Os palcos do Algarve recebem todos os anos dezenas de grandes nomes da música, que permitem que a região os possa ouvir e deliciar-se, mas não é todos os dias que um palco da região se pode orgulhar de apresentar um nome maior da música nacional, do fado em particular, e um dos nomes portugueses de maior prestígio mundial.
O Teatro das Figuras acolhe amanhã, sábado, o grande senhor do fado Carlos do Carmo, num espectáculo que, como refere Joaquim Guerreiro, responsável pela maior sala de espectáculos da capital algarvia, “será um espectáculo intimista e onde decerto terão realce as enormes qualidades de comunicador de Carlos do Carmo e que muito nos orgulha ter no Teatro Municipal.
A sala cheia não espantará pois e é mais do que merecida para aquele que no rescaldo de comemorar 50 anos de carreira é, simplesmente, a voz do fado.
Impressivo e impressionante, dotado de um timbre único e inesquecível, Carlos do Carmo não precisa prometer nada ao público que o aclama há décadas, espectáculo atrás de espectáculo. Basta-lhe ser igual a si mesmo, calmo, ponderado, intenso e reconfortante como é, nas conversas fáceis e soltas com que brinda a assistência por entre os momentos do seu dom maior que é o de cantor.
Um símbolo nacional
Símbolo incontornável de fados que integram o imaginário colectivo da canção nacional, património imaterial da humanidade, em melodias e poemas como Canoas do Tejo, com música e letra de Frederico de Brito; Lisboa Menina e Moça, que juntou Paulo do Carvalho a Ary dos Santos, Joaquim Pessoa e Fernando Tordo; o memorável Estrela da Tarde, de Ary dos Santos com música de Fernando Tordo e o sempre marcante Os Putos, onde desenhou as notas que receberam, uma vez mais, um poema de Ary, Carlos do Carmo é muito mais do que os prémios e integra em vida o património nacional da música.
O reconhecimento internacional último
Mais do que a manifesta importância nacional, ‘a voz’ – porque se não lhe pode chamar coisa diversa – viu recentemente ser-lhe entregue o reconhecimento mais alto a que um cantor latino pode aspirar, ao receber da Latin Recording Academy, o Prémio à Excelência Musical – “Lifetime Achievement”.
Carlos do Carmo é o único português agraciado com um Grammy na categoria “Lifetime Achievment”, e apenas a cantora de ópera Elisabete de Matos, que recebeu um Grammy para Melhor Álbum Clássico, foi até hoje reconhecida pela academia latina.
É esta voz, cuja discografia é imensa, quer pela proficuidade, quer pela qualidade, que subirá ao palco do Teatro das Figuras, para cantar e encantar com temas que vagueiam entre Por Morrer Uma Andorinha e Júlia Florista, passando por Lisboa Oxalá; Novo Fado Alegre e Pontas Soltas.
As guitarras acompanharão, ainda, o fadista em O Que Sobrou de um Queixume; Calçada à Portuguesa e Fado do 112, bem como, nos temas Vou Contigo Coração; Nasceu Assim, Cresceu Assim e Loucura.
Os duetos
Decerto não faltarão os momentos para recordar outros temas insubstituíveis no percurso do fadista de Lisboa, mas Carlos do Carmo vem ao Algarve, também, cantar o seu novo disco Fado é Amor”
Desde sempre enamorado pelo fado, o cantor enamora-se em Fado é Amor de muitas das vozes na nova vaga de fadistas nacional.
As faixas do mais recente trabalho de Carlos do Carmo unem o grande senhor do fado ao ‘filho de lides’ Camané e ao arrepio da voz de Mariza.
A alma masculina do fado canta lado-a-lado com a leve rouquidão de Carminho e a sinceridade vocal de Ana Moura, mas também se cruza com Ricardo Ribeiro, Raquel Tavares, Cristina Branco, Marco Rodrigues, Aldina Duarte e Mafalda Arnauth.
O obreiro maior do fado património da humanidade volta assim a uma das suas facetas, a de mestre e mão amiga de quem se faz à epopeia que é cantar o fado e, uma vez mais, se faz lado-a-lado com as novas vozes ao mar alteroso das emoções feitas música que expurga as dores da alma.
De sorte e destino, de amor e dor, de saudade e paixão se fará o espectáculo de Carlos do Carmo, com a força bruta de quem canta a canção nacional com dotes de mestria sendo, também, nessa medida, a voz de Portugal.