Foi a primeira intervenção de fundo no primeiro dia de trabalhos do Congresso do PS, em Portimão. Depois de ser reeleito presidente do partido, com 91% dos votos, Carlos César falou em jeito professoral, para lembrar que num ano de tantos desafios e dificuldades devido à pandemia, é preciso o PS não se “contentar com obra feita” e não governar a pensar apenas nos “ganhos efémeros do dia seguinte”. Deve continuar a trabalhar e a garantir a “estabilidade política” necessária à governação.
Mas primeiro, não resistiu a lançar uma crítica velada ao PSD, depois de Rui Rio ter dito, em entrevista ao Expresso, que o PS “parte-se todo” se (ou quando) António Costa sair. “No nosso PS, não vivemos numa ‘paz fria’, chegámos aqui, ao contrário de outros partidos, unidos e a trabalhar com muito entusiasmo para recuperarmos rapidamente Portugal e merecermos, ainda mais, a confiança dos portugueses”, disse.
Recordando a história do Partido Socialista, César afirmou que o PS “não é um partido de ocasião” — prova disso é que o PS “é o único partido que, nas próximas eleições autárquicas, apresenta candidaturas a todos os municípios portugueses” — e traçou a meta máxima para as eleições de 26 de setembro: voltar a ter a maioria das câmaras e das juntas de freguesia.
“GOVERNAR PARA O FUTURO E NÃO PARA OS GANHOS EFÉMEROS DO DIA SEGUINTE”
Mas foi nos desafios e na responsabilidade da governação que mais se focou. Admitiu falhas, fragilidades e deficiências que a crise pandémica evidenciou, e apontou para aí as baterias, pedindo ao PS uma governação virada para o futuro e não apenas para os ganhos efémeros do dia seguinte. “É para isso que nos devemos vocacionar, governando para o futuro e não para os ganhos efémeros do dia imediatamente a seguir”, disse.
“Temos de continuar a ser ponderados e eficazes no combate à pandemia e, tal como temos feito, continuar a melhorar o SNS, a acolher outras iniciativas, operadores e prestadores de serviços que concorram para o mesmo fim”, disse ainda, aludindo aos privados e ao setor social na saúde.
Elogiando os passos dados pelo Governo na resposta à crise pandémica e no combate à crise económica e social — “que já vinha de trás” –, César pediu ainda ao PS que não se “iluda”. “Há muito para fazer e muito para mudar”. Porque os desafios da governação são muitos, e vão desde o combate à corrupção, aos desafios da crise climática, passando pelo sistema eleitoral (“devemos aproximar os eleitores dos eleitos”), e pelos desafios do sistema educativo, judicial, infraestruturas, transportes, mobilidade, natalidade e eficiência energética.
UM BEM ESSENCIAL: ESTABILIDADE POLÍTICA
Para responder a esses desafios, contudo, é preciso “estabilidade política”. “Temos de cooperar com os parceiros sociais para o acréscimo da produtividade, para a valorização dos salários e das relações laborais”, começou por dizer, passando depois para a cooperação com os partidos políticos: “Temos de assegurar, com iniciativa do PS, a estabilidade política e a cooperação interinstitucional, para que o país não desperdice as oportunidades que agora terá”.
É que sem estabilidade não há governação. “Temos de assegurar que essa estabilidade é construída, no dia a dia, sem perda dos valores que constituem o acervo institucional do PS”, acrescentou. “Cooperação”, “atitude reformista” e “responsabilidade”, foi pedindo.
No final, um último recado: PS não se deve contentar com a obra feita. “É a sensação de obra incompleta que nos deve fazer inquietar e mover, e não apenas o contentamento pela obra feita, que é, felizmente, muita”, disse, sublinhando que o PS deve prosseguir com uma “atitude reformista” para “sermos o que mais ambicionamos: um país desenvolvido, inclusivo, que protege os seus e que é creditado no exterior”.
Sobre o tão falado tabu da sucessão de Costa, nem uma palavra. Apenas um agradecimento ao secretário-geral do partido, e primeiro-ministro: “Com ele, com a sua liderança, iremos, certamente, continuar a vencer”.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso