Carlos Filipe tem 39 anos e é o fotógrafo amigo dos animais. É também mentor do projeto Amigos Imperfeitos, uma iniciativa inédita onde animais com limitações são dados a conhecer ao mundo juntamente com os seus donos. O fotógrafo abriu o seu próprio estúdio de fotografia, em Lagoa, e como não podia deixar de ser: os animais são as “verdadeiras estrelas”.
O estúdio está aberto há cerca de um mês e “a ideia deste espaço não é ser aquela loja de fotógrafo normal onde as pessoas entram, tiram as fotografias e vão embora. Aqui tu chegas, és recebida e o teu animal é recebido como cliente. Tenho sempre água e biscoitos e pergunto às pessoas se lhes posso dar”, começa por explicar ao POSTAL Carlos Filipe.
“A partir daí os donos sentam-se e a magia acontece. Muitas vezes os donos acham que não podem tirar fotografias com eles e eu digo: não vai tirar com ele também? E as pessoas respondem-me: “mas eu também posso?!” e eu respondo que é “claro que podem”, realça.
“As pessoas veem os animais como filhos e a minha prioridade aqui é o bem-estar deles. Se os animais estiverem stressados, prefiro terminar o trabalho a meio e marcar a continuação para outro dia porque eles têm de estar bem”, afirma.
Carlos Filipe explica que depois de ambientados, chega a parte de perceber como é que eles funcionam. “Quando eles chegam têm de estar à vontade para explorarem o espaço e para eu perceber se eles reagem ao som, a palmas, ao nome e a partir daí fazemos a sessão. É sempre em pequenas partes. Fazemos algumas fotografias e paramos porque eles têm uma percentagem de atenção mais reduzida do que os humanos”.
Carlos Filipe faz todos os tipos de trabalhos fotográficos
“Todas as pessoas são estrelas aqui. Eu recebo animais, famílias, bebés, animais com bebés e ofereço todo o tipo de serviços, no entanto, a diferença do meu espaço para os outros é que eu deitei completamente fora o conceito de que os animais são proibidos”.
Carlos Filipe afirma que a ideia é “pegar um bocadinho naquilo que toda a gente faz e incluir os animais”.
Carlos Filipe salientou que enquanto esteve a viajar lá fora tentou ver o que se fazia de diferente para tentar jogar com a inovação. “No meu estúdio, se tu chegas aqui com o teu cão e se for ele que vem tirar as fotografias, ele é a estrela. Ele é a primeira pessoa que é cumprimentada. Tu dizes-me o nome e eu vou logo cumprimentá-lo. Em breve também vou ter um quadro de ardósia onde vou escrever o nome dos animais a dizer, ‘Bem-vindo, Boris’, por exemplo, com motivos diferentes”, conta.
“Depois, faço a visita pelo espaço. Tens ainda dentro do estúdio um espaço de guarda-roupa que as pessoas podem usar se quiserem. 99% das pessoas usa e derrete-se. Não é preciso meter tudo. Às vezes um apontamento como um laço ou uma gravata faz toda a diferença e as pessoas adoram”, refere.
Carlos Filipe dedica-se a vários projetos
Carlos Filipe fez a sua primeira sessão fotográfica solidária há mais de um ano. “Num ano já perdi a conta do número de animais que já fotografei para adoção, dos que já foram adotados e dos que, infelizmente, já perdemos também. Passado um ano, o balanço que faço é que só fiz para aí 0,1%. Ainda existe muita coisa para fazer”, explica.
“A necessidade do meu espaço tinha a ver com isso. Eu estava a trabalhar em casa e tinha lá o meu estúdio e cheguei à conclusão de que precisava de um espaço que estivesse perto do público, um espaço comum a toda a
gente”, afirmou ao nosso jornal.
“Com a parte das fotografias de animais abandonados e também com os Amigos Imperfeitos é que me apercebi que existe muito a mentalidade da adoção, mas a parte do abandono também está muito presente e ainda não conseguimos desnivelar isto”, lamenta.
“Aquilo que me diz respeito a mim a nível de trabalho, acaba por ter sempre um dissabor porque eu recebo muitas mensagens a dizer que os animais foram adotados e ficamos felizes, mas a seguir ligam-nos a dizer, por exemplo, que encontraram mais três e isso custa muito”, explica.
O fotógrafo recorda que “há uns dias atrás esteve a ajudar a ADAP em mais uma sessão solidária e a meio já existiam três bebés que tinham sido encontrados no lixo e outra que estava a biberão”.
“Acho que é algo que pode diminuir, mas que, infelizmente, não vai acabar. Eu vejo um bocado este espaço como um farol, para tentar alterar um pouco esta realidade”, defende.
Carlos Filipe é o mentor do Projeto Amigos Imperfeitos
Carlos Filipe é o mentor do projeto Amigos Imperfeitos que retrata animais com limitações. O fotógrafo dá a conhecer toda a história do animal juntamente com os seus donos. Este ano lançou o primeiro episódio de vídeos no youtube e também um livro subjacente ao projeto.
“Comecei a ir às escolas apresentar o meu trabalho. Já estive em Albufeira, Portimão e Monchique e o que faço sempre antes de ir é pedir às escolas, uma semana antes, para fazerem angariações de alimentos e entregarem numa associação animal da sua zona para consciencializar os miúdos”, afirma.
