A pandemia está a deixar marcas no mundo. Todos os eventos foram cancelados ou reagendados, deixando a amargura no peito de quem esperava há muito para celebrá-los. Os estudantes foram todos para casa, deixando para trás o convívio diário na Universidade, as noites de quinta-feira e os eventos que estavam agendados, como o Traçar das Capas, a Bênção das Pastas e a Semana Académica.
São momentos de perda para todos, que, em casa, não deixaram de se manifestar. Centenas de alunos do primeiro ano que foram praxados iriam agora ver a sua abençoada pelos padrinhos, que tinham também a oportunidade única de batizar com cerveja o percurso académico dos caloiros. Acompanhado deste momento, a habitual Serenata que enche de orgulho qualquer estudante com espírito académico.
Os estudantes uniram-se e no dia 30 de abril, quinta-feira, a AAUlg lançou o desafio “Hoje seria… dia de vestir o traje!”, que desafiava os alunos a recordar momentos em que estivessem trajados. A corrente espalhou-se e a rede social Instagram encheu-se de fotos de recordações, marcadas por trajes e amizades, agora feitas à distância, porque a vida assim o obriga. Seria um dia especial, como diz José Santos, finalista do terceiro ano da licenciatura em Gestão: “a impossibilidade de traçar a capa aos meus afilhados e de comemorar o fim da minha vida académica vai deixar-me na memória de que todo o percurso destes três anos não foi consagrado da devida forma e na altura certa”.
Os seus sentimentos são, certamente, compartilhados por muitos alunos da Universidade do Algarve. Mas José Santos não deixa os sentimentos de nostalgia tomar conta dele, pois “o espírito da academia prevalecerá e este cantinho de tradição a sul manterá a força. Até que o último estudante caia, a tradição na UAlg permanece acesa. Não é altura de festejar, mas sim de nos contermos para festejarmos o dobro numa próxima oportunidade”.
Caloiros e finalistas perderam a oportunidade de comemorar momentos especiais e o Traçar das Capas deverá ser reagendado. Outro momento encheu também de mágoa e tristeza os finalistas. No dia 2 de maio, o estádio de S. Luís iria encher as suas bancadas de pais, familiares e amigos orgulhos, que estariam ali, debaixo do calor, a apoiar quem mais amam. A Bênção das Pastas também foi cancelada e, com ela, a oportunidade de vários estudantes levantarem orgulhosamente a sua mão e mostrarem a todos que completaram com sucesso mais uma etapa da sua vida. Para Inês Palminha, finalista da licenciatura de Educação Social, neste dia “pretendíamos celebrar as nossas vitórias, conquistas, dissabores, aprendizagens, amizades e tudo aquilo que integrou o nosso percurso académico”. A não celebração deste momento “foi como sentir um vazio no peito”.
A estudante de Educação Social fez, em pensamentos, a retrospectiva de um dos dias em que depositava maior ânsia de viver: “esperava viver este dia com toda a intensidade e toda a caloricidade que o momento transmite, juntamente com os meus amigos e família. Acima de tudo, junto dos meus colegas de turma que me ensinaram muito e desempenharam um papel fundamental no meu crescimento. Com eles aprendi a ser melhor, e sei que este dia seria o resultado de tudo aquilo que vivemos juntos”.
Quando tudo terminar, a festa estará garantida
Este momento de celebração de fim de curso não é novidade para outro estudante, Rodrigo Raziel, que está a terminar algumas unidades curriculares na licenciatura de Ciências Biomédicas, mas que já levantou com orgulho a sua pasta. Rodrigo sempre esteve envolvido nas praxes académicas e nos momentos onde se “respira” espírito académico. Sobre a Bênção das Pastas, diz que “é um dia de despedidas, de vitórias, de inícios e de fins… acima de tudo é um dia de transição, e como tal, um dia marcante e inesquecível na vida de todos os alunos. Tanto para a Bênção quanto para o traçar, o sentimento é o mesmo, é triste, injusto e doloroso”. Foi esta a mensagem que passou a todos os que não puderam comemorar este dia. O estudante da Faculdade de Ciências de Tecnologias ressume o dia como “mais do que abanar as pastas”. Contudo, era inevitável que a cerimónia fosse cancelada e, neste momento, resta esperar por novas datas.
Na linha de comemorações académicas chegava agora o tempo de celebrar a Semana Académica. A viagem ao “país das maravilha”, onde todos os cursos estavam empenhados em construir a sua barraca, ouvir os concertos e viver a melhor semana com os seus amigos. Os alunos que fazem a barraca, por norma do segundo ano dos cursos (apesar de existirem exceções), sentem que o trabalho para angariar dinheiro foi em vão.
Todas as semanas, eles estavam em vários bares farenses a angariar dinheiro para colocar de pé uma barraca que teria o nome do seu curso em letras bem grandes. Beatriz Bailote é aluna do segundo ano da licenciatura de Ciências de Comunicação e iria estar na Semana Académica. A aluna refere que “lutámos para que esta semana acontecesse e um vírus roubou-nos a oportunidade”. E a verdade é que este momento não se deve repetir e, tal como centenas de alunos que iriam participar neste momento, Beatriz confessa que “vou sempre sentir que me vai faltar uma peça do puzzle no fim do meu curso”.
Todos os estudantes saíram a perder com o vírus e, certamente, a todos faltará uma “peça” no seu “puzzle académico”. O mundo luta contra a pandemia e, a todos nós, roubou algo. O mais importante, é que este momento nos trará lições, que vão ficar para a vida. E como na vida também se aprende, os estudantes vão lembrar-se para sempre deste momento. Quando tudo terminar, a festa estará garantida.