Susana Luís tem 39 anos e nasceu em Espinho. Vive em Quarteira desde os 10 anos. Trabalha como rececionista mas dedica grande parte do tempo à associação “Mãozinhas Solidárias”, que teve início em janeiro de 2015. Este projeto ajuda famílias carenciadas residentes no concelho de Loulé.
Como surge a “Mãozinhas Solidárias” e qual é o seu objetivo principal?
O projeto “Mãozinhas Solidárias” teve início em janeiro de 2015. Na
altura, tive conhecimento através do Facebook da existência de uns grupos de pessoas que faziam gorros, cachecóis e mantas, entre outros artigos em crochê e tricô que eram encaminhados para as crianças que se encontravam internadas ou a fazer tratamentos de radioterapia e quimioterapia nos IPO do país. Após ter verificado que não existia nenhum grupo do género no Algarve, decidi iniciar o meu próprio grupo. Convidei alguns amigos a contribuir com novelos de lãs, desafiei outros a transformar esses novelos em miminhos para as crianças doentes e, ao fim de pouco tempo, tínhamos caixas cheias de donativos para enviar. Entretanto, comecei a receber pedidos de ajuda de grávidas e mães com crianças pequenas que se encontravam em situações delicadas e também de doentes oncológicos. Só em dezembro de 2018 foi constituída a associação.
Quem são as pessoas que ajudam?
O nosso objetivo é ajudar famílias carenciadas residentes no concelho de Loulé. As situações mais delicadas são sempre as que envolvem crianças e idosos. Há casos de crianças e jovens com paralisia cerebral a quem, pontualmente, fazemos entregas de bens alimentares e produtos de higiene pessoal. Para alguns, reunimos também todo o tipo de tampas, rolhas e caricas para os ajudar no pagamento das terapias. Aproveito para referir que a privacidade das nossas famílias é uma prioridade para nós. Lidamos com situações bastante delicadas que envolvem vítimas de violência doméstica, crianças que foram negligenciadas pelos pais e entregues a avós, tios ou outros familiares; processos de regulação do poder parental e doentes crónicos, entre outras.
Quais são os sentimentos de poder ajudar alguém?
Acima de tudo, é um enorme sentimento de gratidão por nos encontrarmos numa posição que nos permite ajudar. Em algum momento da nossa vida, a grande maioria de nós já precisou de ser ajudado e esta é uma forma de retribuirmos. Lembro-me de um dia em que um senhor nos bateu à porta, tinha eu talvez os meus 5 anos, o senhor trazia com ele a filha que era mais ou menos da minha idade. Foi o meu pai quem abriu a porta e o senhor pediu-lhe dinheiro para comprar comida. O meu pai convidou-os a entrar e explicou que não tínhamos grandes posses, mas que se havia de arranjar alguma coisa para comerem. E assim foi, a minha mãe pôs mais dois pratos na mesa e preparou um saco com fruta e umas sandes para os dois levarem.
Nesta altura de pandemia, os pedidos devem ter multiplicado. Como se gere este aumento?
Sendo as “Mãozinhas Solidárias” uma associação sem fins lucrativos, só pode contar com as doações de amigos e seguidores das páginas do Facebook e do Instagram. A verdade é que nem sempre conseguimos responder de forma positiva a todos os pedidos de ajuda que recebemos e nesta altura em que os pedidos aumentaram consideravelmente não é diferente. Não entregamos simplesmente um cabaz de alimentos e voltamos as costas. Tentamos perceber o que colocou a pessoa ou a família na situação de fragilidade em que se encontra e ajudá-la a arranjar uma solução para o seu problema. Fazemos as diligências necessárias para que as famílias tenham o apoio de que necessitam.
Quem são as pessoas que apoiam o projeto?
A associação é composta por 9 amigos que dedicam grande parte dos seus tempos livres ao voluntariado. Só assim conseguimos fazer chegar ajuda a quem precisa. Nenhum de nós tem formação na área social, sabemos que o trabalho que fazemos é uma gota no oceano, mas juntos temos conseguido fazer a diferença nas vidas de algumas famílias. A nós juntam-se, por vezes, outros voluntários que nos ajudam a fazer a triagem das roupas que recebemos e a separar os pedidos. Alguns desses voluntários são apoiados pela associação. Em termos de empresas, temos vários apoios também, a quem agradeço.
Se tivesse de fazer um apelo a quem quer ajudar a associação a apoiar famílias, o que diria?
Gostava de apelar à generosidade de todas as pessoas que tenham possibilidade de contribuir. Além da entrega dos bens alimentares e produtos de higiene, existem outras formas de ajudar e a mais fácil é tornando-se sócios. O valor das quotas é de 12 euros anuais. Outra forma, é através dos cartões de oferta dos supermercados, em que podem carregar o valor que quiserem. Esses cartões são geridos por nós ou entregues às famílias para comprarem os produtos frescos, que são aqueles que mais dificilmente conseguimos doar. Podem também fazê-lo através de transferência ou depósito bancário para a conta da associação.
Quando a pandemia passar, a “Mãozinhas Solidárias” vai continuar a precisar de si. Nesta altura em que estamos a aprender tanto com o vírus, precisamos aprender também que a solidariedade deve ser feita todos os dias do ano.