Um final feliz em tempos de pandemia. Nalini Ribeiro e Ana Gomes não se conhecem fisicamente, mas juntas já ajudaram centenas de profissionais de saúde, com a doação de fatos de proteção para combater a pandemia do novo coronavírus.
Vamos ao início desta história. Ana Gomes é gestora financeira da empresa “Rosa Fardas”, que pertence à sua mãe de 83 anos. Esta empresa é responsável pelo abastecimento de vários hotéis na região algarvia, produzindo diversas peças de costura para eles. Como qualquer negócio, o futuro da “Rosa Fardas” ficou incerto com a pandemia e Ana Gomes revela que “pensámos fechar portas”. Os tempos eram nebulosos e afetavam a equipa que, por um momento, perdeu a esperança.
Contudo, Ana Gomes, de 58 anos, arregaçou as mangas e começou a produzir batas e pijamas para os Hospitais de Faro e Portimão, a pedido destes. O projeto cresceu e avançou depois para a confeção do kit de proteção Covid-19, que para além de respeitar todas as normas (teci- do TNT descartável) foi analisado e aprovado por uma equipa médica
da linha da frente, do Hospital de Faro. Para a gestora financeira, esta foi “uma aposta incerta, pois não sabíamos se o investimento iria ter retorno”. A “Rosa Fardas” estava a oferecer a mão de obra neste projeto, que era feito com o coração e não tinha como objetivo ganhar dinheiro.
É aqui que entra Nalini Ribeiro. Aos 51 anos de idade, é professora no Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira em Faro, a terminar o Mestrado na área das Emoções, em Espanha. Nalini Ribeiro começou “a acompanhar a página da ‘Rosa Fardas’” e a gostar do trabalho que esta estava a desenvolver. Depois disso, decidiu fazer um donativo para ajudar a empresa de Ana Gomes a produzir mais materiais. A vontade de ajudar aumentou ainda mais e Nalini Ribeiro confessa que “uma noite deitei-me a pensar que tinha de ter uma ideia que me permitisse ajudar pessoas sem sair de casa!”.
Foi este pensamento que impulsionou Nalini Ribeiro a criar o grupo de Facebook “1000 Fatos, 1000 Abraços” e convidar cerca de 20 amigas a fazer uma doação para ajudar na produção de 1000 fatos, que iriam ser entregues aos profissionais de saúde que estão na linha da frente no combate à covid-19. A surpresa chegou no dia seguinte: o grupo tinha exatamente 1012 pessoas, interessadas em ajudar. O crescimento exponencial da página em 24 horas, fez com que Nalini Ribeiro percebesse que a sua ideia havia inspirado pessoas que, como ela, também queriam ajudar e não sabiam como, neste tempo de pandemia.
Daí em diante, Ana e Nalini formaram uma equipa. Uma equipa que nunca teve contacto físico, que nunca tomou um café ou falou de uma possível parceria. “Aconteceu tudo naturalmente”, dizem. Começaram a trocar mensagens em privado e ajustar a tarefa que cada uma iria desempenhar. O grupo já tem cerca de um mês e conta com cinco mil membros. Em termos de doações, já são mais de sete mil euros e centenas de fatos que já chegaram aos Hospitais de Faro e Portimão.
Entrar nesta “rede de solidariedade” é fácil. Basta entrar no grupo, procurar o número de IBAN e fazer a doação. Qualquer valor é significante. Qualquer ajuda é necessária. Todos aqui são importantes, as costureiras da “Rosa Fardas” que são a peça fundamental, as voluntárias que se juntaram para costurar, os membros que através de mensagens de texto, donativos e ou divulgação apoiam o grupo e as empresas: Gascan, Sa, O&G associados, copromotores da Alameda Beer Fest, Restaurante 8 Tapas, Restaurante Dois Irmãos e PRATUS.COME que se juntaram à causa.
Ana Gomes e Nalini Ribeiro dizem receber muito mais do que dão com esta iniciativa. O apoio, as mensagens e o resultado do projeto são muito gratificantes. O grupo “1000 Fatos, 1000 Abraços” está repleto de comentários positivos, gratidão, solidariedade e boa energia, de pessoas que se juntam para ajudar e que confiam nas mãos destas mulheres o seu dinheiro. Ana Gomes revela que “é um processo transparente. Faço vídeos e mostro o trabalho que estamos a desenvolver”. Enquanto as doações chegarem, “os hospitais ficam com o seu dinheiro e o grupo assegura as despesas”, diz a gestora da “Rosa Fardas”.
Neste momento, o grupo continua a crescer e as encomendas a chegar. Os dentistas já estão a aparecer na “equação”, pois também terão de utilizar material de proteção. Recentemente, também os Bombeiros Voluntários do Algarve pediram ajuda para a aquisição de batas. O projeto ainda está a ser estudado, mas Ana Gomes e Nalini Ribeiro prometeram não voltar as costas a estes homens e mulheres que transportam doentes. Todos são bem-vindos a participar e a praticar o bem na região algarvia.
Num momento em que tanto ouvimos falar de números, fixe este: cinco mil pessoas participam num grupo solidário que angariou mais de sete mil euros para a realização de fatos para profissionais de saúde.