O número de jovens que afirma sentir fome por não ter comida em casa aumentou em 2014, segundo um estudo que revela ainda que quase todos apresentam algum tipo de problema nutricional.
O estudo “Health Behaviour in School-aged Children” (HBSC) realizado em Portugal para a Organização Mundial de Saúde, inquiriu 6.026 alunos dos 6.º, 8.º e 10.º anos de escolas de todo o país.
Entre os comportamentos que apresentam alterações ao longo dos últimos anos, destaca-se o “sentir fome por falta de comida em casa”, um fenómeno que aumentou em 2014, depois de se ter mantido estável desde 2006.
O estudo, coordenado pela investigadora Margarida Gaspar de Matos, revela que 99% dos inquiridos relatam ter uma boa nutrição, no entanto 80% ingerem comida não saudável, 75% afirmam comer por vezes demasiado, 66% reconhecem ser esquisitos em relação à comida e 63% reportam comer “o que calha”.
O mesmo estudo conclui que 51% só comem “quando calha”, 35% comem “como um passarinho” e outros 35% afirmam ter dificuldade em parar de comer.
Quanto aos géneros, são os rapazes quem mais frequentemente tomam o pequeno-almoço e as raparigas quem mais frequentemente faz dieta.
Em termos de idades, os mais novos tomam mais frequentemente o pequeno-almoço do que os mais velhos, e estes fazem menos dieta.
Rapazes são os que estão mais frequentemente acima do peso
O estudo revela ainda que são os rapazes e os mais jovens do grupo de inquiridos os que estão mais frequentemente acima do peso, mas são também quem mais frequentemente afirma ter um “corpo perfeito”.
Um outro estudo incluído num projecto europeu, intitulado “Tempest” e também coordenado em Portugal por Margarida Gaspar de Matos, inquiriu 1.200 jovens de todo o país entre os 9 e os 17 anos de idade.
Ainda sobre a alimentação, os dados deste estudo relativos a 2014 indicam que as raparigas têm mais auto-regulação, mais preocupação com a nutrição e mais influenciadas pela cultura familiar no que respeita à nutrição.
Os jovens mais velhos do grupo de inquiridos são mais influenciados pelo ambiente, no que à alimentação diz respeito, são menos monitorizados pela família, revelam menos auto-regulação e menos preocupação com a nutrição.
As famílias constituem um importante factor de regulação externa da alimentação dos adolescentes, mas mais no grupo dos mais jovens do que no dos mais velhos, que, no entanto, ainda não têm suficiente auto-regulação.
Os inquiridos consideram como principais suportes sociais a uma boa alimentação “jantar com a família”, “não petiscar entre as refeições” e “aprender a cozinhar e cozinhar refeições”.
O estudo Tempest avaliou também quais as preocupações dos adolescentes e como é que eles as enfrentam, tendo concluído que as preocupações são, desde 2012, os assuntos escolares (classificações, fracassos, professores e escolhas futuras), amigos/namorados (afectos, dúvidas e perdas) e assuntos familiares (conflitos e saúde).
No entanto, o estudo destaca que em 2014 surgiu uma nova inquietação entre os jovens, que não era apresentada nos anos anteriores: “preocupações económicas”.
Para fazer face a estes problemas, os jovens dizem que se livram deles evitando-os (dormindo ou não pensando), distraindo-se (com actividades alternativas como divertimentos, comida, música, internet, televisão, livros ou desporto) ou através de apoio dos amigos (conversarem ou estarem juntos).
Os jovens mais velhos do grupo (inquiridos também nos anos anteriores do estudo) apresentaram em 2014 pela primeira vez uma nova forma de enfrentar as preocupações, acrescentando a hipótese “resolver o problema” às três anteriores.
(Agência Lusa)