Os minúsculos peixes-zebra (Danio rerio) são criaturas muito estudadas pela ciência pelas suas capacidades extraordinárias. Sabes-se que estes peixes completamente transparentes podem desenvolver novos órgãos e que conseguem regenerar o tecido da retina dos seus olhos. Um novo estudo revela agora que consegue regenerar o tecido cardíaco após uma lesão.
“Queríamos descobrir como este peixinho faz isso e se poderíamos aprender com ele”, avança o principal responsável do estudo, o biólogo Jan Philipp Junker, do Instituto de Biologia de Sistemas Médicos de Berlim, na Alemanha. Em co-autoria com Daniela Panáková, do Centro de Medicina Molecular Max Delbrück, explicam na revista Nature Genetics a sucessão de eventos que levam à regeneração do coração em peixes-zebra.
Nos seres humanos, após uma lesão, as células do músculo cardíaco chamadas cardiomiócitos não conseguem regenerar-se. A falta de oxigénio durante um ataque cardíaco danifica de forma permanente os nossos cardiomiócitos e formam-se cicatrizes (fibrose) no lugar do músculo perdido, deixando o coração mais fraco do que antes.
Mas o peixe-zebra é capaz de regenerar até 20% do seu coração, do tamanho de 1 milímetro, nos dois meses que se seguem a uma lesão cardíaca.
O que este novo estudo mostra é que as células do tecido conjuntivo – fibroblastos – conduzem o processo de regeneração do coração no peixe-zebra, produzindo proteínas que atuam como sinais para a reparação.
Neste novo estudo, os investigadores eletrocutaram os pequenos corações dos animais com uma agulha ultra-fria para imitar um ataque cardíaco humano e observaram o que aconteceu.
Surpreendentemente, a resposta imediata à lesão é muito semelhante em humanos e nos peixes-zebra. Mas, enquanto o processo nos humanos pára nesse ponto, continua nos peixes formando novos cardiomiócitos que são capazes de se contrair.
Novos passos no sucesso da medicina regenerativa
Esta descoberta vêm no seguimente de outros esforços promissores na medicina regenerativa – que procura substituir ou reparar corações danificados com terapias baseadas em células ou medicamentos que imitam moléculas como as que tem o peixe-zebra.
No início deste ano, numa cirurgia inédita, foi transplantado um coração de porco num paciente humano (embora, infelizmente, o homem tenha morrido dois meses depois).
Em maio, cientistas identificaram as células humanas que ajudam o coração humano a recuperar após um ataque cardíaco.
E em junho, os cientistas conseguiram ‘curar’ um ataque cardíaco em ratinhos com uma técnica de mRNA que fornece instruções genéticas às células do músculo cardíaco para se regenerarem.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL