Em entrevista ao POSTAL, Otília Cardeira, presidente da Junta de Freguesia de Cachopo, no concelho de Tavira, avançou com alguns projetos que estão a ser desenvolvidos, enumerando os eventos que se vão realizar em Cachopo durante o ano de 2020.
A presidente falou ainda sobre vários aspetos que mudaram, na aldeia, nos últimos anos, e avançou com algumas sugestões de melhoramentos que podem ser feitos na freguesia.
Que atividades é que a Junta de Freguesia de Cachopo tem atualmente em curso?
A Junta de Freguesia de Cachopo tinha várias atividades preparadas mas, devido ao surto de Covid-19, muitas delas tiveram de ser adiadas ou canceladas. Tínhamos em março o Trail Solidário, atividade que fazemos todos os anos, esta seria a quinta edição, em parceria com os GIPS, da GNR, o Grupo Cantares e a Junta de Freguesia. Esperávamos 1.000 pessoas, mas tivemos que cancelar pelo bem de todos.
No dia 7 de abril, temos o Dia dos Moinhos, que consiste numa ida aos moinhos, para fazer um lanche na Manta de Retalhos. Penso que as coisas já devem estar mais sossegadas e que já poderemos fazer essa atividade.
Em maio, temos a Feira de Produtos e Artesanato de Cachopo que é organizada pelo Centro Paroquial, com o apoio da Junta de Freguesia.
Depois, no verão, em julho, temos a Noite de Fados no Parque de Lazer da Fonte Férrea.
Temos ainda a festa tradicional que é a Festa do Imigrante e a Festa da Nossa Senhora das Dores, em agosto, no segundo fim de semana. Em setembro, há a Festa de Santo Estevão que é o nosso padroeiro.
Esta é uma organização do Centro Paroquial com o apoio da Junta de Freguesia. Temos ainda para terminar o ano os Botequins da Ti Marcelina, que é uma feira que estava em vias de extinção e que eu consegui recuperar. Neste encontro, há várias exposições, onde se faz café de chocolateira no fogo, bolos, essas coisas tradicionais que desapareceram e que nós estamos a reativar. Esta atividade tem vindo a crescer e esperamos que venha a crescer ainda mais porque é algo diferente.
Em termos de orçamento, quais são as prioridades para este ano?
Eu estou no segundo mandato e já fizemos cerca de uma centena de catacumbas porque Cachopo tem uma população envelhecida. É uma das nossas prioridades poder dar resposta a esta situação porque é uma coisa séria.
Depois, comprámos um trator porque a freguesia é bastante grande e temos muitas estradas secundárias para limpar, por um lado, por causa dos incêndios, para que possa existir uma melhor circulação de meios caso aconteça alguma situação e, por outro, porque as pessoas já têm uma certa idade e dedicam-se à apanha da azeitona e ao cultivo e sem as estradas limpas não conseguem desempenhar essas atividades.
Para o próximo ano temos um projeto, que não sei se vai avançar ou não, no Parque de Lazer da Fonte Férrea, que é uma pequena recuperação.
Pretendemos deixar o espaço com as mesmas características, mas dar um ar diferente. Vamos ainda mudar as casas de banho e as escadas para pessoas com pouca mobilidade, por exemplo. Estamos também a tentar colocar um espaço do cidadão no edifício que nos foi cedido no protocolo com a câmara e que estava sem ser utilizado. Pretendemos igualmente dinamizar algumas atividades com pessoas que podem aprender e ensinar várias atividades que temos aqui em Cachopo.
No ano passado dinamizámos a arte da empreita com uma formadora paga pela junta. Houve muitas pessoas a aprender. Depois, temos o Bordado de Cachopo que é único e as flores de cera, que nós gostaríamos que algumas pessoas viessem ensinar para que esta arte não desapareça.
Que melhoramentos é que têm sido feitos na freguesia?
Temos feito muitos melhoramentos. Nós conseguimos dar uma imagem que não havia quando entrei para a junta. Agora temos uma imagem renovada em termos de limpeza e de pequenos espaços que não existiam. São pequenas coisas, mas que dão à aldeia uma nova vida.
Em termos de eventos, temos trazido muita gente a Cachopo porque, como volto a repetir, temos uma população envelhecida e temos de tentar sempre organizar qualquer coisa que traga cá mais pessoas e que contribua para a economia local.
