O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que discursou esta sexta-feira no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, deixa duras críticas ao Ocidente e em específico aos Estados Unidos. Diz que as sanções falharam e afasta responsabilidades da Rússia na “degradação da economia mundial”. No entanto, reconhece que “nada será como antes” e fala numa “russofobia”.
Vladimir Putin acusa o Ocidente de destruir o “princípio da propriedade privada” em nome de “ilusões geopolíticas antigas”.
“O mundo unipolar terminou. Isso é natural. A mudança é um desenvolvimento natural da história”, afirma, acrescentando que existe, neste momento, uma “superpotência única”.
“Os EUA declararam-se o Deus na terra”, diz ainda.
A falar a partir de São Petersburgo, acrescenta que “nada será como antes”. No entanto, acusa o Ocidente de não querer ver “evidências” e fala numa “russofobia”, que considera impensável.
“O objetivo é esmagar a Rússia, cortando os laços económicos das empresas ocidentais com a Rússia (…). Isso não aconteceu”, refere.
Presidente da Rússia alega que há uma pressão psicológica na população e uma guerra de informação.
“Vê-se forças que chegam ao poder que parecem partidos diferentes, mas a política é a mesma. Metem de lado os interesses das pessoas e das empresas. Isso está a provocar o aumento do populismo e de extremistas, mudanças económicas, degradação e mudança de elite”, afirma ainda.
A ECONOMIA
O Presidente da Rússia afasta responsabilidades da Rússia na degradação da economia mundial e garante que a economia russa está bem.
“[A degradação da economia mundial] não é resultado dos últimos meses. Não é resultado da operação militar especial que a Rússia está a realizar no Donbass. Isso é uma mentira total. O aumento das matérias primas no mercado já é uma coisa muito anterior a isso. Foi provocado pela política macroeconómica do G7″.
Para Putin, os problemas de inflação e a subida da energia, exemplifica, devem-se a “erros da burocracia europeia e dos EUA”. Aponta, por isso, para futuras divisões políticas e sociais na Europa.
“A guerra relâmpago contra a Rússia falhou“, realça, acrescentando que a inflação já é superior a 20% em alguns países.
Refere mesmo que a União Europeia pode perder mais de 400 mil milhões de euros este ano.
Entre outras medidas económicas, o responsável defende créditos e empréstimos a longo prazo e a aposta no setor bancário.
“Somos fortes, podemos resolver qualquer desafio“, diz.
No Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, nega que a Rússia esteja a impedir a exportação de cereais a partir da Ucrânia. E garante que o Kremlin está disposto a falar com a ONU.
“Não fomos nós que minámos portos do mar do Sul”, afirma ainda.
GUERRA NA UCRÂNIA
Depois de duras críticas ao Ocidente na primeira meia hora de discurso, o Presidente da Rússia acusa o Ocidente de “explorar militarmente” a Ucrânia e de fornecer “grandes quantidades de armas”.
“Hoje os nossos soldados e voluntários lutam para defender as nossas pessoas, para garantir a liberdade e a segurança da Rússia num grande país que toma decisões próprias sobre o futuro”, afirma.
Vladimir Putin, que garante que a Rússia “nunca se vai fechar dentro de si própria, reforça que quer construir um país soberano. Sobre as sanções económicas, diz que o Ocidente ignorou “factos reais”.
“Há empresas que estão com problemas, a logística está desorganizada, mas isto é um estímulo para criar uma economia verdadeiramente soberana“, diz.
A Rússia está disposta a trabalhar com empresas ocidentais “que queiram continua a trabalhar no mercado russo”.
“Todos aqueles que querem continuar a trabalhar com a Rússia estão a ser vítimas de pressão dos Estados Unidos e da Europa e até de ameaças reais, mas não dão efeito. Isso não funciona principalmente em países onde há líderes fortes. A Rússia irá aumentar a cooperação com esses países”, afirma.
A Rússia está disposta a trabalhar com empresas ocidentais “que queiram continua a trabalhar no mercado russo”, garante.
Adianta ainda que quer criar um sistema financeiro próprio, apostar no setor privado e aumentar o desenvolvimento tecnológico.
O discurso do Presidente russo começou depois da hora marcada. O Kremlin justifica o atraso com um ataque informático, que terá afetado o sistema de credenciação e acesso ao evento, nomeadamente de jornalistas.
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