O consumo excessivo de álcool é um problema de saúde pública com impactos profundos a nível físico, mental e social. Os malefícios do álcool são amplamente documentados e afetam milhões de pessoas em todo o mundo, independentemente da idade, género ou condição socioeconómica. Este ex-jogador profissional de futebol sentiu estes malefícios e fala sobre eles abertamente.
Em 2008, Fredy Guarín chegou ao FC Porto com o estatuto de craque. Após dois anos no Saint-Étienne, a sua primeira experiência na Europa, o FC Porto parecia ser o local ideal para explorar o seu potencial e crescer. Ganhou praticamente tudo nos dragões: três Campeonatos, três Taças de Portugal, três Supertaças e até uma Liga Europa. Mais de uma década depois de ter deixado Portugal, a vida de Fredy Guarín não poderia ter dado uma volta maior.
O colombiano transferiu-se do FC Porto para o Inter Milão, onde esteve até 2016. Posteriormente, passou pelos chineses Shanghai Shenhua, pelo Vasco da Gama e pelos colombianos Millonarios, antes de terminar a carreira em 2021. Foi ainda enquanto jogava nos Millonarios que se começou a perceber que Guarín estava a atravessar um período complicado, como escreve o Observador.
Em abril de 2021, há mais de três anos, o antigo internacional colombiano foi detido por alegadamente agredir os pais na casa da família. Os vídeos da altura mostram o jogador visivelmente alterado quando as autoridades chegaram, com sangue nas mãos e nas calças. Chegou a passar algumas horas no hospital antes de ser transportado para a esquadra, para tratar os ferimentos, e foi libertado dias depois.
Agora, Fredy Guarín decidiu confessar-se. Em entrevista à revista colombiana “Semana”, confidenciou que luta contra vários vícios há muitos anos e que está em processo de reabilitação. “Deixei-me distrair, a dada altura, e agarrei-me ao álcool. Cometi muitos erros, tomei más decisões, magoei muitas pessoas, fiz mal aos meus entes queridos e aos meus amigos. O álcool sempre foi o detonador de tudo aquilo que me aconteceu”, começou por dizer o colombiano, que tem agora 37 anos.
“Sou 100% alcoólico, admito. Sou um viciado em recuperação. Fui alcoólico durante muito tempo. E o vício tornou-se muito grave nos anos do Millonarios, cheguei ao ponto mais baixo, já não trabalhava nos treinos, perdi a dignidade, a confiança dos que me eram mais próximos, dos meus três filhos. Perdi muitas coisas a nível sentimental e amoroso”, acrescentou o antigo jogador profissional.
Na mesma entrevista, Guarín reconhece que o álcool foi um dos motivos que levaram ao fim do casamento com a mãe dos seus filhos, momento em que acabou por ser diagnosticado também com uma depressão. “Perdi o meu casamento por causa do álcool, quando bebia tomava decisões erradas. Ela é uma excelente mãe e eu tenho de aceitar, de me perdoar e de lhe desejar o melhor. Que continue a ser a excelente mãe que é. Desejo-lhe o melhor e que um dia também possa perdoar-me”, afirmou, revelando que ainda não conseguiu recuperar a relação com os três filhos.
“Perdi-os, mas eles nunca me perderam. Estavam ali a rezar, a tentar. Os meus estiveram sempre lá para mim, sempre com amor, e isso deixa-me muito feliz. Eu e os meus filhos estamos nesse processo, estou a tentar recuperá-los. Eles estão, por enquanto, no espaço deles”, sublinhou, referindo que perdeu “muitos amigos”, mas deixando palavras de agradecimento aos “verdadeiros”, nomeando Falcao, James Rodríguez, Juan Cuadrado e Javier Zanetti.
Na mesma entrevista, Guarín explicou que só tinha dois medos: a prisão e a morte. “Tenho essa frase tatuada: ‘Medo da prisão e da morte’. Sem saber, já estava a viver numa prisão condenada à morte. E cheguei a ficar perto da morte, no meio deste caminho escuro, porque não lhe tinha respeito. Não tinha limites, não tinha coragem, e deixei-me levar diariamente. Fiquei às portas do inferno. Sei o que isso é e não quero voltar a essa vida, nunca. Não entendia aquilo que arriscava quando estava bêbedo”, concluiu, antes de recordar a altura em que percebeu que precisava de ajuda.
“Cheguei a um ponto em que já não podia continuar assim. Tive de pedir ajuda… E já a tinha, já a tinha pedido várias vezes, mas tinha sempre uma recaída. Tive de me render e pedir ajuda profissional. Estou a trabalhar para resolver as coisas, para recuperar a confiança dos meus filhos, da minha família, dos meus amigos. Desta vez é tudo diferente e este é o momento definitivo. Já sei qual é o caminho de Deus e é ele que me dá forças para ter uma vida sóbria e saudável, para poder dar aos meus filhos todo o amor que lhes tenho”, terminou o ex-jogador profissional.
Leia também: Conheça a cidade do Algarve que foi em tempos o centro do mundo