Os cientistas estudam há já vários anos o impacto que os protetores solares têm sobre os corais. Recentemente descobriram o mecanismo que torna um dos ingredientes que protege a nossa pele num tóxico para a vida marinha.
É um ritual quando se vai à praia: aplicar protetor solar na pele para limitar os malefícios do Sol. Mas nos últimos anos os estudos têm demonstrado que este produto que se destina a proteger os seres humanos está a prejudicar animais e algas marinhos.
Mais de 12.000 toneladas de protetor solar entram nos oceanos todos os anos e alguns países como o Havai ou o arquipélago de Palau decidiram mesmo proibir os protetores solares para preservar os seus recifes de coral.
COMO OS CREMES SOLARES PREJUDICAM A VIDA MARINHA?
Entre os vários químicos sintéticos que estão presentes nos protetores solares, a toxicidade para os recifes de coral foi atribuída em particular à oxibenzona, um filtro sintético que bloqueia os raios UV que causam as queimaduras solares. Alguns fabricantes estão a substituir esse componente por outros que protegem a pele de forma semelhante.
Mas como ter certeza de que essas alternativas não serão também prejudiciais para os corais? Uma equipa de cientistas da Universidade de Stanford, nos EUA, investigou de que forma essa molécula atua para prejudicar a vida marinha, estudando corais e anémonas, e os resultados foram publicados na revista Science.
A OXIBENZONA TORNA A LUZ SOLAR TÓXICA PARA OS CORAIS
No laboratório, expostas à oxibenzona em água do mar reconstituída, sob uma luz que simulava a luz solar, todas as anémonas do mar morreram em 17 dias, enquanto que as que foram expostas à oxibenzona na ausência de luz sobreviveram.
“Foi estranho descobrir que a oxibenzona tornou a luz solar tóxica para os corais, o oposto do que deveria fazer”, disse o autor do estudo William Mitch, professor de engenharia civil e ambiental da Universidade de Stanford, em comunicado.
A oxibenzona é concebida para, após absorver a luz ultravioleta, dissipar a energia da luz sob a forma de calor, evitando as queimaduras solares na pele. No entanto, dizem os autores do estudo, as anémonas e os corais “metabolizam” a oxibenzona, ou seja, transformam-na noutra substância que, quando exposta à luz solar, liberta radicais livres nocivos que danificam as células. “Quando a oxibenzona é exposta à luz ultravioleta há uma reação química que faz com que danifique as células de anémonas e corais.”
Além dessa vulnerabilidade, os cientistas encontraram provas de um mecanismo de defesa dos corais a sofrer com este fenómeno. As algas simbióticas que vivem nos corais protegem os seus hospedeiros sequestrando dentro de si as toxinas que os corais produzem a partir da oxibenzona.
À medida que as águas dos oceanos aquecem, os corais stressados expulsam estes seus parceiros algas, deixando expostos os seus esqueletos brancos. Assim, além de ficarem mais vulneráveis a doenças e choques ambientais, estes corais “embranquecidos” ficam mais vulneráveis aos efeitos da oxibenzona presente nos protetores solares sem as algas a protegê-los.
Mas há outros fatores que ameaçam os recifes de coral: as alterações climáticas, a acidificação dos oceanos, a poluição costeira, a pesca excessiva que esgota os principais elementos dos ecossistemas de recife.
Por isso não basta mudar de protetor solar para proteger os recifes de coral. Há uma série de pequenos gestos que cada um pode fazer para salvar não só os corais mas todo o planeta.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL