Os vestígios arqueológicos identificados até ao momento são insuficientes para justificar uma posse administrativa dos terrenos privados onde esteve localizada a antiga cidade romana de Balsa, em Tavira, disse esta sexta-feira à Lusa a presidente da Câmara.
Apesar de os estudos e trabalhos arqueológicos realizados na zona terem permitido encontrar vestígios de uma cidade romana que se destacou, entre os séculos I e IV, como um complexo de transformação de pescado, Ana Paula Martins afastou o cenário de um processo contra os privados pela posse desses terrenos, situados junto à Ria Formosa, na freguesia de Luz de Tavira.
A autarca salientou que existe uma Zona de Proteção Especial (ZEP) que garante a preservação da área e obriga os proprietários a realizar pesquisas arqueológicas e obter autorização das entidades responsáveis caso queiram intervir ou construir e lamentou que a falta de acordo com alguns deles tenha impedido o estudo de uma zona de interesse na Quinta da Torre D’Aires, onde os técnicos pensam que poderia estar o centro da cidade.
“Aquilo que se conclui é que, efetivamente, Balsa não é aquilo tudo que se disse que era. E os achados que se foram fazendo e que se foram tapando, confirmaram um bocadinho isso”, afirmou a presidente daquela Câmara do distrito de Faro, recordando que os últimos trabalhos arqueológicos realizados na zona foram concluídos em 2022.
Ana Paula Martins explicou que “nem todos os proprietários deram autorizações” para os trabalhos arqueológicos nas suas propriedades e houve áreas em que a equipa de arqueólogos “queria escavar”, mas onde os particulares não permitiram essa análise.
A autarca apontou que, num dos terrenos, “há uma parte mais alta sobre a Ria” com casas em ruínas onde “poderia estar a parte mais importante daquilo que seria a cidade” de Balsa, mas a proprietária “não deu as autorizações para realmente fazer escavações no monte e tentar perceber o que poderia haver lá”.
“A área de proteção continua a existir, onde está incluída essa parte, e estamos dependentes de alguns proprietários, mas sobretudo desta propriedade, onde poderia haver a parte mais interessante [de Balsa]. E portanto, tudo aquilo que se descobriu acabou por ser alguns tanques de salga, algumas casas, tudo aquilo que já se sabia que existiam ali”, argumentou.
Ana Paula Martins considerou que fazer uma posse administrativa do terreno sem ter a certeza do que ali existe “é muito complicado”, porque teria que se “indemnizar o proprietário, mesmo que depois não se encontrasse nada lá”.
“E eu acho, na minha opinião, que todos os que disseram que não queria escavações tiveram uma postura errada”, opinou a autarca, justificando que a realização desses estudos teria permitido conhecer o que se encontrava na zona e, “se não valesse a pena escavar, libertaria muito possivelmente mais terreno da área da proteção” já estabelecida.
“Mas acabaram por não fazer (…) e acho que o que se encontrou não é suficiente para se entrar num processo contra os privados”, reiterou ainda Ana Paula Martins, ressalvando contudo que a antiga cidade romana tinha uma moeda própria e “o facto de cunhar a moeda diz que realmente tinha importância” e “não era uma coisa de somenos relevância”.
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