O concurso para o projeto da nova barragem da Foupana, no Algarve, deverá ser lançado até ao fim do corrente mês, disse esta terça-feira à Lusa o presidente da Associação de Regantes do Sotavento Algarvio, Macário Correia.
“O Governo garantiu-me meio milhão de euros e a Associação de Regantes do Sotavento, […] conjuntamente com a Águas do Algarve, já começou a trabalhar no caderno de encargos para, nos próximos dias, lançarmos o concurso para o projeto dessa barragem”, disse o dirigente em declarações à agência Lusa.
Para o responsável, que foi secretário de Estado do Ambiente num governo de Cavaco Silva, na década de 1980, este projeto, que é acompanhado por um estudo de impacto ambiental, será “o primeiro passo” na construção de uma barragem que irá dar um “fôlego” aos problemas colocados pela falta de água no barlavento algarvio.
“Quer para o abastecimento urbano, quer para a agricultura, para o turismo, para o golfe, com a Choupana feita nós ficamos mais descansados. Coisa que neste momento não estamos”, afirmou Macário Correia, que também presidiu às câmaras de Tavira, durante 12 anos, e de Faro.
A Associação de Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento Algarvio (ABPRSA) recordava, num comunicado divulgado há algumas semanas, que nos últimos 40 anos se fizeram quatro grandes barragens no Algarve: Beliche, em 1986, Funcho em 1993, Odeleite em 1997 e Odelouca em 2009.
Macário Correia, que desde que se afastou da vida política se dedica à produção de laranja e alfarroba, recordou a estratégia prevista no Plano de Eficiência Hídrica do Algarve e no Pacto da Água, argumentando que “é preciso aproveitar a água que chove antes de ela se tornar salgada”.
O presidente da associação de regantes do sotavento (leste) algarvio aponta como aproveitamentos de primeira linha, nos próximos anos, a Foupana, o Alportel e a Ribeira de Monchique, salientando, ainda, um projeto em curso para em Albufeira se criar uma central de dessalinização.
Macário Correia aproveitou também para elogiar o atual ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, que afirma ser completamente diferente do seu antecessor, João Pedro Matos Fernandes.
“Este ministro tem uma postura muito mais positiva, muito mais dialogante e muito mais visionária e estratégica do que o anterior. O anterior é o culpado de não haver barragens no Algarve”, disse, acrescentando que Matos Fernandes “dizia coisas tontas”.
O ex-responsável governamental criticou a ex-líder do Bloco de Esquerda Catarina Martins por esta ter “uma visão extraordinária das barragens”, ao dizer, segundo ele, que “não se deviam fazer porque se evaporava a água”.
“Eu não sei o que seria do país sem barragens. Lisboa não bebia, não tinha Castelo de Bode, o Alentejo não tinha regadio, o Algarve não bebia, teria uns furos de água salgada e de água com lodo”, sublinhou, concluindo que “as barragens são necessárias aqui e em qualquer parte do mundo”.
O dirigente agrícola algarvio recordou que atualmente as cinco maiores barragens da região sul do país “estão todas com níveis baixos”, uma situação “preocupante”, se não chover algo de relevante até novembro.
Por outro lado, Macário Correia acusou as câmaras municipais algarvias de serem “incoerentes”, visto estarem a gastar mais água do que no ano passado, quando há cada vez menos água.
“Neste momento, uma coisa que é incoerente, nós estamos a cortar a água na agricultura, nos golfes, nos jardins, mas há rotundas, alcatrões e calçadas a ser regados todos os dias”, afirmou.
A Ribeira da Foupana é um curso de água que nasce na Serra do Caldeirão, a uma altitude de 495 metros, percorrendo os concelhos algarvios de Alcoutim e Castro Marim e desaguando na Ribeira de Odeleite, um pouco antes da sua foz na margem direita do Rio Guadiana.
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