A cantora Gal Costa, uma das maiores vozes da música popular brasileira, morreu esta quarta-feira aos 77 anos, confirmou a assessoria de comunicação da artista ao jornal Folha de S. Paulo e a outros meios brasileiros.
A causa de morte ainda não foi revelada, mas a cantora estava a recuperar de um procedimento cirúrgico e tinha saído dos palcos até ao final de novembro, seguindo recomendações médicas.
Gal Costa era uma das atrações do festival Primavera Sound, que aconteceu em São Paulo no último fim de semana, mas teve sua participação cancelada à última hora.
A cantora brasileira também tinha na agenda dois concertos em Portugal, marcados para novembro, em Lisboa e no Porto, que tinham sido adiados para o próximo ano devido à cirurgia que realizou.
Nascida em 26 de setembro de 1945, na cidade de Salvador, Maria das Graças Penna Burgos, que era chamada de Gracinha pelos amigos até adotar o nome artístico Gal Costa, destacou-se ainda muito jovem pela voz de ‘cristal’ inconfundível.
Fã de João Gilberto, que conheceu no final dos anos de 1960 e que a classificou como a “maior voz do Brasil”, Gal Costa foi um dos maiores expoentes do movimento tropicalista brasileiro, ao qual também pertencem grandes símbolos da cultura musical brasileira como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia de quem se aproximou ainda na adolescência.
Com pouco mais de 20 anos, participou no álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, um disco lançado por ela junto com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé, considerado a pedra fundamental do movimento tropicalista.
Em 1971, tornou-se a estrela de um dos espetáculos de maior repercussão da história da Música Popular Brasileira (MPB) chamado “Fa-Tal”, que viraria também um dos seus discos mais importantes.
Ao lado de Caetano, Gilberto Gil e Maria Bethânia a cantora formou o grupo Doces Bárbaros, também responsável por um dos discos mais emblemáticos da Música Popular Brasileira (MPB), lançado em 1976.
Com 57 anos de carreira, a cantora brasileira interpretou sucessos inesquecíveis como as canções “Baby”, “Meu nome é Gal”, “Chuva de prata”, “Vapor barato”, ” Pérola negra”, “Barato total” e a “Modinha para Gabriela”, que marcou a banda sonora da primeira telenovela brasileira estreada em Portugal, na RTP, em 1977.
Além do imenso talento, Gal Costa tinha uma personalidade ousada e ficou conhecida por quebrar tabus ao longo de sua vida.
Em 1973 realizou um ensaio fotográfico com o peito nu, para a contracapa do seu sexto LP, “Índia”, causando grande polémica. Na época, os artistas do Brasil sofriam com a severa censura imposta pelo regime da Ditadura Militar (1964-1985).
Num país amordaçado pelos militares, Gal Costa usou a sua voz para quebrar tabus enquanto os seus parceiros Gilberto Gil e Caetano Veloso estavam no exílio.
Sua coragem foi celebrada e censurada, mas ela conseguiu iluminar o Brasil com apresentações contundentes ao som de seu violão.
Vencedora do Grammy Latino em 2011 por seu trabalho como um todo, Gal Costa dialogou com diferentes correntes ao longo de sua carreira, da Bossa Nova ao samba, passando pelo rock.
Aos 70 anos, celebrando 50 anos de carreira, em 2015, Gal Costa se reinventou novamente lançando o álbum “Estratosférica”, que trouxe uma leveza jovial ao seu trabalho musical cheio de parcerias com jovens compositores como Marcelo Camelo, Mallu Magalhães, Criolo, Céu e Jonas Sá.
Nas suas últimas apresentações, Gal Costa apresentava “As várias pontas de uma estrela”, um projeto de 2016, que consistiu num espetáculo e disco, dirigido por Marcus Preto, a partir da obra de Milton Nascimento.
Além de fazer uma conexão com o trabalho de Milton Nascimento, que completou 80 anos em 2022, o último trabalho de Gal Costa também tinha composições de Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque e Dorival Caymmi.
Em 2020, em plena pandemia, Gal Costa gravou um dueto com o português António Zambujo, que marcou também as comemorações do Dia de Portugal, no Brasil.
Nesse ano, a cantora programava um digressão em Portugal, que acabou cancelada, por causa da covid, e que previa passar por salas de concerto como o Teatro das Figuras, em Faro, o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e a Casa da Música, no Porto, para apresentar o seu álbum “A Pele do Futuro”. A
Antes, numa carreira que teve sempre em conta palcos portugueses, Gal Costa atuara em Lisboa e Porto em março de 2018, com Gilberto Gil e Nando Reis, no âmbito do projeto “Trinca de Ases”, criado em homenagem ao advogado Ulysses Guimarães (1916-1992), opositor à ditadura militar no Brasil.
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