Os bancos alimentares são instituições de cariz social, sem fins lucrativos, cujo principal objetivo é combater os desperdícios de comida. Para tal, é feita uma recolha e seleção dos bens alimentares de modo regrado, sendo posteriormente distribuídos a quem mais precisa, de forma totalmente gratuita.
O POSTAL visitou as instalações do Banco Alimentar Contra a Fome do Algarve (BACFAlg) para entender como se processa toda a dinâmica dentro da instituição.
80% dos alimentos que distribuímos resultam do trabalho diário, da luta contra o desperdício
Nuno Alves, responsável pelo banco alimentar do Algarve, explicou ao POSTAL “que 20% dos alimentos que distribuímos hoje no distrito resultam das campanhas, mais concretamente da campanha de supermercado e da campanha papel por alimentos. Os outros 80% dos alimentos que distribuímos resultam do trabalho diário, da luta contra o desperdício alimentar. O banco alimentar faz este trabalho em Portugal há 28 anos e no caso concreto de Faro há 12”.
Atualmente existem 21 bancos alimentares em funcionamento, distribuídos pelo território nacional e ilhas.
“Nós temos uma série de parceiros, nomeadamente supermercados, empresas ligadas à distribuição, produtores do setor agrícola, alguns parceiros da pesca, alguns parceiros da panificação, mercados abastecedores, todo um conjunto de parceiros que vão gerando na sua atividade diária excedentes, que são produtos que por qualquer motivo não são comercializados mas que estão em perfeitas condições de consumo. Atualmente, o banco dispõe de três carrinhas frigoríficas, uma no barlavento e duas no sotavento que fazem a recolha dos alimentos”, referiu Nuno Alves.
Segundo o responsável do banco alimentar, “o grosso dos excedentes recuperados na região são frescos. O cabaz médio do ano 2018 foi composto por 71% de produtos frescos e 29% de produtos secos”.
Banco Alimentar Contra a Fome apoia 106 instituições no Algarve
O Banco Alimentar contra a Fome do Algarve apoia atualmente 106 instituições de 15 dos 16 concelhos do Algarve.
“Depois da crise conseguimos estar a apoiar menos pessoas do que estávamos a apoiar antes da crise. É sinal de que alguma coisa foi feita e que o grosso das pessoas não vive deste expediente, ao contrário do que muitas vezes se pensa”, afirmou o presidente do BACFAlg.
O banco alimentar tenta fazer a distribuição dos bens alimentares, de forma que seja garantido um cabaz de produtos secos por mês. As instituições vão à sede do banco levantar o cabaz de secos 12 vezes por ano (uma por mês). No caso dos frescos o banco funciona muito em função dos alimentos que tem.
Atualmente são as próprias instituições que procuram o banco alimentar.
Quanto às pessoas e famílias carenciadas, são as instituições que sinalizam as situações de risco. O banco alimentar faz um controlo das pessoas que estão a ser apoiadas, através do cruzamento interno de informações, que permite que os apoios não sejam duplicados.
Apoio chega a 15.500 pessoas
O apoio prestado por esta organização chega a 15.500 pessoas, quer por via de cabazes, quer por via de refeições confecionadas. Em tempos de crise os números chegaram a rondar as 23 mil pessoas.
O banco alimentar depende do esforço diário de todos aqueles que praticam voluntariado.
Carlos Marques tem 64 anos, é reformado e colabora de forma voluntária no banco alimentar há cerca de sete anos. Ao POSTAL disse “faço voluntariado porque gosto de ajudar os outros. O trabalho que fazemos aqui é importantíssimo. Quanto às funções que desempenho é importante referir que faço quase tudo, oriento, vejo o que está bem e o que está mal, faço o controlo dos alimentos, e ajudo na parte da preparação para a distribuição. Temos bastante trabalho aqui”.
Sublinhou ainda que “o principal problema é a falta de pessoas, é a falta de voluntários. As pessoas vêm para aí, estão um bocadinho e vão-se embora. Na minha forma de ver era preciso ter sempre três pessoas efetivas para que tudo fosse mais equilibrado. Eu, por exemplo, passo cá sete ou oito horas por dia, à exceção de sexta-feira”.