O criador do projeto sublinha que “existem miúdos que acham que os animais que estão em cadeiras de rodas têm de tirar as patas de trás para as rodas serem incorporadas no corpo” e é muito interessante “dar a conhecer estas histórias diferentes às crianças que estão no início das suas caminhadas”.
Em janeiro, Carlos Filipe vai a Oeiras apresentar o projeto e fazer uma exposição a convite da câmara municipal.
A segunda temporada dos Amigos Imperfeitos deverá estar pronta entre o final de janeiro e o início de fevereiro. “Já tenho vários casos novos feitos, inclusivamente alguns de Lagoa. Tenho ainda casos de pessoas estrangeiras”, afirma.
O fotógrafo explica que “tanto nos episódios portugueses, como nos estrangeiros vão ser feitas legendas, algo que faltava na primeira temporada”.
Fotógrafo revelou ao POSTAL quais são os projetos futuros
Carlos Filipe afirmou ao POSTAL que tem muitos projetos futuros “em mãos”.
“Quero continuar a parte solidária e continuar a fotografar animais de rua, em colaboração com a PATA Ativa, a ADAP, a Cadela Carlota, Pata Faro, entre outras”, enumera.
O fotógrafo afirma que “quer igualmente criar a exposição dos Amigos Imperfeitos em fotografia e concluir a segunda temporada em vídeo”.
“Depois, ando à procura de empresas que me possam comprar uma grande quantidade de livros porque o bom deste livro é o seguinte: esta é uma edição de autor. Basicamente, sou eu que pago estes livros. Eu baixei o valor deles porque o meu objetivo é divulgá-los e não ganhar dinheiro com eles”, explica.
“A vantagem destes livros é o facto de eles serem personalizáveis, por exemplo, se o POSTAL do Algarve ou outra empresa comprasse 500 livros, poderia ser acrescentada uma página e o logótipo poderia vir na capa ou contracapa e qualquer empresa pode comprar, vender e dar o valor para a
solidariedade”, afirma.
Carlos Filipe espera que “o estúdio se torne ainda mais conhecido e que mais pessoas saibam que existe um espaço onde os animais são bem vindos e são tratados como clientes, como estrelas, como amigos. Quero que entendam que este é um espaço de partilha. Não precisam de vir tirar fotografias mas podem vir conhecer um bocadinho dos trabalhos. A ideia é que este seja um espaço familiar”.
“Um dos pontos diferenciadores do meu estúdio é que montei um espaço de impressão dentro da loja”.
“As pessoas vêm aqui com o seu cão e podem levar logo as fotografias em formato pequeno ou grande”, avança.
“Na maior parte das vezes, tem de se esperar algum tempo para se ter as fotografias e aqui podes levar logo algumas”, afirma.
Carlos Filipe defende que “aquilo que as pessoas querem tem de ser logo saciado. Aqui na loja também faço porta-chaves, canecas, ímans.
Eu tento sempre perceber o que é que as pessoas querem ter. É ponto assente que hoje em dia, os animais fazem parte da família e não nos podemos esquecer disso”.
O estúdio está aberto de segunda a sexta, das 9:30 às 13 horas e das 14:30 às 18:30 horas. O espaço também abre ao sábado de manhã.
No estúdio “Carlos Filipe Photography” as sessões são feitas mediante marcação, no entanto, se as pessoas aparecerem aqui e existir disponibilidade também fazemos as sessões.
Fotógrafo tem um vasto percurso na sua área
“Ofereço todos os serviços, casamentos, batizados (eventos) e depois tenho a componente dos animais, onde os consigo incluir em tudo, inclusivamente em casamentos que já fiz”, recorda.
O fotógrafo confessou ao POSTAL que “o feedback tem sido muito positivo porque as pessoas acham o conceito muito diferente”.
“Os animais fazem cada vez mais parte da família e as pessoas confessam que aqui podem fazer fotos de coisas que antes só tentavam com o telemóvel”.
Os clientes afirmam que “é muito bom ter algo profissional com os nossos fiéis amigos”.
A nível pessoal, o fotógrafo espera que “este ano seja igual ou melhor do que o anterior”.
“Num ano consegui fazer a série dos amigos imperfeitos, escrever um livro e cresci muito como ser humano e como profissional”, conta.
Carlos Filipe tem ainda um projeto que pretende lançar no novo ano: o fotógrafo pretende entrar numa vertente de fotojornalismo e mostrar a realidade nua e crua de um resgate de um animal abandonado, por exemplo.
“Quero mostrar às pessoas ‘o que se passa nos bastidores’, aquilo que não vemos nas redes sociais mas que acontece diariamente”, afirma.
“A melhor decisão que tomei na minha vida foi largar o meu emprego e dedicar-me inteiramente à fotografia. Nunca me senti tão vivo como agora. Desde que entrei no mundo dos animais, sinto-me plenamente realizado. Neste momento consigo fazer aquilo que gosto e incluir nisso os ‘nossos eternamente amigos animais’”, confessa.
Carlos Filipe conclui a entrevista afirmando que “está verdadeiramente feliz”.
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(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)