A rede de apoio especializado da APAV a crianças e jovens vítimas de violência sexual, criada em Janeiro, acompanhou, em média, 17 menores por mês, a maioria vítima de crimes cometidos em contexto familiar.
“A Rede CARE surgiu do projecto CARE, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, e tem como objectivo especializar o apoio que é dado a crianças e jovens vítimas de violência sexual”, disse à Lusa o gestor da rede, Bruno Brito.
Num relatório que reflecte o trabalho desenvolvido pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e pela rede, que será divulgado hoje, a associação pretende demonstrar o impacto da CARE no acompanhamento aos menores, através da comparação dos dados do apoio prestados entre 2013 e 2015 e o primeiro semestre de 2016.
Entre 2013 e 2015, a APAV apoiou 281 crianças e jovens e no primeiro semestre deste ano, já com a rede a funcionar, acompanhou 103, a maioria meninas (83%), 35% das quais com idades entre os 14 e os 17 anos.
Em 48% dos casos apoiados pela rede, a vítima era filho/a ou enteado/a do agressor, refere o Relatório Estatístico da Rede CARE.
“Confirma-se a tendência de a violência sexual contra menores ser cometida em contexto intrafamiliar (67%)”, afirma o documento, sublinhando que, em 57,5% dos casos, os jovens foram alvo de vitimação continuada.
No primeiro semestre, foram identificados 110 agressores, a maioria (93%) homens, 29% com idades entre 35 e 50 anos.
Abuso sexual representou o maior número de casos
O abuso sexual representou o maior número de casos (66), havendo ainda nove situações de abuso sexual de menor dependente, nove casos de actos sexuais com adolescentes, oito de importunação sexual, cinco de coacção sexual, três de violação, dois por recursos à prostituição de menores, dois por lenocínio de menores e um de pornografia de menores.
Mais de metade dos casos (52,4%) ocorreu na região centro e distrito de Setúbal, 33% na região norte e 11,7% nos distritos de Évora, Beja e Faro.
Relativamente às vítimas de crime de abuso sexual, a APAV aponta que tem vindo a aumentar o número de crianças apoiadas (60, em 2013, 74 em 2014, 71 em 2015), acompanhando a tendência dos casos registados nas Estatísticas Oficiais da Justiça: 859 situações em 2013, 1.013 em 2014 e 1.044 em 2015.
A previsão da APAV é conseguir ajudar, em 2016, 150 crianças, o dobro das apoiadas em 2015, com a ajuda dos técnicos da rede.
Quase um quarto dos casos foi referenciado para a APAV pela Polícia Judiciária, 13% por familiares, 8% por amigos, 5% pela escola, 3% pelo estabelecimento de saúde, 3% pela GNR, 2% pela PSP, 3% pelo tribunal e 2% pelas comissões de protecção de menores.
Segundo a associação, a CARE contribuiu para que “todos os crimes sinalizados para a APAV fossem investigados pela justiça, apoiando as vítimas e as suas famílias no ato da denúncia”.
Em 83% dos processos de apoio foi apresentada queixa, sendo que 59% dos casos já estavam a ser investigados quando foram referenciados.
A Rede CARE – que acompanhou 7% das vítimas nas declarações para memória futura – presta apoio jurídico e tem ainda como objectivo sensibilizar “os magistrados do Ministério Público para a importância deste acompanhamento para as crianças e jovens, numa lógica continuada”.
(Agência Lusa)