Em entrevista ao POSTAL, João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), avança com algumas medidas que estão a ser tomadas no setor turístico de modo a melhorar o posicionamento da região.
O responsável fala ainda sobre as principais atividades que estão a ser desenvolvidas. João Fernandes avança também com os projetos futuros que a RTA pretende implementar.
O Algarve é uma zona turística por excelência. Nota-se um declínio no número de visitantes relativamente a anos anteriores?
O Algarve é há 40 anos, sem interrupção, o destino turístico nacional com maior número de dormidas de estrangeiros e residentes. A tradição do turismo conta com décadas e, de ano para ano, os resultados obtidos reforçam a região como um dos destinos preferidos para férias. Os mais recentes dados do INE dão conta, exatamente, deste desempenho positivo. Note-se que no primeiro semestre de 2019 continuámos a crescer, registando um aumento de 7,9% nos proveitos totais (que atingiram os 4312 milhões de euros), de 9,3% no número de hóspedes (com um total de 2,17 milhões hóspedes) e de 3,3% nas dormidas (com um total de 8,62 milhões dormidas). Estes são resultados conseguidos após um forte crescimento resultante de desvios de fluxos de outras paragens do Mediterrâneo devido a fenómenos de insegurança.
O que é que os turistas mais procuram atualmente quando se trata da escolha do local de férias?
Os turistas atuais não procuram apenas um “produto”. Procuram experiências e vivências que lhes permitam contactar com o que o destino tem de melhor e mais característico.
Procuram hospitalidade, qualidade e atenção no atendimento. Procuram
contacto com as histórias e as pessoas que fazem o destino ser como é. Procuram segurança. E o Algarve tem, certamente, tudo isto.
Temos de ser agentes ativos em matéria de investimento
Como potenciar a região e captar mais investimento?
O foco deve residir na captação do que é estratégico. Temos de ser agentes ativos em matéria de investimento, através da atuação do nosso Gabinete de Apoio ao Investidor. Falo de um investimento que nos ajude a requalificar a oferta e que traga inovação nos produtos e nos serviços, conduzindo-nos a uma desejada sustentabilidade. A sustentabilidade (económica, social e ambiental) é, aliás, uma das premissas para o desenvolvimento da região. Partindo deste pressuposto, a RTA – com o apoio do Turismo de Portugal e em parceria com a CCDR Algarve e a Universidade do Algarve (UAlg) – lançou, no início deste ano, o Observatório para o Turismo Sustentável. Com esta ferramenta a RTA irá estudar, analisar e monitorizar o desempenho turístico do destino e obter ainda mais conhecimento específico e detalhado sobre a região, para ter como base de apoio ao desenvolvimento e a competitividade turística, assegurando a preservação e a valorização da identidade, património e valores locais, enquanto ativos estratégicos. De sublinhar que trabalhar um destino que tem já uma grande maturidade torna-se especialmente desafiante, uma vez que são maiores as exigências ao nível da inovação. Mas para tal foi muito importante a captação da verba de 30 milhões de euros de uma linha de financiamento para a qualificação da oferta, atribuída pela secretaria de Estado do Turismo, que vem permitira execução de projetos de diversificação turística do Algarve.
Que medidas estão a ser tomadas no setor turístico de modo a melhorar o posicionamento e notoriedade do Algarve?
Em primeiro lugar, destacamos o forte empenho de todos os players do setor, seja entidades públicas ou operadores privados, na criação de um destino que prima pela qualidade e que se quer posicionar, cada vez mais, como único, sem que o sucesso do seu desempenho esteja diretamente dependente de estratégias agressivas de pricing. De facto, juntos (públicos e privados) temos vindo a pôr em prática uma estratégia que, grosso modo, segue duas vias: a diversificação da oferta turística, através do desenvolvimento e promoção de novas motivações de visita à região, como o turismo de natureza, o turismo náutico, a cultura, a gastronomia e vinhos e os produtos corporate integrados no produto MICE (meetings, incentives, conferences and exhibitions); a diversificação da procura com foco no alargamento do leque de turistas de mercados emissores com potencial – seja os mercados europeus em crescimento, como França e Itália, seja os emergentes como Brasil, Estados Unidos da América e Canadá. Aqui, no que diz respeito à procura não descuramos, claro, a atenção dada ao mercado de proximidade alargado que inclui Portugal e Espanha ou aos nossos mercados tradicionais, como o Reino Unido, a Alemanha, a Holanda ou a Irlanda, que têm sido alvo de reforços de campanhas com companhias aéreas, operadores e online travel agencies.
Desde que tomou posse como presidente da Região de Turismo do Algarve, quais os maiores obstáculos que tem encontrado?
