Gostava de partir como cheguei, de repente, forte e convicta, numa madrugada de festa.
Gostava de ir, para tal tão temido plano, daqui a tantas décadas quantas as que já cá me têm, com a bagagem cheia de aprendizagens e memórias, mas completamente vazia de quaisquer arrependimentos.
Gostava de morrer sem medos, feliz como tenho vivido, sem causar transtorno a ninguém.
Gostava que, nessa separação momentânea, muito mais se alegrassem pelas marcas que deixei do que se deixassem levar por vãs ou saudosas tristezas.
Acho que o que quero dizer é que, se calhar como tantos, gostava de morrer quando eu quisesse; quando sentisse a missão já bem cumprida e o tempo sabiamente usado; quando me visse a definhar para além do que é aceitável ou a deixar de habitar o meu corpo… porque as pessoas deviam ter direito a certas dignidades, não acham? A vida não é tudo. E se é de suprema importância vivê-la da melhor maneira o mesmo se deverá entender para a subida ao nível seguinte.
Não, a vida não é tudo; sobretudo quando é um fardo e um insustentável sofrimento para quem a vive.