A demolição de mais de uma centena de casas consideradas ilegais, na Praia de Faro, avançará “em breve” e seguramente antes do Verão, disse hoje o presidente da Sociedade Polis Litoral Ria Formosa, Sebastião Teixeira.
Técnicos da Polis iniciaram hoje o processo de posse administrativa de 99 edificações clandestinas situadas nos núcleos piscatórios da Praia de Faro, numerando as casas sinalizadas para demolição a azul e colocando editais à porta, nos quais se pode ler que a partir de hoje a sociedade toma posse daquelas construções.
Sem especificar uma data para a demolição das edificações – obra que será executada ao abrigo de um concurso público -, aquele responsável, que está a acompanhar os trabalhos, disse aos jornalistas que as demolições vão avançar “em breve” e “seguramente” antes do Verão.
Sebastião Teixeira esclareceu ainda que, de um total de 114 construções sinalizadas para demolição – nomeadamente anexos e casas de férias -, em ambos os extremos da praia, existem 15 cuja posse está suspensa devido ao facto de ainda correrem providências cautelares em tribunal.
Polícia Marítima, moradores e proprietários assistiram ao desenrolar dos trabalhos
Além da Polícia Marítima, a assistir ao desenrolar dos trabalhos estavam também alguns moradores e proprietários, como Aníbal Pereira, que aproveitava a casa para passar o máximo de tempo possível por ano e que agora vai ficar sem ela, já que é uma das construções consideradas ilegais pela Polis.
“É um crime o que estão aqui a fazer”, desabafa, sugerindo que por detrás da operação de renaturalização do Polis estão “outros interesses”, porque a execução das demolições “vai dar dinheiro a muita gente”, situação que considera que devia ser investigada pelo Ministério Público.
Sem dinheiro para interpor uma providência cautelar, resta agora ao ex-bancário, de 72 anos, esperar que a casa seja demolida, uma operação com a qual não concorda e que diz ser o “espelho” da situação em que o país se encontra.
“A Polis existe desde 2008 e só agora se lembraram [de demolir as casas] porque só têm [a sociedade] mais um ano de vida”, afirmou, classificando a operação como “um espectáculo pior do que a guerra do Iraque”.
Com vários problemas de saúde, que o obrigaram a reformar-se há mais de 20 anos, Aníbal Pereira contou que obteve autorização da extinta Junta Autónoma de Portos para construir a casa devido ao facto de ter ordens médicas para passar o máximo de tempo possível junto ao mar.
Assumindo que “ninguém está feliz” com a situação, Sebastião Teixeira considerou, por seu turno, que a reacção dos proprietários “é a esperada”.
“O coração da Ria Formosa são as ilhas-barreira e tudo o que seja para aliviar a carga das ilhas é bom para a ria”, sublinhou.
De fora ficam, por enquanto, as construções situadas na zona central da Praia de Faro, concessionada à autarquia, e as casas de primeira habitação, cuja demolição só arrancará quando estiver concluído o processo de realojamento dos habitantes.
O projecto de renaturalização da Ria Formosa prevê a demolição de 800 construções e arrancou no início de Dezembro no ilhote do Ramalhete.
O Programa Polis Litoral da Ria Formosa é o instrumento financeiro para a execução do Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) Vilamoura – Vila Real de Santo António, aprovado em 2005.
(Agência Lusa)