Um relatório do Conselho Internacional dos Museus (ICOM, em inglês) revela que quase um terço dos seus membros vai despedir trabalhadores permanentes e perto de metade conta dispensar trabalhadores temporários devido ao impacto da pandemia nas atividades destes espaços.
O documento, divulgado no sítio ´online´ do ICOM, mostra que a pandemia de covid-19 está a afetar seriamente estas instituições culturais em todo o mundo, exigindo o encerramento ou a limitação de horários de funcionamento, como acontece atualmente em Portugal, aos fins de semana.
No primeiro relatório sobre a pandemia, divulgado em maio deste ano, o ICOM dava conta de que a quase totalidade dos associados dos cinco continentes tinha fechado portas para salvaguardar a saúde dos visitantes e trabalhadores, com “sérias repercussões a nível económico, cultural e social”.
O novo documento – realizado em setembro e outubro, com base em dados recolhidos de 900 dos membros do ICOM nos cinco continentes – vem confirmar que a crise terá um grande impacto a curto e longo prazo.
O relatório indica que 30,9% dos museus que responderam dizem que vão despedir trabalhadores permanentes, enquanto 46,1% indicam que vão despedir trabalhadores temporários.
Pelo menos 16% disseram já ter despedido um quarto dos funcionários do museu entre fevereiro e setembro deste ano, sendo que a América do Norte é a região onde mais instituições (52%) reconhecem ter despedido trabalhadores, mais do dobro do que na Europa (25,2%).
Entre abril e outubro, 10,7% dos trabalhadores temporários foram despedidos e 16% das instituições questionadas disseram não ter renovado contratos, uma situação grave no setor do trabalho independente, com 40,9% a indicar perda de salário em consequência da crise, e quase um terço já pondera mudar totalmente de carreira profissional.
Em 68,5% dos museus que responderam ao inquérito a principal fonte de receitas vem de fundos públicos e em 25,8% de fundos privados, sendo que 33,8% assegura a sobrevivência com os bilhetes vendidos aos visitantes.
“Com o encerramento dos museus, o número de visitantes diminuiu drasticamente, o que teve graves consequências económicas, especialmente para os que dependem quase totalmente dessas entradas”, alerta o ICOM, a maior organização internacional de museus e de profissionais de museus, criada em 1946 para a preservação e divulgação do património natural e cultural mundial, tangível e intangível.
Portugal não escapou a este decréscimo: em setembro, o diretor-geral do Património Cultural, Bernardo Alabaça disse à agência Lusa que no primeiro semestre do ano se verificou uma quebra “brutal” de visitantes, da ordem dos 70% em museus, monumentos e palácios tutelados.
Em 2019, os visitantes dos 25 museus, monumentos e palácios tutelados pela DGPC ascenderam a 2,3 milhões no primeiro semestre, e, no mesmo período, este ano, esse número caiu para cerca de 700 mil entradas.
Museus e monumentos – como todos os espaços culturais do país – estiveram encerrados entre 14 de março e 17 de maio deste ano, na sequência do confinamento decretado pelo Governo para travar a propagação do vírus covid-19.
“As instituições que dependem principalmente de fundos públicos parecem ser as mais estáveis, com percentagens mais baixas dos efeitos económicos negativos”, assinala ainda o ICOM sobre o facto de o relatório apontar que estes museus cortaram menos atividades e horários, e despediram metade dos recursos humanos, comparando com os que dependem de fundos privados.
Globalmente, 49,6% dos inquiridos consideram que vão perder pelo menos um quarto das entradas em 2020, e para 32% mais de metade, comparando com 2019, prevendo que, a longo prazo, o impacto da pandemia reduza atividades, horários e a programação de exposições temporárias.
Neste inquérito, 6,1% dos indagados dizem que o seu museu deverá fechar definitivamente, uma redução, comparativamente a maio, quando 13% faziam essa previsão, baseada num clima de grande incerteza, mas que o ICOM continua a classificar de “alarmante”.
Comparada com o mês de maio, a situação dos museus em setembro e outubro varia muito mais, dependendo da localização no mundo: a maior parte na Europa e na Ásia estavam abertos, mas encerrada na América latina e nas Caraíbas, enquanto nos restantes países há uma mistura das duas situações.
Atualmente, continuam a investir na presença digital, com 50% dos inquiridos a desenvolver atividades em sítios ´online´, redes sociais, e eventos em ´streaming´ para diversos tipos de públicos.
Em nome da comunidade internacional de museus, o ICOM pede aos poderes públicos e privados, e aos decisores políticos e culturais para darem apoio a estes espaços patrimoniais e aos seus profissionais, “para que possam sobreviver a uma crise sem precedentes, e manter a sua missão para com os visitantes”.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.397.322 mortos resultantes de mais de 59,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 4.056 pessoas dos 268.721 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.