Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluíram que apesar de a genética influenciar “bastante” os comportamentos alimentares das crianças, o ambiente em que se inserem pode moldar a sua predisposição quanto ao apetite.
A investigação, publicada na revista ‘Eating and Weight Disorders — Studies on Anorexia, Bulimia and Obesity’, pretendia avaliar de que forma a genética e o ambiente influenciavam a variabilidade dos comportamentos alimentares das crianças.
Em declarações à Lusa, a primeira autora do estudo, Sarah Warkentin, afirmou que, apesar de vários estudos no Reino Unido avaliarem essa influência, em Portugal “não havia nenhum que fizesse essa análise”.
Para compreender os fatores que influenciavam a variabilidade dos comportamentos alimentares das crianças, os investigadores analisaram 86 pares de gémeos, com 10 anos, da ‘coorte’ Geração XXI (um estudo longitudinal do ISPUP que, desde 2005, segue participantes que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto).
“Os gémeos são uma experiência natural porque temos os gémeos idênticos, em que 100% da sua genética é compartilhada, e os não idênticos, em que 50% da genética é partilhada. Por meio de análises estatísticas conseguimos estimar o que é influenciado pela genética e pelo ambiente”, esclareceu.
Através de um questionário preenchido pelos pais, os investigadores avaliaram oito comportamentos relacionados com a alimentação, nomeadamente, o prazer em comer, a resposta à comida, o desejo por bebidas, a sobre-ingestão emocional, a resposta à saciedade, a ingestão lenta, a seletividade alimentar e a sub-ingestão emocional.
“Vimos que a genética tem uma grande influência em todos os comportamentos alimentares à exceção da sub-ingestão emocional, que parece ser mais afetada pelo ambiente”, afirmou Sarah Warkentin, acrescentando que, apesar da influência genética, “o ambiente em que as crianças se inserem também é muito importante”.
“O ambiente consegue moldar a predisposição nos comportamentos alimentares”, observou.
Segundo Sarah Warkentin, os resultados do estudo apontam para a necessidade de se “apostar em intervenções que trabalhem a família como um todo”, seja aumentando a disponibilidade de alimentos saudáveis, seja utilizando estratégias como exposição constante a fruta e hortícolas.
A par do ambiente familiar, a investigadora destacou ainda que o ambiente escolar deve “ser promotor de saúde e ensinar sobre alimentação para que a predisposição genética das crianças possa ser moldada”.
O estudo, intitulado ‘Genetic and environmental contributions to variations on appetitive traits at 10 years of age: a twin study within the Generation XXI birth cohort’ e coordenado pela investigadora Andreia Oliveira, foi financiado pelo programa FEDER e pela Fundação Para a Ciência e Tecnologia (FCT).