Olho para os obstáculos não como entraves, mas como desafios. Por isso, prefiro sempre fazer o balanço deste primeiro ano falando nos desafios. Após um período em que a instabilidade de alguns dos nossos concorrentes nos trouxe excecionais fluxos turísticos, a atual situação, com a conjugação da falência de companhias aéreas que nos ligavam a importantes mercados emissores, o processo do Brexit, a reemergência da Turquia, Tunísia e do Egipto, ou mesmo um ano de atípicas condições climatéricas, são alguns dos maiores com que temos sido confrontados.
Para contornarmos esta conjuntura, há que executar estratégias que façam com que o Algarve, como destino turístico, cresça em valor e em qualidade para que não fique refém do preço como fator de “atração”. O que justifica a nossa aposta na construção de uma imagem que traduza a riqueza e o caráter diferenciador da região, tornando a experiência de quem nos visita mais rica, mais autêntica e emocional.
O Algarve está a afirmar-se cada vez mais como destino turístico de eleição
O que é que o distingue do seu antecessor? O que defende para o turismo algarvio?
O trabalho desenvolvido por todos os meus antecessores foi muito positivo e fez com que o Algarve fosse uma referência turística para portugueses e estrangeiros. No entanto, os contextos mudam e temos que estar preparados para novas realidades. É exatamente na forma que trabalhamos o destino para os vários mercados que reside a diferença e que podemos desenvolver uma estratégia ainda mais solidificada. Por exemplo, ao nível da promoção internacional estamos a apostar em instrumentos de marketing intelligence, no sentido de uma maior eficácia do investimento nos diferentes canais de distribuição. No fundo, julgo que apesar das diferenças entre os vários responsáveis pelo turismo algarvio ao longo dos anos, a RTA e a ATA têm mantido equipas qualificadas que garantem que não haja grande disrupção de um mandato para outro, naquela que é a atividade e a linha promocional do principal destino turístico do país.
Que atividades estão a ser desenvolvidas na época baixa de modo a que os efeitos drásticos da sazonalidade não tenham tanto impacto na região?
Em primeiro lugar, importa realçar que o Algarve está a afirmar-se cada vez mais como destino turístico de eleição ao longo de todo o ano. Verificou-se uma clara atenuação da taxa de sazonalidade que, entre 2012 e 2018, passou de 47,1% para 42,7%, no que respeita às dormidas. Isto é o reflexo de uma estratégia integrada que tem vindo a ser aplicada e que passa pela execução de diversos planos, nomeadamente: o «Plano de Combate à Sazonalidade», que vem reforçar a aposta em novas rotas, serviços e frequências e repor os movimentos aéreos perdidos devido a roturas de companhias de importantes mercados para o Algarve; o “Plano de Marca”, que integra novas ações de comunicação com companhias aéreas e trabalho de proximidade com operadores para criar oportunidades de visita à região ao longo do ano; o “Plano de produto e mercado”, que tem por finalidade colocar a região do top of mind dos turistas em produtos que vão além do “Sol & Mar”.
Entre todos é também já conhecido o 365 Algarve, que arrancará com a sua 4ª edição em outubro com programação cultural e artística diversificada fora da época alta, o Algarve Cooking Vacations, composto por programas de férias culinárias e enológicas na região, ou então o Algarve Nature Fest, um festival inteiramente dedicado ao turismo de natureza, promovido em parceria com o município de Olhão, que acontece já a 21 a 22 de setembro, no Passeio Ribeirinho.
Quais são os projetos futuros que a Região Turismo do Algarve pretende implementar?
A RTA tem desenvolvido vários projetos, contando com a parceria de diversas entidades, com o objetivo de dinamizar e destacar o que a região tem de melhor e atrativo. Alguns já referi há pouco. Mas temos outros ainda no âmbito do turismo náutico, em concreto as Estações Náuticas de Faro, Vilamoura e Portimão e a criação da Estação Náutica do Baixo Guadiana, um projeto transfronteiriço que surge no âmbito de um protocolo de ação entre a RTA, os municípios do Guadiana e a Associação Naval do Guadiana. Refiro ainda a aposta em eventos que permitem projetar a imagem do Algarve como destino dinâmico, entre eles um grande evento internacional de gastronomia e outro de desporto motorizado. Estamos ainda na linha da frente da integração da laranja algarvia na cadeia de valor regional, em conjunto com a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, a associação de produtores AlgarOrange e representantes da hotelaria.
A ideia é fazermos dos citrinos algarvios o “cartão-de-visita” da região.
QUEM É?
Fernandes. João Fernandes.
O QUE FAZ?
Faço muito com pouco.
PERFIL
Nome: João Pedro Ferreira Caldas Fernandes
Idade: 44
Signo: Peixes
Profissão: Presidente da RTA e da ATA
Formação: Licenciado em Engenharia do Ambiente e pós-graduado em Gestão Empresarial, pela Universidade do Algarve
Onde reside: Faro
Tempos Livres: Não tenho
Livros: «21 lições para o século XXI», de Yuval Noah Harari
Qualidade: Teimosia
Defeito: Teimosia
Destino das últimas férias: Algarve
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)