Um grupo de cientistas norte-americanos anunciou esta segunda-feira algo que já foi descrito como um passo em direção à leitura da mente. Os cientistas encontraram uma maneira de usar ressonâncias magnéticas cerebrais e modelagem de inteligência artificial para decifrar “a essência” do pensamento das pessoas.
O principal objetivo deste “descodificador” é ajudar as pessoas que perderam a capacidade de comunicar, no entanto os cientistas reconhecem que a tecnologia levanta questões sobre a “privacidade mental”.
Investigações anteriores mostraram que um implante cerebral pode levar pessoas que não conseguem falar, ou digitar, a conseguirem soletrar palavras ou até mesmo frases.
Alexander Huth, neurocientista da Universidade do Texas em Austin, e coautor do estudo, revela que o descodificador de linguagem da sua equipa “funciona num nível muito diferente. O nosso sistema realmente funciona ao nível das ideias, da semântica, do significado”.
É o primeiro sistema capaz de reconstruir a linguagem contínua sem um implante cerebral invasivo, segundo o estudo publicado na revista Nature Neuroscience.
Neste estudo, três pessoas passaram um total de 16 horas dentro de uma máquina fMRI a ouvir histórias narrativas faladas, principalmente podcasts. Isso permitiu aos investigadores mapear as reações que palavras, frases e significados provocavam nas regiões do cérebro conhecidas por processar a linguagem.
Os investigadores alimentaram esses dados num modelo de linguagem de rede neural que usa “GPT-1”, o antecessor da tecnologia de Inteligência Artificial posteriormente implantado no popular ChatGPT.
O modelo foi treinado para prever a forma como o cérebro de cada pessoa responderia ao discurso percebido e, em seguida, restringiria as opções até encontrar a resposta mais próxima.
Para testar a precisão do modelo, cada participante ouviu uma nova história na máquina fMRI.
“Estamos a descodificar algo que é mais profundo do que a linguagem e, em seguida, estamos a converter isso em linguagem”, disse Huth.
Como a ressonância magnética funcional (fMRI) é muito lenta para capturar palavras individuais, ela recolhe uma “confusão, uma aglomeração de informações em alguns segundos. Assim podemos ver como a ideia evolui, mesmo que as palavras exatas se percam.”
Os investigadores anteciparam preocupações de “privacidade mental” e realizaram testes para demonstrar que o descodificador não funciona em nenhuma pessoa se não tiver já sido testado na própria atividade cerebral própria de cada um.
Os três participantes conseguiram iludir facilmente o descodificador. Ao ouvir um dos podcasts, os usuários foram instruídos a contar até sete, nomear e imaginar animais ou contar uma história diferente na sua mente. Todas essas táticas “iludiram” o descodificador, disseram os cientistas.
Em seguida, a equipa espera acelerar o processo para que possa descodificar os exames cerebrais em tempo real.
Os investigadores envolvidos pediram para que sejam criados regulamentos para proteger a privacidade mental. “Até agora, nossa mente tem sido a guardiã da nossa privacidade. Esta descoberta pode ser um primeiro passo para comprometer essa liberdade no futuro”, apelou Rodriguez-Arias Vailhen.