A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta, num relatório divulgado hoje, que o mundo ainda está na “fase aguda” da pandemia de covid-19, que é uma “crise humana” e merece o “maior esforço de saúde pública da história”.
Para esta pandemia, “que é mais do que uma crise de saúde, é uma crise humana que revelou desigualdades graves e sistémicas”, a ONU quer concentrar os esforços numa resposta a três níveis: na saúde; na adoção de políticas para a salvaguarda de meios de subsistência; e num processo de recuperação inclusivo e “transformador”.
“O mundo ainda está na fase aguda da pandemia. Superá-la requer liderança política sustentada, níveis de financiamento sem precedentes e solidariedade extraordinária entre os países e dentro deles”, refere o relatório intitulado “Resposta Abrangente das Nações Unidas à Covid-19: Salvando Vidas, Protegendo Sociedades e Recuperando Melhor”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse hoje, numa conferência de imprensa virtual, que a organização quer “trabalhar com todos os países, em todas as áreas”, lamentando que a semana de alto nível da Assembleia-geral das Nações Unidas, que começa na próxima segunda-feira, possa vir a ser marcada pelo registo de um milhão de mortes por covid-19.
No novo relatório, as Nações Unidas defendem a colaboração global liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e promove a Aceleradora de Acesso às Ferramentas Covid-19 (ACT, na sigla em inglês).
A organização incentiva que todos os países reconheçam a saúde como “um bem público universal” e que garantam a distribuição de vacinas para a covid-19 para toda a população. Segundo a OMS, existem 31 candidatas a vacinas em avaliação, das quais, nove em ensaios clínicos.
António Guterres mencionou hoje “relatos alarmantes de grandes segmentos da população em alguns países, indicando sua relutância ou mesmo recusa em tomar uma futura vacina contra a covid-19”.
No relatório, a ONU destaca também que, mais do que uma crise sanitária, a doença covid-19 provocou crises socioeconómicas, humanitárias, de segurança e de direitos humanos.
Numa altura em que a ONU assinala 75 anos de existência e tem sido criticada por fragilidade e fraqueza, a organização responde que “o sistema da ONU se mobilizou desde o início [da pandemia] e de forma abrangente”, tendo fornecido assistência humanitária, estabelecido “instrumentos para respostas rápidas ao impacto socioeconómico” e definido “uma ampla agenda política”.
A ONU sustenta que enviou mais de 180 equipas de emergência médica em todo o mundo e deu formação a mais de 2,1 milhões de trabalhadores de saúde.
O relatório publicado hoje faz referência ao Plano de Resposta Humanitária Global, do Escritório para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), que inclui os 63 países “mais vulneráveis”, entre os quais se encontram Angola, Brasil, Moçambique, Timor-Leste, República Centro-Africana e Venezuela.
Segundo a ONU, o Plano de Resposta Humanitária Global requer 10,3 mil milhões de dólares (8,7 mil milhões de euros) mas tinha angariado menos de 25% do valor até 03 de setembro, com cerca de 2,5 mil milhões de dólares (2,1 mil milhões de euros).
O Quadro de Resposta Socioeconómica proposto pela ONU necessita de mil milhões de dólares (845 milhões de euros) e só contava com 6% do valor em 03 de setembro: cerca de 49 milhões de euros.
No entanto, mais de 80% do valor total necessário foi angariado para o Plano de Preparação Estratégica e Resposta à Covid-19. De um total necessário de 1,47 mil milhões de euros, já foram recebidos mais de 1,2 mil milhões.
A ONU propõe ações especialmente direcionadas para cada um dos grupos populacionais mais vulneráveis, onde se encontram migrantes, mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiências.
Para o futuro, “orientada pela Agenda de Desenvolvimento Sustentável, a ONU vislumbra um processo de recuperação (…) abordando a crise climática, as desigualdades, a exclusão, as lacunas nos sistemas de proteção social e as muitas outras fragilidades e injustiças que foram expostas”, lê-se no relatório.
O secretário-geral da ONU voltou a reiterar a importância de um cessar-fogo em todo o mundo, que foi pedido pela primeira vez em março, e que já teve adesão de 180 Estados membros da ONU, mais de 20 grupos armados e mais de 800 organizações civis.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 936.095 mortos e mais de 29,6 milhões de casos de infeção em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.