O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou hoje que tinha a expetativa que Portugal registasse apenas 100 casos de covid-19, ou menos, por dia, no início de setembro, mas considerou a situação “controlada e estável”.
“A minha expetativa, em junho e julho, não o escondo, era que chegássemos agora [no início de setembro] com 100 casos ou menos por dia”, referiu, à margem de uma visita à vila de Castro Marim, no âmbito do ciclo de deslocações a todos os concelhos do Algarve.
O chefe de Estado considerou que “a situação está controlada e estável, no bom sentido do termo, em matéria de internamentos e cuidados intensivos”, mas que esperava “uma tendência decrescente, tendendo para diminuir progressivamente” no número global de casos.
“Infelizmente, não foi o que aconteceu. Nós estamos, em alguns dias da semana, com altos e baixos: aos fins de semana, [os números] são baixos – entre sábado e segunda -, e durante a semana são muito mais altos”, acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que não está preocupado e ressalvou que o Governo “é que diz que está preocupado”.
“Há várias declarações de membros do Governo que dizem que há qualquer coisa de preocupante ou que a situação é grave. Quando o Governo, com umas semanas de antecedência, admite passar a estado de contingência, não é porque está despreocupado, senão não anunciava o estado de contingência. Mais vale prevenir do que remediar. Só atua assim quem acha que pode haver o risco de, é só isso”, sustentou.
O Presidente da República recordou que está marcado para segunda-feira, no Porto, o retorno das reuniões sobre a evolução da covid-19, com a presença de todos os partidos políticos com assento parlamentar.
“Espero que essa sessão seja útil também para isso, para todos os partidos políticos perceberem por que é que o Governo, com antecipação, preventivamente, disse que tinha a intenção de, daí a umas semanas, vir a recorrer ao estado de contingência. Espero que essa sessão, além de esclarecer os portugueses na parte aberta, esclareça os partidos políticos com assento na Assembleia da República”, sublinhou.
Questionado sobre a presença de público nos estádios, uma pretensão reclamada pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional nas últimas semanas, o chefe de Estado disse que está em causa “a definição de regras e o acompanhamento da evolução da situação” e que a gestão da pandemia passa por “um equilíbrio entre a defesa da vida e da saúde e o não matar a economia ou a sociedade”.
“Isto é um equilíbrio entre dramatizar muito e desdramatizar totalmente. A dramatização total e a desdramatização total. É um equilíbrio. Nesse equilíbrio, entra a definição das regras sanitárias. Quando se define uma regra sanitária, atende-se ao risco que acarreta para a vida e para a saúde, mas também atende-se ao exemplo que se dá e como as pessoas leem isso. Pode a intenção ser muito boa e a leitura ser completamente diferente”, assinalou.
Exemplificando com as regras diferentes entre a Feira do Livro, os espetáculos, as escolas e nos estabelecimentos, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que “a afinação é complicada” porque a opinião pública espera “regras iguais para todas as situações”.
“Essa ponderação é uma ponderação que tem de ser feita pelos especialistas. Mas depois, e por isso é que ‘bati muito na tecla’ do esclarecimento, é preciso explicar para as pessoas perceberem por que é que num caso é um metro, noutro são dois metros e noutro é oito metros. Se não há explicação, uma parte dos portugueses dramatiza e outra parte desdramatiza completamente”, concluiu.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 869.718 mortos e infetou mais de 26,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.833 pessoas das 59.457 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.