O excesso de plástico é um problema bastante recorrente nos dias atuais, que tem inúmeras consequências, principalmente para o ambiente, no entanto, já existem pessoas, estabelecimentos e entidades a tentar reverter esta tendência. Jorge Santos e a sua equipa são um destes exemplos.
Jorge Santos é proprietário do Bar L.A, Call In, Pipers, um hostel (pinguim) e ficou recentemente com a exploração do bar da Associação Recreativa e Cultural dos músicos de Faro.
“Nós começámos a fazer algumas alterações nos nossos estabelecimentos há cerca de um ano e meio porque estava a fazer-nos confusão os problemas que o plástico causa”, começa por afirmar o responsável.
Jorge Santos explica que “tirámos um curso de bartending sustentável, numa escola de formação de bartending, onde aprendemos alguns truques de sustentabilidade e nos foi ensinado a reutilizar vários materiais”.
O proprietário dos bares farenses afirma que “aquilo que nos apercebemos é que ficava realmente muito caro, por exemplo, a questão das palhinhas e do papel reciclado, e começámos a perceber que a ideia não era só nós fazermos, mas sim todos fazerem”.
Jorge Santos já tentou criar um copo comunitário
“Deste modo, falámos com a Sciena na tentativa de criar um projeto para um copo reutilizável. Queríamos implementar uma cultura em Faro, de modo a que a cidade fosse pioneira no sentido de os clientes adquirirem um copo reutilizável num sítio e o pudessem devolver noutro”, explica.
Jorge Santos relembra que a “ideia inicial era a criação de um copo comunitário, algo que ainda achamos ser a melhor solução”.
“Nós tínhamos pensado que o copo se poderia chamar “FARRA – Faro Reabilita, Reutiliza” e estávamos a tentar que a Garrafeira Soares fizesse a gestão dos copos. Já tentámos, inclusivamente, criar um núcleo”, afirma.
O responsável diz que “o ideal era que Faro fosse o exemplo a nível nacional desta consciencialização e que não tivéssemos de ser forçados pelo Estado a tomar este tipo de decisões.
A melhor maneira de fazer isto era “juntarmo-nos todos. Íamos gastar menos dinheiro, íamos estar a ajudar o ambiente, tudo ia fazer mais sentido. Para isso era preciso alguém liderar esta campanha. Eu já tentei, falei com muita gente que concordou, mas depois não efetivou”.
Apesar de não ter havido uma adesão tão grande quanto aquilo que seria expetável relativamente à participação de outros estabelecimentos, Jorge Santos pretende fazer a diferença nos seus espaços.
A Super Bock facultou alguns copos reutilizáveis “Felizmente, a Super Bock chegou-se à frente com alguns copos reutilizáveis. Nós já na altura tínhamos mudado tudo para vidro. E agora trabalhamos assim: alguém que venha a um estabelecimento nosso comprar um copo pode devolver em qualquer outro estabelecimento nosso. Podem trazer uma caneca de casa, que são servidos na mesma nessa caneca”.
Jorge Santos afirma que “tentamos ao máximo que exista esta preocupação ecológica, pelo que eliminámos por completo o plástico. Tirámos inclusivamente as palhinhas de cima do balcão”.
Uma contabilização de 9 de dezembro dava conta de que “em 60 mil litros de cerveja vendida nos nossos espaços (Call In Faro, Pipers Bar & Pub e L.A) não gastámos 300 mil copos”.
“Eliminámos também coisas como pacotes de batatas por causa do invólucro. Trabalhamos as nossas batatas e acabámos com este tipo de embalagem que prejudica mais do que nos acrescenta. Temos ainda guardanapos 100% recicláveis”,conta.
Dando um exemplo mais concreto,”aqui no L.A. passámos a ter imperial em copo reutilizável a 0,50 cêntimos em qualquer altura do dia e tínhamos happy hour 1 euro – três imperiais – e a ideia era “traz o teu copo, és servido no teu copo, elimina o plástico, conseguimos ultrapassar isso juntos”, no entanto, a nossa concorrência era muito forte e manteve o copo de plástico, sendo que é aqui que entra a parte difícil. Começámos a perceber que o trabalho era muito mais difícil do que se esperava”.
