A falta de incentivos a pequenos agricultores, de discriminação positiva para o interior ou a imposição de investimentos mínimos para obter financiamento comunitário são dificuldades que as confederações do sector agrícola apontaram ao Programa de Desenvolvimento Rural 2020.
Ao participarem ontem numa audição parlamentar organizada pelo Partido Socialista (PS) em Tavira, os dirigentes das principais confederações portuguesas do sector agrícola consideraram que a agricultura tem vindo a melhorar nos últimos anos, com um aumento do número de jovens agricultores, mas frisaram que é necessário também alguma “moderação” quando se fala do sucesso que o sector tem representado para a economia nacional.
Entre os oradores que participaram na iniciativa do PS, a quinta que o partido realiza no Algarve para obter contributos dos diversos sectores económicos para a sua acção partidária, esteve Firmino Cordeiro, da Associação de Jovens Agricultores Portugueses (AJAP), que criticou a obrigatoriedade de haver investimentos mínimos para conseguir financiamento através do PDR.
Há distinção entre jovens agricultores ricos e pobres
Os jovens agricultores têm que “investir 55 mil euros para no máximo receberem um financiamento de 15 mil”, situação que contrasta com o quadro comunitário anterior, no qual o valor do montante poderia ser de 35 mil para um investimento de 75 mil”, por isso Firmino Cordeiro considerou que a “fasquia foi colocada demasiado” alta quando foi gizado do PDR.
“Subiu-se demasiado a fasquia e fez-se uma distinção entre jovens agricultores ricos e jovens agricultores pobres”, lamentou.
A mesma fonte lamentou ainda que o PDR não tenha criado medidas de discriminação positiva para os agricultores que querem instalar-se no interior e “contrariar a desertificação” populacional.
Luís Mira, da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), considerou que o PDR 2020 tem como aspectos positivos ter sido dos primeiros a ser aprovado ao nível europeu, de ter criado uma fase intermédia que permitiu usar recursos para financiar projectos que vinham do quadro anterior, de ter reduzido burocracia ou de se ter colocado mais foco na área agroambiental.
Como problemas identificados está, por exemplo, “a cada vez maior dificuldade em realizar investimentos no regadio”, situação que contrasta com a de Espanha, que vai requalificar 700 mil hectares de regadio.
Aldina Fernandes, da Confederação Nacional de Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Cofagri) apelou a um “optimismo moderado” no sector, que cresceu mas ainda com números “residuais”, apontou a necessidade de haver uma maior formação e deu o exemplo espanhol de fusão de cooperativas para ganhar escala como modelo que pode ser seguido em Portugal.
A iniciativa foi conduzida pelo deputado do PS Miguel Freitas, que destacou a importância dos contributos que o partido tem obtido nestes encontros para a sua acção política no parlamento e para a inclusão de propostas no programa eleitoral do PS.
(Agência Lusa)