Já que não podemos ter tantos livros quantos os que podemos ler,
basta que tenhamos tantos quantos possamos ler.
(Séneca)
O crescimento exponencial da informação é uma consequência da Era da Informação e uma realidade visível nas bibliotecas e demais serviços de informação e documentação. Realidade, estimulante, por um lado, pelo enriquecimento de recursos e desafios que impõe, mas problemática por outro, pela infindável e constante acumulação de informação, sobretudo de livros, jornais e revistas. É um jorrar contínuo de informação que enche estantes e nos deixa com falta de espaço para expor e arrumar.
Este problema, que todas as bibliotecas acabam por sentir, exige medidas que só uma gestão racional e coerente das coleções consegue resolver, e que passa pela existência de um Plano de Desenvolvimento da Coleção ou Política de Gestão da Coleção, que deve partir da missão e dos objetivos da biblioteca, da caracterização da comunidade que serve, do estudo e conhecimento da coleção, do seu uso, das especificidades dos seus utilizadores e das suas necessidades e expetativas informacionais.
Trata-se de um estudo com uma estratégia que permita avaliar a coleção, todo o circuito da informação e a própria realidade da biblioteca e dos seus utilizadores. Trata-se de possuir um conhecimento efetivo da coleção que existe e para quem existe, para que saibamos o que podemos manter, o que é necessário mudar e, sobretudo, o que é necessário eliminar, ou seja, um plano de apoio para poder tomar decisões em matéria de seleção, aquisição e abate, e que permita caminhar no sentido da sua melhoria. Este trabalho de gestão integra também considerar as coleções e recursos digitais. Os sítios da web, em linha e interativos, são meios de comunicação e de armazenamento que permitem o acesso a recursos informacionais, disponíveis e sem limites de espaço e tempo. Enquanto recursos desmaterializados configuram, nesta perspetiva, uma solução para a falta de espaço físico. Também por este motivo, as tecnologias da informação são uma realidade incontornável para as bibliotecas.
Assim, sendo a coleção uma realidade dinâmica, em constante desenvolvimento e crescimento, e, na sua maioria, constituída por livros, não podemos deixar que se acumulem indefinidamente até se tornarem um problema, como excelentemente relatado por Eça de Queiroz, na biblioteca de Jacinto de A cidade e as serras, “onde [os livros] se estiravam sobre o tapete, se repimpavam nas cadeiras macias, se entronizavam em cima das mesas robustas, e sobretudo trepavam contra as janelas, em sôfregas pilhas, como se, sufocados pela sua própria multidão, procurassem com ânsia espaço e ar(1).
Então, o estabelecimento de um plano de desenvolvimento de coleções, é a solução para a falta de “espaço e ar” e para que, de uma forma consistente racional e fundamentada, a biblioteca melhore as suas coleções e melhore os serviços de informação que presta, indo ao encontro dos desejos e necessidades da comunidade e, no sentido da sua missão, contribuapara o exercício de uma cidadania plena, ativa e consciente, necessária para o fortalecimento da democracia e dos valores civilizacionais. É que “Os livros não mudam o mundo. Os livros mudam as pessoas e as pessoas mudam o mundo”.
Boas Leituras e Festas Felizes.
(1) Queiroz, E. (2016). A cidade e as serras. Lisboa: Livros do Brasil (p. 80)
(Clara Andrade / Biblioteca Municipal de Lagoa – Algarve)