O Mestrado Integrado em Medicina da Universidade do Algarve (UAlg) celebra este ano dez anos de existência, uma década dedicada a uma abordagem inovadora do ensino da Medicina.
Os progressos tecnológicos da Medicina dos últimos 60 anos aumentaram a possibilidade de se perder de vista o contacto directo, pessoal e humano com os doentes. Existe um risco real de se formarem técnicos de Medicina que consideram o doente apenas como o objeto de uma intervenção mecanicista e não médicos. “Na UAlg queremos formar homens e mulheres com elevado grau de humanismo na sua relação profissional com os doentes, actuando sempre com empatia e compaixão”, explica José Ponte, o fundador deste curso de Medicina.
Em construção desde 1998, a abertura do curso foi anunciada pelo primeiro-ministro Mariano Gago, em 2008. Este foi o primeiro Mestrado em Medicina criado em Portugal, à semelhança do que já existe na maioria dos países desenvolvidos, exclusivamente para alunos que detenham o primeiro ciclo de estudos universitários.
A receber mais de 400 candidaturas por ano, para 48 vagas, este curso já formou cerca de 200 médicos. “Estes encontram-se, actualmente, distribuídos por todo o país e em países europeus, pela maioria das especialidades médicas, como é o caso da Neurocirurgia, Cardiologia, Cirurgia Maxilofacial, Medicina Geral e Familiar (MGF), Gastroenterologia, Urologia e Anestesia”, explica a UAlg.
Esta distribuição apresenta uma particularidade que concretiza um dos grandes objetivos deste curso: a fixação de médicos no Algarve, uma vez que mais de um terço dos médicos formados fica na região.
Formação tem como referência os métodos de ensino do Reino Unido, Canadá e Austrália
Com uma duração de quatro anos, após os, pelo menos, três anos de licenciatura base, esta formação junta a vertente teórica à prática, tendo como referência os métodos de ensino do Reino Unido, Canadá e Austrália. Outra grande diferença em relação aos outros cursos de Medicina relaciona-se com os critérios de selecção: para além de ser necessário deter uma licenciatura em Ciências, os candidatos são, também, submetidos a uma primeira fase de avaliação das suas capacidades cognitivas e linguísticas e, a uma outra, baseada na avaliação dos valores humanos.
“A experiência de trabalho com idosos, crianças ou missões em países em desenvolvimento são dois parâmetros de preferência na escolha dos candidatos”, refere Isabel Palmeirim, presidente do Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina da Universidade do Algarve. “O objectivo deste curso é o de formar médicos que, para além de terem os conhecimentos teóricos, sejam capazes de comunicar com os doentes e colegas e que tenham a capacidade de executar todas as tarefas com perfeição técnica. Essencialmente, queremos explorar a parte humana da medicina e transmitir esses valores a todos os alunos”, explica.
O contacto precoce com a MGF é outro dos factores diferenciadores. Os cuidados de saúde primários são a pedra basilar para a promoção da saúde e para o controlo da doença em sociedades como a sociedade portuguesa. Este curso pretende educar os futuros médicos para uma abordagem alargada à pessoa e à comunidade. O contacto com o doente desde a primeira semana de aulas, tutorizado por um especialista em MGF numa relação de 1:1, é a base para a “preparação do médico para qualquer especialidade, não só MGF.”
Já com uma boa parte do seu corpo docente acreditado em Educação Médica pela Associação Europeia de Educação Médica, o Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina tem como objectivo major o desenvolvimento da região do Algarve como um local atractivo para a prática da medicina e formação de jovens médicos. Neste sentido foi recentemente criado o “Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algarve, ABC (Algarve Biomedical Center)”, um centro académico empenhado em promover a investigação básica, clínica, translacional e o apoio às necessidades de formação pré e pós-graduada médica do Algarve.
Planeia-se também para o final de 2019 a abertura do “Centro de Simulação Médica da UAlg”