As cidades como motor de desenvolvimento
As cidades são hoje uma forte concentração de pessoas e de serviços que geram motores de desenvolvimento enormes. Por outro lado, os países e as cidades, competem entre si pela sua capacidade de atratividade de pessoas e bens, e de geração de conhecimento e inovação.
Com a pandemia, percebeu-se também que as grandes cidades possuem um maior risco, e que a libertação de áreas de espaço público, assim como espaços verdes, são da maior importância para a salubridade e para a saúde pública.
Qual o papel da arquitetura num desenvolvimento de uma cidade, num contexto de pós-covid? Desde logo, na criação de respostas sociais tanto de equipamentos hospitalares em dimensão e número suficiente, como de apoio aos idosos, questão que no nosso país parece ter ficado esquecida.
Embora se possa considerar que estas opções não dizem respeito à arquitetura, esta poderia sempre dar o seu contributo. Mesmo nas catástrofes, o arquiteto bem formado está preparado para pensar em soluções que criam respostas, mesmo que provisórias. A verdade é que não se ouviu falar nessa possível colaboração ou intervenção da parte do arquiteto, em circunstâncias anormais.
As cidades são formadas em grande parte também por um tecido habitacional que permite a sua vivência. Nesta pandemia, foi evidente que nem todos estávamos nas mesmas condições para estar confinados em casa. Quais as respostas que o Planeamento e a Arquitetura poderá dar a esta questão? Criar modelos mais adaptativos e flexíveis? Promover protótipos de habitação social promovidos pelas autarquias, mas em espaços mais abertos, fora dos guetos? Porém, não existiu uma palavra do poder político para envolver os arquitetos até hoje.
A arquitetura, os arquitetos e o debate ausente
A arquitetura nem sempre é realizada por arquitetos, mas parece que existe já uma aceitação tão resignada por parte da sociedade, que nem os próprios arquitetos se revoltam. Após uma disputa das eleições para a Ordem dos Arquitetos parece que o debate não chegou a acontecer e tudo se virou sobretudo para o arquiteto premiado que irá constituir “uma salvação sebastianista” sobre um marasmo de toda uma classe. De facto, o arquiteto de renome internacional tem um valor inquestionável e até diria heróico, no entanto, será que a defesa dos pequenos arquitetos de luta diária será conseguida debaixo desta enorme manta de fama? Isto porque no passado e nos dias de hoje, os mais notáveis são cada vez ainda mais notáveis, tanto pela sua exposição pública, como pelo acesso aos grandes projetos e às adjudicações, e nem por isso alteram as regras do jogo dos mais pequenos, dos estagiários dos grandes gabinetes, em função do profissional liberal que trabalha sozinho ou com pequenos grupos. Assim, coloca-se a questão, temos a arquitetura do dia-a-dia cada vez mais deprimida, e esmagada nas leis opressivas do nosso país, e por outro lado temos os ícones que, até de certo modo, são imagens públicas intocáveis, que usufruem até de alguma liberdade concetual.
Qual o papel de uma Ordem dos Arquitetos defender apenas a arquitetura como bem público, ou também e sobretudo defender os profissionais desta arquitetura? Será de referir que uma questão não nega a outra, mas em termos políticos, parece que sim. No Algarve, por sua vez, ganhou a lista da continuidade, aquela que nunca esteve presente no passado, mas que passará a estar a partir de agora, esperando que haja a mudança necessária.
Os arquitetos são como missionários que ambicionam ser felizes com os projetos que conseguem realizar dando de si, para um cliente, privado ou público, mas tantas vezes, esmagados pela competitividade e pelo mercado desregulado. Haja esperança que um dia, esta circunstância se altere.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de julho)