A Câmara de Aljezur foi no passado sábado rodeada por um cordão humano de protesto contra a exploração de hidrocarbonetos em terra e em mar no Algarve, onde participaram cerca de 300 pessoas de diferentes nacionalidades.
“Vão-se embora”, “Fora”, gritaram os participantes, muitos deles envergando cartões vermelhos, outros cartazes ou cruzes de madeira pintadas de vermelho com apelos ao Governo para que trave o processo de prospecção e exploração no Algarve.
“Este cordão humano de hoje é um apelo ao Governo de António Costa e ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa para saírem do sono profundo em que se encontram em relação à exploração de petróleo e gás natural na região do Algarve”, disse à Lusa João Martins, do Movimento Algarve Livre de Petróleo (MALP).
Defendendo que os responsáveis políticos nacionais não podem consentir esta actividade no Algarve, actividade que descreve como “um crime público”, João Martins deixou um apelo para a travagem do processo em prol da natureza, do turismo, da economia e da paz social da região.
“Quando foi o próprio responsável da Entidade Nacional para o mercado dos combustíveis, Paulo Carmona, a dizer que estes contratos têm irregularidades, só há uma coisa a fazer: parar já com estes contratos e ir ao encontro das expectativas legítimas das populações do Algarve”, destacou.
A alemã Andrea Peters tem residência em Aljezur há oito anos e disse à Lusa que quando decidiu adquirir casa no Algarve, para viver rodeada de natureza, nunca pensou que a exploração petrolífera fosse um problema.
“É mau para a natureza, para as pessoas, para a região”, comentou admitindo ter medo que o Governo português deixe o processo avançar.
Manifestante lamenta número de participantes portugueses
Anabela Batista é natural de Aljezur e também participou no protesto, apesar de lamentar que os portugueses não tenham tido uma presença tão ou mais numerosa que a comunidade estrangeira residente.
“Não sou a favor da exploração de petróleo na nossa zona. A costa vicentina sempre foi conhecida por ser um parque natural e não um parque industrial, portanto, não queremos transformar aquilo que temos de bom numa situação menos boa que não traz vantagens”, explicou.
À Lusa, disse manter a esperança que, caso a prospecção avance no terreno se prove que não existe possibilidade de lucro e as petrolíferas se afastem de vez da região.
A acção incluiu ainda a recolha de assinaturas, uma assembleia popular e um ‘flash mob’.
A iniciativa foi organizada por várias associações da região e pelo Movimento Algarve Livre de Petróleo (MALP) e contou com o apoio da autarquia.
“A Câmara de Aljezur aderia a esta forma tolerante mas determinada para dar um grande cartão vermelho à exploração de hidrocarbonetos no Algarve, em terra e em mar, mas muito particularmente para apelas a esta discussão pública em curso até dia 22 (Junho) para evitarmos o primeiro furo na bacia do Alentejo, ao largo de Aljezur”, disse o autarca José Amarelinho.
Aquele responsável municipal mostrou-se confiante que o processo vai ser travado e salientou que a região tem mostrado a sua posição relativamente a esta questão tanto ao nível popular como ao nível dos seus representantes políticos, tendo a Comunidade Intermunicipal do Algarve avançado com acções judiciais.
“Obviamente poderemos estar quase, quase, a ganhar uma batalha que tem a ver com o ‘on-shore’ [terra] mas esta batalha no mar não é de todo uma batalha perdida”, observou.
Os movimentos envolvidos na luta contra a exploração de hidrocarbonetos no Algarve garantem que vão continuar a promover protestos e acções de sensibilização da população assim como a recolha de assinaturas para petições.
A ida para a praia para esclarecer os turistas sobre a actividade petrolífera no Algarve é uma das possibilidades que estão em avaliação, explicou João Martins da MALP.
(Agência Lusa)