Uma frase roubada de um livro da premiada escritora Lídia Jorge dá título ao espetáculo “Não, não iria haver luar”, da atriz e encenadora Sara Carinhas, a representar na terça-feira, no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa.
“Não, não iria haver luar” é a terceira de cinco sessões que compõem o segundo ciclo de leituras encenadas do teatro de lisboa, intitulado “Um quarto que seja delas”, numa evocação do ensaio da escritora britânica Virginia Woolf. O ciclo começou em setembro último e realiza-se na sala Bernardo Sassetti.
Com encenação e dramaturgia de Sara Carinhas, este ciclo dá continuidade ao que iniciara, em 2016, no antigo Jardim de Inverno do teatro, e durante o qual foram apresentados excertos de obras de Herberto Helder, José Tolentino Mendonça, Luísa Costa Gomes, Maria Velho da Costa e Matilde Campilho.
A frase que dá título à leitura de terça-feira vem do romance “A costa dos murmúrios”, que a escritora galardoada, em agosto passado, com o Prémio de Literatura em Línguas Românicas da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, publicara em 1988.
África e a guerra colonial no início dos anos 1970 são o pano de fundo desta obra, “um dos romances mais vibrantes, manufaturado com palavras de um português inutilizado por esquecimento”, como o define o S. Luiz, num texto de apresentação do espetáculo.
“A viagem do que conta é sempre imensa, dentro do livro e dentro de quem o lê, a galope”, acrescenta o Teatro, questionando se não será “um ato de horror esquartejar” a escrita de Lídia Jorge, num fim de tarde, considerando, todavia, que “quem sabe bem escrever consegue sempre alcançar a magia do prolongamento ao longo de toda a sua obra – como se alguém, que escreve, mantivesse continuamente a sua mesma busca, de livro em livro”.
O ciclo “Um quarto que seja delas” terá uma leitura por mês, decorrerá até janeiro de 2021 e conta com mais de vinte mulheres, entre autoras, atrizes e equipa artística, adianta o S. Luiz na apresentação.
Esta é uma proposta que a encencadora Sara Carinhas define como uma continuação da “demanda da partilha da literatura e do teatro dos pequenos gestos que as palavras pedem”.
Nascida em 1946, em Boliqueime (Loulé), Lídia Jorge é uma das mais premiadas escritoras portuguesas da atualidade. Recebeu os prémios Luso-Espanhol de Arte e Cultura (2014), Jean Monet de Literatura Europeia, Escritor Europeu do Ano (2000) eo prémio Albatroz de Literatura da fundação alemã Günter Grass (2006), além do Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (2002) e do Grande Prémio de Literatura dst (2019), entre muitos outros.
Em 2005, Lídia Jorge foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, pelo então Presidente da República Jorge Sampaio e, no mesmo ano, foi designada Dama da Ordem das Artes e das Letras de França, condecoração elevada mais tarde ao grau de Oficial.
Com início marcado para as 19:00, a sessão de leitura “Não, não iria haver luar” vai contar com Cirila Bossuet, Isabél Zuaa e Juana Pereira da Silva. A sonoplastia é de Madalena Palmeirim.
Os textos lidos em setembro e outubro foram de Ana Hatherly e Ana Luísa Amaral. Nas próximas duas sessões, “Um quarto que seja delas” abrir-se-á a Patrícia Portela e Sónia Baptista.