Bruno Barbosa, aos 35 anos, decidiu embarcar numa aventura única: correr a África às costas de um comboio singular. Numa entrevista concedida à NiT, partilhou todos os detalhes desta experiência extraordinária.
Filho de pai angolano, Bruno Barbosa cresceu envolto em histórias fascinantes sobre África. A paixão por conhecer as diversas culturas e tradições do continente e além-mar levou-o, aos 21 anos, a iniciar uma série de viagens pelo mundo com uma mochila às costas, após o falecimento do seu pai.
Com passagens por mais de 80 países, a maioria alcançada através de caronas e travessias terrestres, Bruno é um viajante inveterado que se autodenomina “antitáxis” e “antiluxo”. Prefere aventurar-se de carona, seja em carros de locais, camiões ou motas, sem destino pré-definido e sem grandes planos.
“Desde criança, sempre me senti diferente, com ideias fora do comum. Viajava muito com o meu pai, e essa paixão pelas viagens está enraizada em mim desde sempre”, partilha Bruno Barbosa, natural de Faro.
Inicialmente, as suas viagens centravam-se na Europa, mas rapidamente expandiu os seus horizontes para destinos mais longínquos, sempre com o mesmo propósito: conhecer o mundo sem esgotar os recursos financeiros. Em cada jornada, Bruno estabelece um orçamento diário de 20€ e faz questão de o cumprir escrupulosamente, evitando gastos desnecessários em transporte e refeições luxuosas. Quando não consegue encontrar alojamento acessível, não hesita em pernoitar ao relento, numa tenda que o acompanha para todo o lado.
Apesar da sua coragem e destemor, nem todas as suas viagens correram sem percalços. Já foi vítima de roubo na Argentina e sofreu ferimentos graves na Índia, mas nada disso o demoveu. Autoproclamando-se “cidadão do mundo”, Bruno está sempre pronto para a próxima aventura, com uma boa dose de caronas pelo caminho.
Há cerca de um ano, iniciou uma das suas mais memoráveis jornadas, percorrendo países do Médio Oriente como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Israel e Jordânia sem recorrer a qualquer meio de transporte convencional. Em janeiro deste ano, repetiu o feito no continente africano.
“No Médio Oriente, as coisas fluíram de forma mais rápida. Aqui em África, é muito mais desafiante porque a maioria das pessoas pede dinheiro. Na Ásia, era simples: em cinco minutos conseguia uma carona, mas aqui em África, demora muito mais tempo”, descreve.
Bruno enfrentou várias horas de espera sob um sol abrasador, na tentativa de conseguir uma boleia até à cidade de Dakhla. Por vezes, as viagens são curtas, dependendo do destino do condutor, mas o verdadeiro desafio reside na imprevisibilidade do percurso e das pessoas que encontra pelo caminho.
Numa das suas viagens mais longas, Bruno apanhou uma boleia de Dakhla até à fronteira da Mauritânia, numa viagem de cerca de 500 quilómetros num camião. Mas o momento mais aguardado desta jornada estava ainda por vir: a experiência de viajar no comboio de ferro mais extenso do mundo, conhecido como “The Iron Train”.
Este comboio, com mais de dois quilómetros de comprimento e aproximadamente 250 carruagens, atravessa o deserto do Saara, ligando as minas de Zouerat, no interior da Mauritânia, à cidade portuária de Nouadhibou. Apesar de oficialmente transportar apenas minério de ferro, os locais utilizam-no como meio de transporte entre cidades.
Embarcar no “The Iron Train” é ilegal, mas o governo muitas vezes fecha os olhos a esta prática, dada a sua importância para a população local. Bruno aguardou pacientemente pela chegada do comboio, passando uma noite na casa de habitantes locais que o acolheram calorosamente.
Quando finalmente o comboio chegou, Bruno teve apenas alguns minutos para subir a bordo. As 18 horas seguintes foram passadas no comboio, enfrentando as condições adversas do deserto e a falta de comunicação com o mundo exterior.
Apesar dos desafios e peripécias pelo caminho, Bruno Barbosa guarda estas experiências como algumas das mais marcantes da sua vida. Na próxima semana, regressa temporariamente a Portugal, mas não por muito tempo. Este cidadão do mundo já tem novas aventuras planeadas, sempre com a sua mochila às costas e um polegar estendido à espera da próxima boleia.
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