Aos 33 anos, Ming era uma professora satisfeita e grata por ter crescido e estudado em Portugal. Tinha grande orgulho de ser luso-chinesa, por considerar muito duas culturas e línguas, que se casavam bem.
Foi com todo o prazer que a jovem professora acolheu os seus estudantes portugueses, que iriam iniciar os seus Estudos em Mandarim, na Escola Chinesa de Lisboa, ou melhor na Lissebon Hàn Yu (diz-se assim).
Desde a primeira aula, Ming quis conhecer as motivações dos seus estudantes, com idades compreendidas entre os 24 e os 60 anos.
A par dos ensinamentos de “Como se chama?” e afins questões formuladas em Mandarim, houve uma questão ensinada, mais adiante, que serve de exemplo à vocação humana da professora. A resposta a essa pergunta suscitou o debate em torno da condição de desemprego, em Portugal e no mundo. “Qual o seu trabalho?”/ “Ni zuó gong zuó?”.
Quando Ming me perguntou qual o meu trabalho, disse-lhe que estava desempregada, há muito. Para meu espanto, dirigiu-me as seguintes palavras de apreço extensíveis a todos os jovens desempregados: “É o mercado de trabalho que fica a perder por não integrar capacidades e perfis originais como o seu”.
Nunca esquecerei a conclusão do meu primeiro ano de mandarim, com a professora Ming. É verdade que tive 19 valores, que muito me orgulharam, mas o maior orgulho incidiu no sucesso escolar de toda a turma!
No final de dois semestres, soubemos ler cerca de 400 caracteres e redigir (com algum auxílio) cerca de 150.
Como recompensa, Ming levou-nos ao Casino Estoril, para interpretar uma canção chinesa, que abordava desafios e vitórias na vida.
Caçadores de Histórias
Hoje publicamos uma crónica da nossa leitora Daniela Gonçalves, a partir de uma experiência pessoal que nos deixa esta lição: a vida (a nossa vida) é um processo de permanente aprendizagem. Uma lição que nos motiva a ultrapassar os obstáculos que vão surgindo na caminhada dos dias.
Como se dirá obrigado em mandarim? R.S.
Se tiver histórias de vida, do quotidiano, suas ou de pessoas que conheça, atreva-se. Este espaço é seu.
Escreva e envie-nos os seus textos para: [email protected]