O concurso de Árvore Europeia do Ano valoriza a ligação emocional que as pessoas e as comunidades mantêm com as árvores, tal como a sua importância para o património natural e cultural da Europa.
Escrever sobre árvores sem me expor é difícil e se o fizesse perderia autenticidade, porque as árvores estão presentes na escrita e na vida.
A minha primeira composição na escola primária foi sobre árvores, estavam ali, tão perto… no caminho e saudava-as a cada manhã…
O Dia Mundial da Árvore era sempre dia de plantar árvores e escrever poemas.
Agrada-me imenso que o Dia Mundial da Árvore seja também o Dia Mundial da Poesia, por isso o dia 21 de Março é sempre especial, onde quer que esteja.
Foi precisamente a 21 de Março que decorreu a Cerimónia de entrega do Prémio da Árvore Europeia do Ano 2018. Tive a alegria de assistir pessoalmente ao momento em que foi anunciada como vencedora a árvore portuguesa.
Encontrava-me pela primeira vez na reunião da Comissão dos Direitos do Homem no Parlamento Europeu, enquanto assessora do Observatório Internacional de Direitos do Homem. Terminada a reunião, dirigi-me para a Cerimónia, para a qual já tinha convite oficial, e que se realizava também no Parlamento Europeu.
Foi um dia especial não só por estes dois acontecimentos, mas porque começou a Primavera e se celebrou a poesia com novas funções.
Quando falo de árvores, falo de poesia… esses ramos que são braços dirigidos ao alto e essas folhas que são palavras que brotam da terra, trazendo a essência da Mãe Natureza.
Entrega do Prémio da Árvore Europeia do Ano 2018 a Portugal
O concurso da Árvore Europeia do Ano surgiu no ano de 2011 e foi inspirado no popular concurso checo Árvore do Ano, organizado pela Czech Environmental Partnership Foundation.
A Cerimónia de Entrega de Prémios foi organizada pelo deputado Pavel Poc, vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar no Parlamento Europeu e apoiante de longa data da iniciativa “European Tree of the Year”. A cerimónia foi moderada por Natalie Pauwels e Ladislav Miko, membros da Comissão Europeia, e contou com a presença especial de Daniel Calleja Crespo, director-geral do Meio Ambiente e Janez Potocnik, ex-comissário Europeu para o Meio Ambiente.
Esta foi a 8.ª edição do concurso “European Tree of the Year” e contou pela primeira vez com uma árvore portuguesa como candidata, o Sobreiro Assobiador, o maior sobreiro de Portugal. É uma “Árvore de Interesse Público” desde 1988 e está inscrita no Livro de Recordes do Guinness como “o maior sobreiro do mundo”.
A árvore escolhida tem 234 anos. Em várias notícias é referida como sobreiro alentejano, mas de facto esta árvore encontra-se no distrito de Setúbal, em Águas de Moura. Localidade situada no concelho de Palmela, na União das Freguesias de Poceirão e Marateca.
Este ano foram 13 os países que participaram neste concurso europeu. Durante o mês de Fevereiro, todos puderam escolher a sua árvore preferida através de um sistema de votação on-line em https://www.treeoftheyear.org.
Enquanto a votação foi pública deu para verificar que Portugal ia à frente no número de votos, depois na última semana a votação foi secreta.
Na Cerimónia estavam aproximadamente 150 pessoas. Éramos cerca de 12 portugueses, incluindo alguns deputados europeus. Creio que todos imaginávamos e desejávamos que a árvore portuguesa fosse a vencedora. Teve mais 4.286 votos do que a árvore espanhola que ficou em 2º lugar. Nós, naturalmente, batemos palmas, mas ficamos recatados e emocionados em modo poema!
O vídeo da Cerimónia de entrega do prémio pode ser visto em: https://www.treeoftheyear.org/ETY-2018/results.aspx
Os resultados da votação foram: 26.606 votos para o sobreiro português, seguido de 22.323 votos para os Ulmeiros ancestrais de Cabeza Buey, Espanha, e em terceiro lugar com 21.884 votos o Carvalho chamado “O Ancião das Florestas de Belgorod”, da Federação Russa.
O Sobreiro plantado em 1783, deve o nome “Assobiador” ao som originado pelas inúmeras aves que pousam nos seus ramos.
O Sobreiro monumental de Águas de Moura, também conhecido como “casamenteiro”, tem mais de 16 metros de altura, um perímetro superior a 5 metros na base e uma copa impressionante, que alberga muitas espécies de aves. Esta árvore, desde 1820, foi descortiçada mais de vinte vezes e o descortiçamento de 1991 resultou em 1.200 quilos de cortiça (produção de 100 mil rolhas), o que lhe valeu o reconhecimento como o “sobreiro mais produtivo do mundo”.
Quem recebeu o original troféu de madeira, que passa de vencedor em vencedor a cada ano, foi Nuno Calado secretário-geral da União da Floresta Mediterrânica, tendo referido que: “Estamos extremamente felizes em trazer reconhecimento a Portugal, através do concurso ‘European Tree of the Year’. Este sobreiro representa um enorme contributo para a biodiversidade e os serviços dos ecossistemas, a luta contra as alterações climáticas, além da contribuição para a economia portuguesa”. E acrescentou ainda que “o futuro dos sobreiros e dos Montados depende dos produtores agroflorestais, da escolha do consumidor por vinhos com rolhas de cortiça e de políticas públicas que possam promover elevados níveis de biodiversidade e actividades económicas sustentáveis”.
De facto, Portugal é o maior produtor mundial de cortiça. Este produto tem um papel importante aos vários níveis acima referidos, mas também na promoção turística, inclusivamente existem rotas da cortiça que atraem muitos visitantes, nomeadamente no Algarve, Alentejo, Douro e Vouga.
A cortiça é uma imagem de marca de Portugal, com produtos de excelência feitos nesta matéria-prima. Para além de serem exportados para diversos países, são amplamente vendidos em quase todas as cidades e vilas portuguesas. A cortiça está hoje em praticamente todo o lado: no design, na joalharia, no calçado, na arquitetura, no vestuário e até na indústria aeroespacial.
O sobreiro é uma árvore que se regenera, que se renova a cada nove anos. Não é necessário cortar, pois naturalmente vai gerando mais cortiça.
Acredito que Portugal voltará a candidatar-se no próximo ano, pois existem árvores muito especiais no nosso país. Este tipo de concurso permite destacar a importância das árvores antigas na herança cultural e natural, com enfoque para a sua história e para a sua ligação com as populações.
As árvores são parte da paisagem e da vida das comunidades. Devem ser respeitadas e não tornadas em lenha, como está a acontecer com centenas de oliveiras, sobreiras e alfarrobeiras, muitas seculares, sem respeito pela história e pela vida que representam.
Parabéns a Portugal e a todas as árvores silenciosas… algumas são a minha inspiração e o meu poema de cada dia…
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Abril)