São um casal e têm um objetivo em comum: ajudar quem mais precisa. Esta é a missão de Lisandra Brito e Paulo Guerra, naturais de Albufeira. A pandemia obrigou à união de forças de várias pessoas para conseguirem corresponder às necessidades que se fazem sentir pelos mais carenciados, a nível de alimentação e bens de higiene.
Popularmente, costumamos dizer que de “grão a grão, enche a galinha o papo” e, em tempos de maior dificuldade, esse ditado ganha ainda mais força. Lisandra Brito tem um centro espiritual, o Cura da Alma, tratado como um “hospital espiritual”. Desde sempre esteve ligada ao interior de cada um e ajuda todos os que a visitam. Enquanto isso, Paulo Guerra é enfermeiro de formação e bombeiro voluntário há 20 anos. Já participou em várias missões internacionais de voluntariado. O casal uniu forças para compartilhar um pouco do que tem com quem mais precisa e confessa que em duas semanas conseguiu ajudar 70 famílias, que “ultrapassaram a região algarvia e chegaram também ao Alentejo”.
É uma missão complicada, mas que lhes traz um sentimento de realização ao final do dia. Dia esse que tem “36 horas”, como dizem. Lisandra Brito teve de diminuir a carga horária das suas consultas para se poder dedicar ao projeto que assumiu ao lado do marido e que chamaram “Uma Causa, um Sorriso”. É um projeto online que angaria alimentos e bens de higiene para famílias carenciadas, mas que leva também na carrinha “amor e afeto”, algo que faz falta a todos nestes tempos de incerteza.
São momentos alegres, ajudar quem precisa, mas por vezes não é fácil lidar com o desgaste. Lisandra Brito assume que chora muito e fica de rastos com algumas situações que conhece. Já o Paulo tem uma maior resistência a estas situações, devido à sua profissão e também pelo facto de já ter feito voluntariado. É preciso “desligar” a tomada ao final da noite, depois dos dias de trabalho que têm no auxílio aos mais carenciados.
Os pedidos aumentam de dia para dia
Os pedidos aumentam de dia para dia, como seria expectável da crise provocada pela covid-19. O casal assume que “as instituições não têm resposta” e, por isso, tornou-se essencial a união de ambos neste projeto solidário. É preciso reconhecer as dificuldades dos outros e perceber que todos podemos dar um pouco de nós. Apesar dos pedidos, muita gente tem-se juntado à iniciativa. Durante as visitas às famílias é Lisandra quem faz o primeiro contacto, por ser mais sensível. “Tentamos sempre ajudar sem dar a ideia de que o estamos a fazer”, revela. Os assuntos são tratados com naturalidade para evitar que as pessoas tenham vergonha.
Contudo, muitas delas têm vergonha, mas o casal coloca-se no “lugar das pessoas para quebrar o gelo”. Dizem que “hoje são vocês, amanhã somos nós a precisar de ajuda” e tranquilizam as famílias, que muitas vezes são numerosas. A verdade é que muitos são os que têm vergonha, mas a estratégia dos responsáveis por “Uma Causa, um Sorriso” é assinalar as pessoas mais contidas e ligar-lhes depois, dizendo “que estamos a passar ali perto e temos umas coisinhas a mais na carrinha”. É uma forma de contrariar a vergonha. Lisandra Brito conta emocionada que durante uma das visitas conheceram uma senhora grávida e foram entregar um ovo de chocolate ao seu outro filho. Assim que o rapaz viu a carrinha seria expectável que ficasse entusiasmado com a prenda, mas o olhar dele foi direcionado para os pacotes de leite que via, pois “eles não tinham leite para beber”.
São situações complicadas de gerir emocionalmente, como já foi referido. Além disso, o casal tem três filhos e a logística é complicada. A sogra de Paulo Brito tem sido um elemento fundamental para cuidar dos filhos. Ainda assim, nem isso trava o casal, que pretende futuramente formar uma associação e continuar o trabalho que está a desenvolver, mesmo após os tempos mais complicados da pandemia. É a força de vontade e a solidariedade que movem esta ação, num objetivo de chegar a mais gente.
Muitas vezes, Lisandra Brito e Paulo Guerra ficam até às 2 horas da manhã a organizar a sua agenda, a fazer contactos e a responder às mensagens de apoio que recebem. É preciso pedir apoio à Câmara de Albufeira para conseguir continuar com este projeto e atender a todos os pedidos. “Ajude-nos a ajudar” é o pedido de ambos, que apelam a todos os que puderem para contribuírem com alimentos, produtos de higiene ou até mesmo disponibilidade para ajudar nas entregas.
A pandemia continuará no nosso país por tempo indeterminado e as ajudas não podem abrandar, pois a fome continua a existir na região algarvia, diz o casal, que contou várias histórias das suas visitas. Em breve, o Algarve terá mais uma associação para apoiar quem mais precisa. Por agora, pode procurá-los nas redes sociais. Unir forças e fazer o bem, é “uma causa” que pode gerar “um sorriso”.
Pode conhecer e ajudar o projeto no Facebook “Cura da Alma” ou do grupo “Uma Causa, um Sorriso”.