Não se sabe exatamente o que aconteceu nos dois primeiros anos, pois os registos oficiais começaram apenas em 1932. As primeiras músicas do rancho foram a “Tia Anica” e a “Alma Algarvia”. Após a morte de Serafim Rodrigues, surge como ensaiador Henrique Bernardo Ramos. O grupo ressentiu-se com a perda de Carmona, mas não desistiu. Começou a ensaiar com mais regularidade e apostou no aumento do número de músicas e coreografias.
Em 1951, o grupo fez uma paragem. A garra fez o grupo ressurgir um ano depois, com o nome Grupo Folclórico e de Variedades de Faro. Henrique Bernardo Ramos regressa à liderança, que fez a sua primeira apresentação à cidade, num espetáculo que contou com folclore e fado. Os anos seguintes não foram fácies. O grupo passava por uma crise de elementos. Eram apenas cinco masculinos e dois femininos. Já com o nome Grupo Folclórico de Faro, a coletividade fundiu-se com o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Conceição de Faro, que estava nos seus primeiros anos de vida. O grupo parecia agora ter encontrado estabilidade e, já com mais elementos, participou no espetáculo do Coliseu dos Recreios, a favor da Santa Casa da Misericórdia, em Lisboa.
Em 1959, Mário da Encarnação, responsável pelo grupo de Conceição de Faro, faz uma compilação das danças, cantares e coreografias do rancho, que constituiu o primeiro trabalho de cariz etnográfico e folclórico dedicado à região algarvia. Porém, em 1963 a alegria e felicidade cessavam com discordâncias entre os dois grupos, o que levou novamente à sua separação.
A década do turismo e alteração das músicas e trajes
A década de 60 foi um marco muito importante para os grupos de rancho. O turismo começara a crescer no Algarve e o folclore tornou-se a grande atração dos visitantes. Amabélio Pereira tem 53 anos e é o atual vice-presidente do grupo. É o braço direito de Helena Franco, presidente. Para ele, o grupo “é uma segunda família”. O representante do grupo recorda estes tempos como “a febre do turismo”.
Amabélio Pereira admite que “houve uma deturpação do que eram as danças tradicionais” e “aceleram as músicas e as saias começaram a subir e a ganhar cores mais exageradas”. O turista começou a ser o foco principal dos ranchos, o que para o atual vice-presidente “foi bom porque surgiram mais grupos”. Começou a dar-se aos visitantes do nosso país o que eles queriam ver e o que atraía: “cor, alegria e movimento”. O lado mais negativo desta aposta no folclore, foi a perda do “rigor etnográfico”.
Amabelio Pereira lembra o grupo de São Bartolomeu de Messines como uma peça fundamental para a recolha das verdadeiras tradições algarvias, com a aposta em danças e trajes mais adequados à realidade que se viveu anteriormente.
Amabélio Pereira começou a dançar aos 16 anos. Apesar de ter estudado em Lisboa, o braço direito de Helena Franco tentava comparecer nas atuações. Pode dizer-se que a sua vida toda foi passada no palco do Grupo Folclórico de Faro. O seu casamento aconteceu precisamente com o grupo, que estava trajado, assim como os noivos. Foi uma cerimónia marcada pelo amor mas também pela tradição e o sonho deste homem. Atualmente, os seus filhos também frequentam o grupo.
A dimensão do grupo e os apoios
É difícil dizer um número exato acerca de quantos elementos formam o grupo. Amabélio Pereira diz que “vamos sempre somando e nunca perdendo”, pois há alturas em que algumas pessoas estão mais afastadas e noutras acabam por estar mais presentes. Ao longo dos anos, o Rancho Folclórico de Faro acolhe homens e mulheres das mais diversas idades, que permitiram ao grupo ir aumentando a sua extensão e também criar “sub- -grupos”.
Atualmente, o grupo de Faro tem o Grupo Folclórico Infantil, que dá oportunidade aos mais novos de dançarem. Já o Cancioneiro do Grupo Folclórico de Faro é composto pelo mesmo número de elementos, sendo alguns do grupo principal também. Por fim, a Escola de Acordeão dá oportunidade aos alunos de aprenderem a tocar o instrumento principal para as músicas de folclore.
O Grupo Folclórico de Faro já viajou por diversos pontos de mundo. Alguns dos destinos do rancho algarvio foram Marrocos (1986), Itália (1995 e 1998) e Estados Unidos da América (2010). As viagens levam as tradições de Portugal para o mundo e deixam os elementos muito orgulhos pelo trabalho que desenvolvem. Na sequência desta troca de tradições e costumes, o Grupo Folclórico de Faro orgulha-se de organizar o FOLKFARO, o maior festival internacional do sul. É certificado pelo Conselho Internacional das Organizações de Festivais de Folclore – CIOFF e nasceu em 2003. Rapidamente se tornou um sucesso junto da população, por mostrar todos os anos grupos oriundos de sete países diferentes, numa festa que dura nove dias. Amabélio Pereira admite as dificuldades e trabalho na organização deste evento, mas diz com orgulho que “compensa o esforço”.
O FOLKFARO atrai turistas e curiosos de todos os cantos do mundo, sendo um evento muito importante para a região algarvia. O esforço mobilizado resulta num festival visitado todos os anos por cerca de 15 mil pessoas por ano. Um grande passo, que melhorou a organização do FOLKFARO foi a sede do grupo, que nasceu há apenas dois anos. Amabélio o Pereira reconhece que “sem ela seria impossível guardar os materiais”.
Muitas vezes, os apoios são poucos para os grupos, mas o Rancho Folclórico de Faro orgulha-se de ter “conquistado o respeito das instituições” e de ter o apoio do Município de Faro, Direção Regional da Cultura, o INATEL e a União de Freguesias de Faro. Sem estes apoios seria impossível continuar a atividade do grupo.
Prestes a comemorar 90 anos, o grupo mais antigo do Algarve continua com o mesmo fôlego a dançar. Com passos mais rápidos ou mais lentos, o baile segue pelo país e pelo mundo.