Um curto-circuito numa ligação elétrica improvisada poderá ter estado na origem do incêndio que começou no sítio do Tojeiro, em Monchique, na tarde do passado sábado. As chamas alastraram-se depois para Portimão e consumiram mais de 2.100 hectares, dos quais mais de dois terços no concelho de Portimão.
A investigação está a cargo da Polícia Judicíaria (PJ). As autoridades acreditam que o fogo terá começado junto a um anexo que funcionava com cozinha duma comunidade hippie. O local é dinamizado por uma associação cultural e artística, situada na serra de Monchique, com preocupações de sustentabilidade ambiental. O espaço é igualmente conhecido por ser onde são feitas festas que atraem sobretudo estrangeiros que dormem em tendas e autocaravanas.
O incêndio rural começou na tarde de sábado em Monchique e rapidamente passou para o concelho de Portimão, tendo sido dominado e depois extinto no domingo.
O balanço aponta para mais de 2100 hectares (ha) ardidos: 656 ha no concelho de Monchique e 1.478 ha de Portimão.
Logo no domingo, o dia seguinte ao incêndio, o Governo anunciou que os agricultores que sofreram prejuízos no âmbito do incêndio que atingiu os concelhos de Monchique e de Portimão já podiam reportá-los à Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAP Algarve). De acordo com uma nota do Ministério da Agricultura, a DRAP Algarve “fará o levantamento exaustivo das perdas, de modo a avaliar-se a possibilidade de acionar eventuais apoios”.
Para tal, os agricultores afetados podiam já reportar os prejuízos através da página de Internet da DRAP Algarve, ou, em alternativa, podiam fazê-lo nas instalações da entidade, a partir da passada segunda-feira.
Toneladas de madeira queimada aguardam ser retiradas do terreno
O comandante de operações no terreno, Rui Lopes, temeu pelo pior devido ao vento e à orografia do terreno. Rapidamente, as chamas invadiram a zona florestal em redor, principalmente eucaliptos e mato. Questionado sobre as preocupações para este verão, o comandante dos Bombeiros de Monchique reconheceu que as dezenas de toneladas de madeira queimada ainda no terreno resultantes do incêndio de 2018 “não deixam de ser” uma preocupação, mas referiu tratar-se de “mais uma condicionante” à qual se procurará “dar reposta caso aconteça mais alguma situação” de fogo.
Das trinta mil toneladas de madeira queimada na sequência do grande incêndio de 2018 em Monchique, cinco mil toneladas de madeira já cortadas e empilhadas ao longo de várias estradas da serra começaram, na véspera do incêndio, do passado sábado, a ser transportadas para a fábrica de produção de biomassa em Huelva, Espanha, num transporte financiado pela Câmara de Monchique.
As restantes toneladas aguardam a efetivação de um protocolo com o Governo para serem cortadas e retiradas do terreno, segundo o presidente da câmara. Rui André revelou que a autarquia decidiu avançar com os 45 mil euros necessários para transportar a madeira queimada já recolhida para uma fábrica em Espanha porque o preço de compra deixou de cobrir os custos da operação, mas não tem capacidade para custear a totalidade da recolha.
Para o presidente da Aspaflobal, Nuno Fidalgo, a não retirada da madeira queimada, somada à “falta de gestão” do território, nomeadamente a seleção de varas que brotam do eucaliptos queimados, cria uma “continuidade horizontal dos combustíveis” numa velocidade de propagação “bem superior” caso haja um incêndio.
“O que a associação de produtores florestais, os empresários e a câmara querem é quebrar esse ciclo, retirar essa madeira queimada e o excesso de varas que existem, e criar uma nova rotação com um crescimento mais ordenado e com menos riscos”, afirmou à Lusa o engenheiro de recursos florestais.
Incêndio de 2018 demorou uma semana a dominar
Monchique ainda guarda memória do grande incêndio de 2018 que queimou quase 30 mil hectares de floresta.
Dezenas de pessoas foram obrigadas a deixar para trás tudo o que tinham. O fogo, que destruiu casas e terrenos agrícolas, demorou uma semana a dominar.
De acordo com o relatório do Observatório Técnico Independente entregue no Parlamento, uma linha elétrica terá sido a principal causa do fogo. Este foi considerado o maior incêndio da Europa daquele verão. Três anos depois, ainda há casas por reconstruir.