O sociólogo Michael Löwy refere que a emergência climática “já é, e vai-se tornar ainda mais nos próximos anos, a questão política central da nossa época”.
Este sociólogo radicado em França, é director de investigação no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e defende um “modelo de civilização baseado na justiça social, na igualdade, na democracia, na solidariedade e no respeito pela nossa Casa Comum”.
A expressão “Casa Comum” é cada vez mais usada, quer nos meios académicos, religiosos ou políticos.
Existe cada vez mais o sentimento de que a terra é a nossa casa comum da qual devemos cuidar.
Michael Löwy reflecte sobre as vantagens do ecossocialismo e frisa que a Carta Encíclica Laudato si’ deveria ser lida pela esquerda: “A esquerda deveria ler este documento e inspirar-se no seu diagnóstico sobre a urgência de salvarmos a nossa Casa Comum, a Mãe Terra.”
A meu ver, as questões ambientais estão para além do conceito de esquerda ou de direita, são questões globais e urgentes, porque estamos todos no mesmo barco. E quer ele se incline para a esquerda ou para a direita, afundamo-nos todos!
Talvez só depois da actual situação da Amazónia algumas pessoas se tenham consciencializado dos limites do nosso planeta e dos limites da sua capacidade de carga, que há muito é referida por cientistas de diversas áreas.
Filipe Duarte Santos, especialista em ambiente e alterações climáticas e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS) diz que a dependência dos combustíveis fósseis, tal como certas políticas são resultado dos interesses poderosos que estão por detrás desse sector económico. Este cientista considera que no fundo não há “nada de novo” e acrescenta que “o egoísmo e a ganância, dois traços do Homo sapiens, sobrepõem-se a quaisquer preocupações com as alterações climáticas”.
Unidos pela Terra-Mãe
Setembro começou com um dia de reflexão e oração, sendo celebrado pela Igreja Católica o dia 1/09 como o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação.
O Papa Francisco instituiu este dia no ano de 2015. É uma iniciativa com sentido ecuménico porque a mesma data já era comemorada, há alguns anos, pela Igreja Ortodoxa, que deu início a esta celebração à qual se juntaram anglicanos, luteranos e evangélicos de todo o mundo.
A celebração ecuménica anual de oração e acção pela Criação teve início no dia 1 deste mês, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e termina no dia 4 de Outubro, precisamente no Dia de São Francisco, padroeiro dos ecologistas.
Mais de um mês para que cristãos do mundo inteiro se unam em oração e acção para cuidar da casa comum. O tema para 2019 é: “A rede da vida”.
E para lançamento do tema o Papa Francisco proferiu estas palavras:
“Este é o tempo para voltar a habituarmo-nos a rezar imersos na natureza, para reflectir sobre os nossos estilos de vida, de empreender acções proféticas. As nossas orações e os nossos apelos visam sobretudo sensibilizar os responsáveis políticos e civis. Cada fiel cristão, cada membro da família humana pode contribuir para tecer, como um fio subtil, mas único e indispensável, a rede da vida que a todos abraça.”
Laudato si’
Cuidar da Casa Comum: A Igreja ao serviço da Ecologia Integral é uma iniciativa de uma rede de instituições, organizações, obras, movimentos da igreja católica e de outras igrejas cristãs, bem como pessoas a título individual.
A Rede procura aprofundar e difundir a Carta Encíclica Laudato si’ [Louvado sejas] do Papa Francisco, documento de 2015, que tem como sub-título: Sobre o cuidado da casa comum. A Laudato si’ acrescenta um novo contributo à Doutrina Social da Igreja e refere que toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas “nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades”.
A Rede procura acompanhar, no espaço eclesial, as questões ecológicas de âmbito nacional e mundial, evidenciando as suas causas e consequências e equacionando-as à luz da referida encíclica.
E não menos importante é o empenho em promover nas comunidades cristãs (paróquias, escolas, obras e movimentos) uma efectiva conversão ecológicae sugerir caminhos de actuação concreta com vista a uma ecologia integral.
É com muito gosto que integro esta Rede (www.casacomum.pt) a convite da sua fundadora, Drª Manuela Silva, economista, catedrática (jubilada) do ISEG e ex-Secretária de Estado do Planeamento.
E porque o espaço não permite mais, fica também o link da nota emitida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com o expressivo título “Levante a voz pela Amazónia”, que tem como referência a ecologia integral e a Laudato si’: http://www.cnbb.org.br/levante-a-voz-pela-amazonia-pede-cnbb-em-nota/
Que possamos levantar a voz, “não para gritar, mas para que os sem voz possam ser ouvidos…”
(Artigo publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul)
(CM)