“Percebemos que se trata de mudar mentalidades, comportamentos e
hábitos, isso obrigou-nos a tirar novamente um curso de bartending sustentável, de maneira a ter um comportamento verbal e físico com os clientes que lhes permitisse explicar estas questões”, relembra.
“Imagine um cliente que está a sair às 3:50 da manhã do Call In com um copo de vidro e o segurança lhe diz que não pode sair”.
A primeira reação do cliente é: “Ok. Onde é que estão os copos de plástico então? E é aqui que entra o discurso e é explicado que não usamos copos de plástico e que temos um copo reutilizável, que pode ser comprado e devolvido noutro dia qualquer”.
“Este tipo de situação gera, muitas vezes, um certo conflito. Fomos
obrigados a aprender com isso e a gerir estes contratempos. Atualmente, já quase toda a gente está informada”.
O proprietário afirma que “o copo pode ser devolvido em qualquer lado. Se alguém for aos nossos espaços e levar um copo de casa, ou levar, por exemplo, um copo da Sagres, nós servimos no copo da Sagres”.
A ideia é “as pessoas sentirem que estão a fazer algo em prol de alguma coisa e nós não estamos aqui para criar barreiras, estamos sim aqui para criar soluções”.
“Temos de entender que o plástico tem mesmo de acabar. Nós compreendemos isso há um ano e tal atrás. Felizmente, agora o Governo vai proibir o uso do plástico e as coisas vão ser mais fáceis”, defende.
Pessoal faz tatuagens dos espaços onde estão a trabalhar
Quanto à reação dos funcionários dos estabelecimentos, Jorge Santos é peremptório: “todo o pessoal apoiou e compreendeu. O pessoal tem muito orgulho de trabalhar connosco. Muitos deles têm as tatuagens dos espaços onde estão a trabalhar e eu tenho a tatuagem deles. Existe muito amor entre nós”.
Jorge Santos afirma que “por exemplo, os copos de plástico da Super Bock
foram abolidos completamente”.
“Copos de plástico shot ainda vão sendo usado às vezes. O Call In é uma
casa que tem 150 shots diferentes e usamos tudo para contornar o plástico, mas nas noites mais fortes acabamos por usar alguma coisa de plástico. Talvez 40/50 copos, quando antigamente eram 300 por noite, e agora estamos só a falar de noites fortes, como a sexta e o sábado”.
O responsável afirma ainda que “conseguimos influenciar alguns estabelecimentos como o é o caso da ‘Madalena’”.
O proprietário destes bares farenses conta que tem vários parceiros importantes. “A Super Bock é o parceiro principal. A Diageo também nos deu uma grande ajuda. Fazemos festas de barcos durante o ano e a Diageo ofereceu-nos copos da Captain Morgan e da JB reutilizáveis. À entrada do encontro dávamos um copo por pessoa”, explica.
“Depois, temos a Kodis Faro que, para além de distribuir a Super Bock, faz muita força para que as coisas corram bem para toda a gente, são muito preocupados com os projetos, dão-nos força, facilitam condições. Estamos muito, muito felizes com eles”, salienta.
Jorge Santos enaltece ainda a importância da Erasmus Student Network (ESN) como parceiros.
Kaique Bucci, funcionário do L.A, disse ao POSTAL que “se preocupa muito com estas questões. Antes de trabalhar para o Pipers, vim para o L.A. Nós já sabemos que existem lugares onde as coisas são mais baratas porque estão a comprar coisas que já não se devem utilizar”.
“Essa consciência despertou em mim muito cedo. Se eu trabalhar num sítio onde os funcionários também estão preocupados com isso é muito importante. É sinal de que estão preocupados com o “Humanismo” e isso é fundamental, destaca ao POSTAL.
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)