Há poucos dias era eu uma criança brincando com o que via, desejando ser grande.
Uns dias depois era um adolescente sem rumo definido, desejando ser adulto.
Mais uns dias e era um jovem adulto fogoso, à procura de chão firme, desejando ser o que não era.
Logo de seguida fui adulto à procura do que não tinha.
Poucos dias passaram quando já tinha o que queria e era o que antes queria, continuei desejando o que não sabia, sem saber que já sabia o pouco que queria.
Hoje, velho, cansado da vida olho-me ao espelho e vejo toda a vida. Hoje, saber-me-ia tão bem ser novo!
A vida passa tão rápida, que por vezes não damos conta que já passou. A vida é tão rara que a encontramos só uma vez.
É em dias não escolhidos que vemos o que passámos na vida para sermos nada. É por isso que pasmo quando vejo a maldade, a ganância, a avareza e o cinismo encapotado de outras coisas. Vi tantas vezes espezinhar conscientemente seres semelhantes que por incrível que pareça a anormalidade chegou a parecer normal.
Hoje está na “moda” falar de corrupção, poder e ostentação, o que me faz lembrar o Dalai Lama quando afirmou, a este propósito, que esta subespécie humana “ … vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido”. De facto, esta gente de que nos vemos rodeados diariamente procede como se fossem superiores a todos os outros, aparecem por vezes acompanhados de um animal de estimação para tentarem convencer de que gostam de toda a gente e até de animais. Nada mais falso, saqueiam, roubam, exploram, espezinham e derrubam todos e qualquer um que se aproxime. Desconhecem os conceitos de igualdade, sinceridade e honestidade. Vemos gente desta nos partidos políticos, nos governos e em algumas empresas em todo o mundo. Procuram o poder absoluto, mas nunca o encontrarão.
Creio que ainda não perceberam que nasceram como todos nós e continuarão a ser iguais depois da morte. Esta é a realidade indiferentemente do dinheiro, etnia, cor ou religião.
Desejamos sempre ser o que não somos, ver o que não vemos e estarmos onde não estamos. Somos frágeis como cristais de neve, mas há quem pense que pode ultrapassar esta realidade. É o raciocínio materialista da vida.
Durante os primeiros anos de vida temos a oportunidade de acumular e consolidar aprendizagens que mais tarde nos permitam proceder com amor, compreensão e espírito de interajuda, porque sabemos que somos todos iguais perante a natureza. É a vida para além da materialidade.
A imortalidade que alguns procuram não existe, é um conceito oco.
O Espaço é tão vasto que a distância se mede com o tempo, esse mesmo Espaço desaparecerá um dia. Nós estamos aí.