A incerteza sobre o futuro do Museu da Cortiça de Silves, encerrado em 2010, está a preocupar a Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial (APAI), que marcou uma concentração pública em frente à antiga fábrica de cortiça para a próxima sexta-feira.
À Lusa, o presidente da APAI, Jorge Custódio, explicou que a acção de informação e repúdio visa alertar para a importância daquele museu, eleito em 2001 “Melhor Museu Europeu” na categoria de património industrial, e perceber as intenções das entidades privadas que adquiriram o espaço físico e o espólio em leilão.
“Pensamos que terá de haver um entendimento entre os atuais detentores do património de modo a preservar o carácter público do museu e a integridade do edificado”, explicou, frisando que o edifício da antiga fábrica de cortiça é um dos mais importantes na área da arquitectura industrial portuguesa.
A 30 de Maio, o espólio e o edifício foram alvo de disputa num leilão público em que a Câmara de Silves participou.
Espólio foi vendido ao Grupo Nogueira por 36 mil euros
O espólio foi vendido ao Grupo Nogueira por 36 mil euros e os edifícios desactivados da Fábrica do Inglês foram adquiridos pela Caixa Geral de Depósitos por 2,2 milhões de euros.
Construída sobre uma antiga fábrica de cortiça, a Fábrica do Inglês, complexo de animação turística fundado em 1999, albergava o Museu da Cortiça e espaços de restauração e espectáculos, mas faliu e desde há cinco anos está abandonada, tendo sido alvo de furtos de cobre e de outro material.
No museu permanecem máquinas únicas no mundo e outros equipamentos que remontam ao período em que Silves era a capital nacional da indústria corticeira.
A comissão portuguesa do Conselho Internacional de Museus veio a público mostrar-se apreensiva com o desfecho.
A concentração marcada para sexta-feira resulta de uma reflexão sobre aquele museu promovida na Jornada de Arqueologia Industrial, realizada recentemente em Lisboa.
Jorge Custódio conta que naquele encontro foi aprovada por unanimidade uma moção que tem como lema “Os museus e o património cultural não estão à venda” e que deverá ser transformada em petição em defesa dos valores patrimoniais e museológicos em causa.
“O valor de um museu deste tipo tem a ver com a memória e a identidade das populações e é necessário fazer a inclusão cultural mais do que propriamente a destruição destes valores que importam ao Algarve, ao turismo e à cultura do nosso país”, concluiu o responsável, que participou na criação do museu.
(Agência Lusa)