O artista Fernando Silva Grade vai lançar, na sexta-feira, “O Algarve tal como o destruímos”, livro que espera “aglutinar” vozes contra um processo em que “a troco de dinheiro se vendeu a alma do Algarve”.
O livro pretende contrariar “o discurso oficial” de o Algarve ser “uma história de sucesso, de divisas, de turismo”, disse à Lusa Silva Grade, contrapondo a essa ideia “uma história muito triste de aniquilamento de um território com a sua cultura, com a sua paisagem e com a sua beleza natural” através do turismo de massas e da construção.
O lançamento do livro, que reúne textos publicados no blogue “A Defesa de Faro” e originais, vai ser feito às 22 horas, no primeiro dia da Feira do Livro de Faro.
“O Algarve, em função da sua concentração impressionante de património natural, de belezas naturais, é uma região aristocrática, nobre e, portanto, as actividades que deveriam constar no processo de desenvolvimento do Algarve tinham que ser actividades que fossem ao encontro dessa sua vocação. O turismo de massas não é, sem dúvida, um turismo adequado para esta região”, afirmou o artista plástico, que sugeriu um turismo virado para o ambiente e para a cultura.
Artista diz que a sua geração é uma geração traumatizada
Na contracapa do livro pode ler-se que “em 2006, ainda Faro e o Algarve viviam em função de duas dinâmicas, que se prolongavam desde fins dos anos 1970 do século passado: o turismo de massas e a construção civil”, sem que ninguém pusesse “em causa estas duas vacas sagradas, designadamente a população em geral e a totalidade dos autarcas”.
Fernando Silva Grade, perto de fazer 60 anos, constata que a sua geração é uma “geração traumatizada”, por ter visto aquilo que foi o Algarve antes e o que é agora, dando o exemplo da Lagoa dos Salgados, um “habitat excepcional que corre o risco de ser soterrado por mais betão”.
“Isto começou paulatinamente nos anos 1960, mas nessa altura ainda era objectivo das entidades promover no Algarve um turismo de qualidade. Só que depois, (…) com as leis em que permitiam ou que faziam com que as câmaras ganhassem dinheiro a partir da construção começa o descalabro total”, lamentou Silva Grade.
Inicialmente formado em biologia, Fernando Silva Grade dá ainda o exemplo da típica casa branca algarvia, “hoje em dia praticamente extinta”, mas com “uma mais-valia estética evidente”.
(Agência Lusa)