“Às vezes a felicidade está a bater à porta e nós andamos à procura do trevo de quatro folhas no quintal” (Anónimo)
Quando acontece algo difícil na vida ou terrivelmente novo, como tem sido a pandemia, temos três formas de lidar com a situação: entrar em desespero, em desânimo ou em desenvolvimento.
Obviamente que o ideal será o desenvolvimento, com todos os sentidos que encerra. Neste tempo de pandemia, que ainda não acabou, temos que aproveitar para reencontrar o que realmente importa e o que traz valor à vida. Para isso é importante apostar no desenvolvimento pessoal como tempo de olhar para si mesmo, porque o mundo vai ser diferente daqui em diante.
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Dizem alguns comentadores que o mundo pós-pandemia será um mundo pós-trauma e que vai ser necessário que cada indivíduo desenvolva e faça coisas novas.
Todos vivemos uma paragem forçada, uma paragem que para muitas pessoas foi angustiante e para outras foi revitalizante, com mudanças a nível profissional, pessoal e emocional.
Muitos de nós ficámos com as agendas ainda mais preenchidas com webinars, reuniões, formações, cursos, debates e até congressos. Para além de ser uma forma de ocupar o tempo trata-se de tempo de aprendizagem. No fundo, procura-se aumentar o nível de felicidade, descobrir talentos em nós e nos outros, aumentar a esperança e definir próximos passos para um futuro com sentido e propósito.
Uma das palavras que mais ouvi nestes meses, para além de pandemia, foi a palavra propósito. Este termo está relacionado com a definição de objectivos que façam sentido na vida e para isso temos de ter um propósito que nos mova.
Talvez a COVID-19 tenha vindo convidar a humanidade, e cada um de nós individualmente, a repensar o que realmente é um “propósito de vida”. O que faz com que cada ser humano ponha o pé fora da cama a cada manhã, o que faz com que saia dos seus “muros individuais” e viva para algo que tenha um sentido maior, em sintonia com os seus valores.
Nem sempre é fácil conseguir o alinhamento entre valores e objectivos, mas quando isso é conseguido há um propósito definido e tudo flui melhor, abrindo mais e melhores caminhos.
Este tempo de resposta e combate à COVID-19 também veio mostrar o quão importante é o contacto com os outros e como o encontro/reencontro é parte da nossa felicidade. Veio trazer a reflexão sobre o que é que nos faz realmente felizes.
A felicidade e a qualidade de vida são conceitos subjectivos, mas creio que os bons laços afectivos com amigos e familiares, uma vida com sentido, o descanso de qualidade, o ter tempo para fazer o que se quiser, pesa mais no grau de felicidade do que os bens materiais. Obviamente que o dinheiro também é importante, ainda assim acredito que adquirir experiências torna as pessoas mais felizes, do que adquirir bens materiais.
Os bens materiais desgastam-se e deixam de ser novidade, as experiências vividas tornam-se parte da memória e podem ser consideradas bens culturais, como por exemplo viagens, experiências no mar, interacção com golfinhos, retiros na natureza ou piqueniques na serra. Esta foi uma das actividade que recriei recentemente para valorização do interior algarvio, das suas gentes, saberes e sabores.
Enfim, sabemos que as sociedades “ditas avançadas” incutem mais a valorização do “ter” do que do “ser”, mais a valorização do urbano e da juventude, do que a valorização do rural e dos idosos, que são parte de um saber ancestral em extinção.
Aprendemos todas as etiquetas do uso da máscara e de lavagem das mãos, mas se calhar ainda não aprendemos a etiqueta do saber estar (connosco próprios), do gerir a mudança e de nos renovarmos perante a adversidade.
Que as pessoas que nos desafiam e as situações que nos provocam desconforto sejam os nossos maiores mestres nesta nova caminhada!
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de julho)