Os visitantes gostam de usufruir da nossa paisagem, que é bonita, da nossa gastronomia, de tudo aquilo que temos para oferecer. Esse é o nosso objetivo e considero que o temos conseguido atingir.
Como atrair mais população para viver em Cachopo?
Essa é uma pergunta muito difícil. Nos anos em que se derramava muito dinheiro e em que vinha para Portugal muito dinheiro não se criaram, há 20 ou 30 anos, condições para fixar aqui ninguém.
Houve também um projeto para uma fábrica e ninguém conseguiu ir com este tipo de projetos para a frente e não se criaram infraestruturas para fixar aqui ninguém.
Quem se queixa que agora não há, devia ter pensado nisso há 20 ou 30 anos, para ter feito esses investimentos. Os jovens tiveram de se ir embora. Uns foram para um lado, outros para outro. Uns são professores, outros são enfermeiros… Tiveram de ir à procura de sustentabilidade.
Depois temos outro senão. Temos poucos jovens. Durante 6 anos não nasceu aqui ninguém. A escola terminou porque não tinha 10 crianças e agora temos, no total em várias faixas etárias, 12 jovens que vão todos os dias para a escola em Martim Longo.
Temos agora três crianças mais pequenas e nasceu uma há pouco tempo que também se vai registar na freguesia. O nosso problema é não termos aqui muita gente jovem. O que é que podemos criar? Esses poucos que existem podiam ser empreendedores e investir na área do turismo. Temos aqui a Via Algarviana. Até jovens que não são de cá e se quisessem investir podiam fazê-lo, porque esta área do turismo tinha muito para investir.
Nunca existiram tantos apoios como agora. Hoje pode criar-se uma empresa em qualquer sítio, por isso faz-se o convite. Penso que vai haver um retorno de pessoas com mais idade que vêm para um sítio calmo. Já há algumas pessoas a procurar aqui casa. Essa é a minha perspetiva.
Quais são os principais problemas que assolam a aldeia de Cachopo?
A questão do envelhecimento e a questão da água. Há cada vez mais calor e menos água. Cachopo também sofre com essa questão. Nós, na medida do possível, temos respondido e ido levar água às pessoas, em vários montes, mas a água vai acabando nos furos, nos poços e essa é uma necessidade que nem nós nem a Câmara sabemos como resolver porque não há água. Contra a Natureza não há muito a fazer.
Como é que as pessoas mais isoladas se deslocam e têm acesso aos serviços?
A Câmara, em conjunto com a Junta de Freguesia, vai buscar as pessoas às localidades para fazerem as compras, virem ao correio levantar o cheque, entre outras coisas. Nos montes mais próximos do concelho, a Câmara também os vai buscar para irem a Tavira fazer as compras. Essa parte está muito apoiada pela autarquia e por nós também.
Qual é o balanço que faz destes dois mandatos a liderar a Junta de Freguesia de Cachopo?
Eu penso que, pela minha parte, e pela parte do executivo, temos correspondido a todas as necessidades que nos vão pedindo, temos trabalhado arduamente, tanto eu como os meus colegas. Numa freguesia tão grande como esta, primeiro, tem de haver muita disponibilidade, que foi o que eu fiz, disponibilizar-me do meu trabalho porque eu tenho um museu de tecelagem aqui em Cachopo e o Quiosque “O Moinho”.
Desde que cá estou, o museu abriu muito poucas vezes. Já tentei, inclusivamente, formar duas pessoas para ver se ficavam no museu e aprendiam aquela arte, mas ainda não consegui arranjar ninguém. Disponibilizei-me totalmente e os meus colegas também. Acho que temos feito um bom trabalho. Mais não podíamos fazer. Para uma freguesia destas tem de haver muita disponibilidade, uma equipa boa para dar resposta a isto porque senão não faz sentido e ninguém consegue.
Em que áreas é que vão apostar em 2020?
Vamos apostar na área das artes e do turismo para ver se conseguimos trazer mais alguém para aqui porque em termos de infraestruturas com os projetos da câmara que já foram apoiados e já estão em curso, vamos ter condições para qualquer evento ou para qualquer coisa que aqui se faça.
