A Águas do Algarve (AdA) vai utilizar alfarroba e cortiça para a remoção de resíduos de produtos farmacêuticos, nomeadamente antibióticos, das águas residuais tratadas na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Faro Poente.
A utilização destes dois materiais orgânicos e naturais endógenos do Algarve insere-se num projecto de investigação e desenvolvimento que pretende testar a eficácia destes produtos, a par de biopolímeros coagulantes com origem em extracto de acácia, na absorção de medicamentos que ainda não são retirados das águas residuais tratadas apesar do elevado padrão de tratamento a que os esgotos urbanos são sujeitos em cumprimento das normas europeias e nacionais.
Os produtos de origem farmacêutica são ainda uma questão difícil de ultrapassar no tratamento de águas resíduais, mesmo em ETARs de ultima geração e por isso integram a água tratada devolvida ao ambiente após tratamento.
A entrada daqueles produtos no meio ambiente aumenta a concentração de produtos de origem química que integra o biosistema e particularmente a cadeia alimentar, sendo uma questão que as políticas de ambiente da União Europeia enquadram na respectiva agenda de acção.
Ensaios pilotos decorrem em Faro com a Águas do Algarve a dar, uma vez mais, cartas na inovação e desenvolvimento de técnicas no sector
“Os ensaios piloto de utilização destes meios de remoção de produtos farmacêuticos dos efluentes já tratados decorrerão na ETAR de Faro Poente”, afirmou ao POSTAL Teresa Fernandes, responsável pela comunicação da empresa responsável pelo sistema multimunicipal tartamento de águas residuais.
“Trata-se de testar respostas a esta questão ambiental recorrendo a produtos endógenos, naturais e orgânicos, com uma relação custo / eficiência que se julga ser positiva”, esclarece a responsável da AdA.
“As respostas a todas estas questões que se relacionam com a eficácia desta solução é o que se pretende averiguar com este trabalho em que a Águas do Algarve participa de bom grado, seguindo a nossa política de salvaguarda de ambiente e o esforço contínuo que fazemos para estar na primeira linha dos avanços tecnológicos no nosso sector”, realça Teresa Fernandes, que sublinha que “só assim podemos continuar a prestar aos algarvios um serviço de máxima qualidade como sempre temos vindo a fazer no âmbito das concessões dos sistemas regionais de abastecimento de água e de tratamento de águas residuais”.
Um projecto que visa a aplicação a nível europeu
O projecto de investigação que vai ser desenvolvido pela AdA visa chegar a resultados que provem a validade e viabilidade das técnicas utilizadas e pretende, provadas estas premissas, que estas técnicas passem a integrar a resposta europeia aos problemas com resíduos de produtos farmacêuticos nas águas residuais.
Exactamente por isso o custo do projecto, cerca de um milhão de euros, é apoiado pela União Europeia em mais de 855 mil euros, fundos oriundos do Programa LIFE.
Denominado IMPETUS – Improving current barriers for controlling pharmaceutical compounds in urban wastewater treatment plants (desenvolvimento dos sistemas de controlo de compostos farmacêuticos nas ETARs, numa tradução livre), o projecto integra ainda o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, a Environmental and Regional Development Consulting, a EPAL / Águas de Lisboa e Vale do Tejo, as faculdades de Ciências e de Farmácia da Universidade de Lisboa e a Universidade do Algarve.
O programa vai ainda aumentar o controlo já apertado da AdA à presença de resíduos farmacêuticos na água que sai das ETARs para o meio ambiente na região, o que se consegue com o aumento do número de análises a compostos farmacêuticos alvo de estudo neste projecto e que se somam assim às muitas dezenas de parâmetros analisados em permanência, pelos laboratórios da AdA e por entidades externas independentes, à água que deixa as ETARs em direcção aos rios e oceano no Algarve.