Há quatro anos, o PS saiu das autárquicas com uma vitória estrondosa, a maior de sempre do partido. Mais metade do país ficou pintado de rosa. No Algarve, o PS venceu em dez das 16 câmaras municipais da região. Já o maior partido da oposição, sozinho ou coligado, não chegou sequer a 100 câmaras, o pior resultado desde 1976 para os sociais-democratas.
Mas quatro anos é muito tempo. Serão, outra vez, favas contadas para o PS? Há muitas variáveis em jogo, como a limitação de mandatos. Em 2017, o PS foi o partido que teve mais dinossauros autarcas (Aljezur, Vila do Bispo e Tavira no Algarve) – presidentes que cumpriam por lei o último mandato. Muitos deles saíram entretanto, uns condenados por perda de mandato, como foi o caso de José Amarelinho em Aljezur, outros que passaram a deputados, como foi o caso de Jorge Botelho em Tavira, agora membro do Governo. O PS tem agora três câmaras algarvias em que é obrigado a levar ‘caras novas’, o que pode baralhar as contas. Já o PSD tem um dinossauro que foge à limitação de mandatos concorrendo a outra câmara. Rui André deixa Monchique para concorrer em Portimão. Já em Vila Real de Santo António, a presidente Conceição Cabrita (PSD) viu-se obrigada a abandonar o cargo este ano por questões judiciais, mas antes o PSD já tinha anunciado o candidato Luís Gomes, ex-presidente pombalino.
Quanto aos independentes, o número tem vindo a crescer desde 2001, o ano das primeiras autárquicas abertas a independentes. Das 85 candidaturas que foram a votos em 2017, tudo indica que 2021 será ano de novos máximos. No Algarve, são já seis em cinco concelhos, com três cabeças de lista que já foram presidentes, Desidério Silva em Albufeira (ex-PSD), Francisco Martins em Lagoa, ex-PS (que durante o atual mandado em vigor saiu por razões de saúde) e Manuel Marreiros de Aljezur, ex-PS, ambos a apresentarem-se como independentes.
A prova da imprevissibilidade das autárquicas, é o número de câmaras que mudaram de partido há quatro anos – 50 mudaram – ainda que a maioria tenha ficado como estavam, como foi o caso de todos os municípios do Algarve. No país, há 32 concelho que nunca mudaram de cor; Portimão e Olhão no Algarve, ambos PS.
O ano de 2017 foi o que teve mais representantes femininas no poder autárquico, pela primeira vez acima dos 10%. Este ano, são mais de 100 candidatas; resta saber quantas delas vão ser escolhidas para liderar os seus municípios nos próximos quatro anos. No Algarve, elas lideram atualmente as câmaras de Tavira (PS), Silves (CDU) e Portimão (PS).
Com as eleições autárquicas a aproximarem-se (26 de setembro), algumas destas incógnitas podem tornar o resultado imprevisível: os “dinossauros” que já não concorrem, os candidatos independentes, as câmaras de ‘alto risco’, as que nunca mudaram de partido e as mulheres autarcas, que não param de crescer, mas continuam em larga minoria