Tivemos o orçamento participativo também e, portanto, da nossa parte é todos os dias responder aos pequenos desafios que nos vão surgindo, que são bastantes. Penso que a aldeia de Cachopo nunca esteve tão bem ao nível das infraestruturas e da imagem. Hoje somos reconhecidos internacionalmente por tudo aquilo que temos feito nestes anos e nós ambicionamos sempre mais.
Se fizermos uma comparação daquilo que era Cachopo há 10 ou 20 anos, o que é que mudou?
Eu acho que mudou tudo. Para já, quando entrou uma mulher, a primeira a ser presidente, existia uma grande expetativa. Eu moro aqui e ouvia as pessoas dizerem: “isto é tudo velhote. Não se pode fazer nada. Não vale a pena fazer nada”.
Nós sempre acreditámos que tínhamos de lutar pelos que estão cá e tentar trazer mais algumas pessoas para cá e é isso que tem vindo a acontecer. A minha localidade chegou a ter 200 pessoas. Quando eu me candidatei tinha 37, agora tem 27 porque são pessoas que vão desaparecendo, mas têm vindo pessoas do litoral comprar casa cá e quase todos os fins de semana estão aí.
A associação de caçadores tem-se movimentado e é com muito orgulho que digo, enquanto presidente e em nome da freguesia, que as pessoas começaram a ver dinâmica. Atualmente, já se fazem dois ou três eventos com 300 pessoas. Na Feiteira criou-se a Festa do Pão, que conta também com 300 pessoas e a tendência é para aumentar. Quando se realizou a festa da Feiteira, os moradores pintaram, limparam quintais, entre outras coisas. O envolvimento das pessoas nestas atividades é o mais importante. É muito importante trazemos as pessoas às raízes e promovermos o convívio. Nós só pagamos a animação e o resto os moradores é que fazem.
Quando cá cheguei existiam apenas duas festas: a festa do verão e a festa da junta e mais nada. A noite de fados é a mesma coisa. Trazemos fadistas, dinamizamos o espaço, trazemos 300 e tal pessoas.
Na Mealha fizemos uma festa organizada pelos moradores e nós só pagámos o acordeonista. O importante disto é o envolvimento das pessoas. Eu tenho pena de não ver mais gente com esta visão porque quando uma oposição nos diz que nós só fazemos festas, fica difícil.
Nós estamos tranquilos porque sabemos que o que estamos a fazer é para o bem da freguesia, contribui para a economia, para a imagem da aldeia e para o bem-estar de todos. No fundo, estamos a cumprir com a dieta mediterrânica, com os convívios saudáveis com as pessoas, com os comeres que se faziam antigamente como, por exemplo, o pão no forno. Antes de estar na junta, eu já fazia metade deste trabalho, pois dinamizava várias atividades que se faziam aqui, desde carnavais, festivais de folclore, etc. A minha consciência está tranquila, pois não podia fazer mais.
Tenho estado cá sempre e para se fazer alguma coisa tem de haver disponibilidade. Uma freguesia como esta podem pensar, venha quem vier, se não existir disponibilidade, vontade e gosto de fazer as coisas, não se passa da cepa torta.
Quais são as principais potencialidades da Serra do Caldeirão?
Temos uma paisagem que ainda está intacta. Depois temos bons produtos, bom mel, boa aguardente. As pessoas semeiam as suas coisas e grande parte delas são biológicas. Temos esta tranquilidade toda. Estão reunidas as condições para quem quiser investir e ler este jornal, o possa fazer aqui em Cachopo porque realmente tem muito potencial.
Poema sobre Cachopo
É assim a nova história
Desde o tempo dos Romanos
Foram honras e glórias
Que marcaram estes anos
Uma paisagem bonita
Com alguma vegetação
Os pinheirais e sobreirais
Alguns moinhos de vento
Que faziam a farinha
Para depois fazer o pão
Santo Estevão padroeiro
Venerando noite e dia
Somos um povo hospitaleiro
Onde reina a alegria
Neste ano de 2002
Vivemos nosso brasão
Para orgulho de todos nós
Fizemos-lhe esta canção
Linda serra de Cachopo
Toda cheia de ar puro
Parece o sol a nascer
Quando o trigo está maduro
A sede de freguesia
Composta por os seus montes
Água muito cristalina
Comendo nas suas fontes
Terra de muitos sabores
E também de muita caça
Defendendo os seus valores
A cada dia que passa
(Otília Cardeira)