Pela Estrada Nacional 2 pode fazer-se Portugal de lés-a-lés partindo de Faro e tendo como destino final Chaves, ou vice-versa. É esta estrada interior que autarcas ao longo de todo o percurso original de 739 quilómetros querem transformar numa rota turística capaz de proporcionar a quem a percorra uma oferta única no país em termos de rotas ligadas ao turismo e geradora de riqueza e desenvolvimento para as populações dos locais atravessados pela EN2.
A ideia de uma rota turística
A ideia surgiu a partir de uma iniciativa da Câmara de Santa Marta de Penaguião, uma vila do distrito de Vila Real, situada – pela EN2 – cerca de 81 quilómetros a Sul de Chaves.
O presidente da autarquia local, Luís Machado, disse ao POSTAL que o objectivo é o de “criar uma rota turística que funcione como base para o desenvolvimento dos territórios atravessados pela EN 2 sob vários pontos de vista, nomeadamente, património, turismo – em particular de natureza – produtos típicos, cultura e gastronomia”.
Para isto o autarca do norte arregaçou mangas e constituiu um grupo de trabalho que, com outros seis presidentes de câmara, remeteu aos 29 concelhos aderentes ao projecto “os estatutos de uma nova associação de municípios que gerirá o projecto e a rota e poderá candidatar-se autonomamente a fundos europeus”.
Estes fundos, esclareceu ao POSTAL o autarca, serão utilizados na recuperação do património associado à EN 2 – leia-se marcos, casas de cantoneiros, sinalização vertical e outros – e na criação de meios de divulgação e consolidação da imagem e do património imaterial associável a esta nova rota.
No projecto está prevista mesmo “a criação de um passaporte para os visitantes irem carimbando, concelho a concelho”, nas viagens que façam dentro do percurso que cruza Portugal de Norte a Sul e que faz desta estrada “a terceira maior estrada do mundo com características ‘rurais’ e que atravessa um país integralmente” diz Luís Machado.
“As potencialidades deste projecto são imensas e são tão mais relevantes quanto a EN 2 atravessa o interior do país e pois zonas onde estas ferramentas de desenvolvimento são fundamentais para as populações”, remata o autarca.
A EN 2 no Algarve: Faro, Loulé e São Brás de Alportel na rota que já é Estrada Património na região
Se no país a EN 2 atravessa oito províncias, 11 distritos e 29 concelhos, calcorreando quatro serras e atravessando 11 rios, no Algarve a estrada que se quer rota turística percorre até à fronteira com o Alentejo três concelhos: Faro, São Brás e Loulé, de acordo com o percurso.
71 anos após adquirir a designação de EN2, neste percurso dentro da região a EN 2 é já Estrada Património no lanço entre São Brás de Alportel e Almodôvar, dadas as características de património natural de relevo que atravessa enquanto serpenteia pela Serra do Caldeirão. A classificação foi atribuída em 2003.
Em Faro assinalaram-se recentemente os 71 anos da EN2, com a presença conjunta dos autarcas de Loulé, São Brás e Chaves, que lado-a-lado com Rogério Bacalhau, marcaram a efeméride e deram os primeiros passos simbólicos de arranque da rota turística no Algarve, com a cerimónia a inaugurar dois banners no ponto de termo da rota – a rotunda frente ao Hotel Faro -, duas placas típicas da antiga sinalização indicativa de direcções com a inscrição Chaves – no cruzamento junto ao cemitério velho da cidade – e ainda um marco de distância, no cruzamento da Rua do Alportel com a Avenida Calouste Gulbenkian.
O autarca farense referiu ao POSTAL que o município está a “desenvolver algumas ideias que possam potenciar a adesão à rota turística por parte da cidade e do concelho”.
“Para este momento de arranque simbólico do projecto pedimos à Infraestruturas de Portugal a dispensa à Câmara de uma placa de indicação rodoviária típica da EN 2 com a inscrição de Chaves e a distância em quilómetros”, refere o presidente que conseguiu ainda encontrar um marco de distância original para colocar junto à Avenida Calouste Gulbenkian (ver caixa).
“Temos algumas ideias para este projecto como a de criar uma viagem anual de motociclismo entre Chaves e Faro, os dois extremos da rota, o que vamos fazer em parceria com o Moto Clube de Faro”, sublinha o autarca, que não avança com mais novidades para já.
“Esta rota turística é com certeza uma mais-valia para o concelho e para a região, em particular para o interior, como o é para o interior de Portugal atravessado pela EN 2, em grande medida porque permite criar sinergias entre os municípios do país aos mais variados níveis”, remata o autarca.
São Brás de Alportel tem iniciativas já a avançar apara fazer da vila serrana um marco na rota turística da EN 2
Quem não deixa os créditos – e as oportunidades – por mãos alheias é a Câmara de São Brás, liderada por Vítor Guerreiro. Na sequência dos contactos iniciais para a criação da rota turística da EN 2 o autarca decidiu preparar o trabalho de casa e ao POSTAL o autarca confirmou já ter adquirido a casa de cantoneiros da EN 2 em São Brás de Alportel, junto ao Largo de São Sebastião, por cerca de 19 mil euros, onde será instalado um centro interpretativo concelhio da EN 2, num projecto que já está a ser desenvolvido e que tem um custo de 60 mil euros.
“É um primeiro passo para a integração da rota da EN 2 que encaramos como um meio importante de aumentar a visibilidade e atractividade do concelho, mas que esperamos reforçar com a aquisição da casa de cantoneiros em Bicas da Serra, onde poderá vir a ser instalada uma unidade com outras valências entre as quais alojamento”, refere.
Além disto, o projecto de requalificação do Largo de São Sebastião que está em desenvolvimento, já inclui um elemento decorativos no pavimento – uma rosa dos ventos estilizada – destinado a assinalar a zona do largo onde a EN 2 se cruzava com a EN 270, ponto nevrálgico da São Brás de outrora.
Loulé com interesse, mas sem investimento
Já o presidente da Câmara de Loulé, que é o primeiro concelho a ser atravessaado pela EN 2 quando entra no Algarve, atravessando a Ponte sobre a Ribeira do Vascão, vê a ideia da criação da rota como “uma boa iniciativa que interessa ao município”.
Vítor Aleixo sublinha a importância da valorização do património natural e edificado num concelho que tem uma importante área rural e serrana atravessada pela EN 2.
Recorde-se que em Loulé, além da Ponte sobre a Ribeira do Vascão – no limite do concelho -, se situam entre outras as localidades de Ameixial e Besteiros e ainda o mais conhecido miradouro da estrada no Algarve, o Miradouro do Caldeirão.
Ao POSTAL o autarca afastou para já “qualquer investimento no sentido de integrar a rota turística da EN 2 por estarmos ainda numa fase embrionária do projecto”.