Leiria, arrecadou o primeiro lugar do concurso de hambúrguer de cavala.
“A receita não tem, particularmente, um segredo. O problema é que as pessoas têm uma ideia da cavala, que está um pouco enraizada, de que era um peixe para os pobres”, explicou a docente da ESTM, Patrícia Borges, que acompanhou a confecção do hambúrguer vencedor.
De acordo com a professora, os hambúrgueres de cavala são uma boa forma de introduzir o peixe na alimentação das crianças, por ser uma espécie de pescado que “consegue absorver sabores facilmente e que, ao juntar outros ingredientes, não tem um sabor intenso e característico do pescado”, pelo que, muitas vezes, as crianças provam e não conseguem identificar que se trata de peixe.
Aluna de São Brás de Alportel conquistou o terceiro lugar do concurso
Aluna do curso profissional de cozinha e pastelaria, da Escola Secundária José Belchior Viegas, em São Brás de Alportel (Faro), Adriana Ramos, 16 anos, conquistou o terceiro lugar do concurso, com uma receita de hambúrguer de cavala confeccionada com produtos da região do Algarve, como o figo e o mel.
“As crianças ficam surpreendidas, porque não estão mesmo à espera que seja um hambúrguer de peixe”, relatou a aluna.
A mostra de hambúrgueres de cavala contou com a presença de alguns empresários da restauração da zona de Lisboa, desafiados a provar e a opinar sobre se é um produto viável para introduzir no mercado.
Rui Gaspar, empresário do grupo Sea Me, que tem dois estabelecimentos de restauração em Lisboa, considerou que “o hambúrguer de cavala tem, de certeza absoluta, caminho para ser feito dentro do mercado da restauração”.
Nos restaurantes do grupo já existem hambúrgueres à base de pescado, como por exemplo salmão e choco, camarão ou bacalhau e grelos, e que “têm sido um êxito”, defendeu o empresário.
Segundo a directora comercial da Doca Pesca, Portos e Lotas, a cavala é “uma espécie muito abundante na costa portuguesa, muito rica do ponto de vista nutricional, especialmente em óleos gordos como ómega 3, mas pouco valorizada”.
O preço da cavala em lota é “muito baixo”, oscilando nos 30 cêntimos por quilograma, pelo que “qualquer incremento nesse preço, no ponto de vista da valorização, representaria muito para a frota de pesca portuguesa”, defendeu.
Em 2012, a Docapesca, Portos e Lotas lançou uma campanha para promoção da cavala, desafiando chefes de cozinha a utilizarem este produto nos menus de restaurantes.
“Actualmente, temos a cavala a ser utilizada no sushi como uma alternativa a outras espécies importadas”, relatou.
Resultado da campanha, “houve um aumento de vendas em lota de cerca de dois milhões de euros”, que se deve à maior procura pelo produto, “um maior volume de pescado a ser comercializado, o que já é um bom sinal”, considerou.
(Agência Lusa)