A região do Algarve enfrenta desafios significativos em relação ao abastecimento de água, conforme revelado pelos recentes relatórios da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). As barragens, fundamentais para suprir as necessidades hídricas da região, estão atualmente a menos de um quarto da sua capacidade total, indicando uma situação crítica que pode afetar não apenas os agricultores, mas toda a população.
Segundo o DN, a chuva parece ter negligenciado o Algarve, enquanto outras regiões do país, como o Norte e o Centro, beneficiaram de precipitações mais generosas. A seca, longe de ser um episódio pontual, tornou-se uma ameaça constante, evidenciada pela queda nas reservas de água nos últimos 20 anos. O Algarve não está apenas a enfrentar uma seca; está a entrar num período de desertificação, alertam os especialistas.
As barragens, como a Bravura, Odelouca, Arade, Funcho, Odeleite e Beliche, encontram-se em estado crítico, com menos de um quarto da capacidade disponível. O Algarve tem 17 aquíferos no subsolo; estas reservas, apelidadas de “Alquevas debaixo dos nossos pés” pelo hidrólogo José Paulo Monteiro, estão a esgotar-se devido à falta de recarga provocada pela escassez de precipitação.
O impacto desta crise hídrica é visível nos campos agrícolas, especialmente nos pomares de citrinos e abacates. A produção de laranjas, que representa metade da produção total do Algarve, está a sofrer uma redução significativa devido à escassez de água para rega. Os agricultores enfrentam dificuldades crescentes, com algumas árvores já secas e outras em regime de sobrevivência.
A situação torna-se ainda mais complexa com a expansão das plantações de abacateiros, que, embora tragam rendimentos adicionais aos agricultores, também consomem uma quantidade considerável de água. A questão da gestão eficiente da água torna-se crucial, especialmente quando se observa o aumento das plantações de abacate, uma cultura apontada por alguns como uma das responsáveis pelo agravamento da crise hídrica.
Além disso, a questão da propriedade da água subterrânea surge como um desafio legal. O facto de as águas subterrâneas serem consideradas propriedade privada dos donos dos terrenos levanta questões sobre o controlo e fiscalização efetivos da extração de água dos aquíferos. O sistema atual, que permite a existência de furos ilegais e a ausência de contadores, contribui para a falta de transparência na gestão hídrica.
As soluções propostas, como a construção de uma central dessalinizadora, modernização da rede de abastecimento urbano, utilização de tecnologia para fiscalização de furos e reutilização de água residual tratada, são passos na direção certa. No entanto, a lentidão na implementação destas medidas levanta preocupações sobre a urgência na abordagem da crise hídrica.
O Plano de Resiliência e Recuperação (PRR) da União Europeia destina 240 milhões de euros para investimentos que visam enfrentar a escassez de água no Algarve. Embora seja um passo positivo, alguns especialistas argumentam que estas ações deveriam ter sido implementadas há pelo menos uma década para evitar o agravamento da situação atual.
Em última análise, o Algarve enfrenta um desafio monumental na gestão da água. É necessário um compromisso urgente com o planeamento sustentável e a implementação eficiente de medidas para garantir que a região não apenas sobreviva, mas prospere face à crescente escassez de água.
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