Há uma falta enorme de voluntários na estrutura do banco alimentar no Algarve
Nuno Alves reforça exatamente esta ideia, referindo que “há uma falta enorme de voluntários na estrutura do banco alimentar do Algarve e estamos a falar de cerca de 10 a 15 pessoas não só em Faro e em Portimão, mas espalhados pela região, entre Vila Real de Santo António e Lagos. Existe mesmo falta de voluntários e é extremamente importante que se consiga passar essa mensagem”.
O banco alimentar conta atualmente com cerca de 40 voluntários efetivos. “É fácil resolver problemas como catástrofes em que nos envolvemos, damos qualquer coisa, dinheiro, bens, roupa, comida, mas assim que está feito o donativo, viramos costas e voltamos para as nossas vidas, não nos preocupando com o resto. O problema é que tudo isto funciona graças à boa vontade de poucas pessoas que fazem muito e o grosso da comunidade vive bem em função daquela meia dúzia de pessoas que se envolvem nas causas”, acrescentou.
As motivações que levam os indivíduos a colaborar com a instituição são bastante distintas
As motivações que levam os indivíduos a inserir-se e a colaborar com a instituição são bastante distintas.
Em primeiro lugar, existem pessoas que se associam de forma livre e voluntária a esta causa. Em seguida, é importante referir que o banco alimentar tem acordos com as cadeias de Faro e Olhão, que permitem que quatro reclusos se desloquem aos armazéns para apoiar o BA. A instituição tem igualmente um acordo com o centro de emprego que faculta desempregados de longa duração (pessoas geralmente com idades superiores a 55 anos), que exercem maioritariamente funções de motorista. Anteriormente existiam ainda acordos com a segurança social.
As operações realizam-se em Faro e Portimão
Quanto ao trabalho desenvolvido no banco existem dois locais onde as operações se realizam em simultâneo – Faro e Portimão. Susana Moreira é voluntária no banco alimentar de Faro há quatro anos e referiu ao POSTAL que “faço de tudo um pouco, mas estou maioritariamente aqui na receção do armazém. A nível pessoal é uma retribuição mútua o facto de interagirmos com as pessoas e há toda uma troca inerente. Existe uma grande satisfação pessoal associada ao voluntariado, pois há sempre algo a aprender e a dar e é essa troca/ interação que é reconfortante. Passo aqui cerca de cinco/seis horas”.
Banco alimentar distribui cerca de dois milhões de quilos de alimentos por ano
O banco alimentar distribui anualmente cerca de dois milhões de quilos de alimentos.
Segundo Nuno Alves, “todos os dias há produtos a chegar e a sair. Nos últimos anos os números têm-se fiado nos dois milhões de quilos de alimentos. Repara-se que quando abriu, em 2007 e nos primeiros anos distribuía meio milhão de quilos e hoje trabalha quatro vezes mais”.
Os valores que norteiam o funcionamento do banco alimentar assentam na dádiva e partilha. Para fazer voluntariado, “não são necessárias muitas horas, não é necessário vir para aqui de manhã até à noite e de segunda a sexta. O voluntariado não é isso. Bastam duas horas por semana ou dois turnos de duas horas por semana, dependendo do tipo de trabalho. Há tarefas que são desenvolvidas em alguns momentos do ano e nem precisa de ser todas as semanas. Acho que faz todo o sentido fazer voluntariado, dos mais novos aos mais velhos, porque enquanto pessoas temos a obrigação de nos envolvermos nas soluções da comunidade”, afirmou Nuno Alves.
Concluiu dizendo que “o banco alimentar enquanto instituição não vale por ser sozinho, vale por aquilo que é, que são exatamente 106 instituições em 15 dos 16 concelhos da região. É isto que vale o banco. E esta ajuda faz toda a diferença na vida destas cerca de 15 mil pessoas”.
Se quiser tornar-se voluntário ligue: 910 258 989 ou através do email [email protected]
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)