Dez toneladas de sal serviram de suporte ao Presépio de Sal exposto na Casa do Sal. Os 110m2 de sal ganharam vida com mais de 4500 figuras alusivas à história do nascimento de Jesus e à cultura e ofícios tradicionais de Castro Marim.
Durante a visita ocorreu-me que poderia existir no Algarve uma Capital do Sal. Pelo menos três localidades da Região têm ligação ao Sal: Castro Marim, Tavira e Loulé.
Criar uma Rota do Sal com um percurso pelas localidades com ligação ao Sal, tornando o Algarve num destino dos três S’s: um destino turístico de Sol, Sal e Serra. Talvez até mais um quarto S, acrescentando assim a Simpatia!
O Algarve tem imensas potencialidades, o Sol tem estado garantido, a Serra tem estado a ser cada vez mais valorizada e o Sal, esse “ouro branco”, que para além de ser exportado e levar o nome do Algarve e de Portugal até outros países, poderá estar cada vez mais ligado ao turismo.
Em Castro Marim, para além da produção de sal, existe um SPA salino em que a terapia passa pelo envolvimento do corpo em sal e argila salgada e ainda um banho flutuante em águas ricas em sais minerais, o que constitui uma oferta turística diferenciada.
Em Tavira existe sal com Denominação de Origem Protegida (DOP), produzido com recurso a técnicas ancestrais. O sal marinho colhido manualmente nas salinas de Tavira é obtido a partir de água do Oceano Atlântico. Após a conquista do sotavento algarvio, D. Afonso III reservou para a Coroa Portuguesa, no Foral de 1266 a Tavira, “todas as salinas cheias e por encher em Tavira e seu termo”, acabando estas por desempenhar um papel importante na Expansão Portuguesa.
Em Loulé existem as minas de Sal-Gema que já foram usadas para fins culturais, tendo sido apresenta a exposição “Timeless Territories” e realizado um concerto de Mário Laginha. É a única mina portuguesa visitável que se localiza abaixo do nível do mar. Trata-se de um espaço localizado a 230 metros de profundidade e permite observar formações geológicas com milhões de anos. Para além da extração de sal tem presentemente actividade turística com visitas guiadas diárias.
O Sal da Vida
O sal faz parte da nossa vida diária, se não ingerirmos sal perecemos e se ingerirmos sal a mais também perecemos. O sal é a única “rocha” comestível pelo ser humano e faz parte da nossa cultura e da Dieta Mediterrânica.
Os Romanos usavam o sal não só para conservar os alimentos, mas também como forma de pagamento, usando o termo salarium argentum, que significa “pagamento em sal”. Daí a palavra salário ter origem na palavra sal. No Império Romano, os soldados eram pagos com sal. Naquela época, o sal era uma iguaria muito valiosa e podia ser trocada por outros alimentos, vestimentas, armas, etc.
Há uma expressão latina ligada ao sal: Cum grano salis que por vezes, em certos casos, ainda se usa. Literalmente significa “com um grão de sal” e quer dizer que um assunto deve ser tratado com ponderação, com uma pitada de bom senso.
O sal também dá vida à poesia! Temos na nossa memória colectiva estas palavras de intensa carga histórico-poética: “Ó mar salgado quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal…” com as quais Fernando Pessoa inicia o seu poema Mar Português.
Lugares de Sal
Fazendo uma pesquisa sobre lugares ligados ao sal, encontram-se belas imagens do maior Salar do mundo. Fica no sudoeste da Bolívia e são 10.000 Km de puro sal, conhecido por Salar de Uyuni, a particularidade é ter um hotel de sal.
Na Europa existe um hotel e um SPA dentro das minas de Wieliczka, na Polónia, inclusivamente existem capelas dentro das minas.
Em Loulé, em 2009, esteve equacionada a hipótese da abertura de um hotel na mina, mas o projecto está em stand-by.
E muito mais haveria a dizer sobre o sal, mas fica esta pitada para despertar o interesse sobre tão importante produto natural, que faz parte de nós. Fisicamente também somos sal, aliás “somos o sal da terra” como se pode ler na Bíblia.
Que este novo ano seja temperado Cum grano salis, com a pitada de sal que, sem excesso, nem omissão, faz de nós o sal da terra dando ponderação e equilíbrio às nossas decisões de 2020.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de janeiro)