Num artigo anterior salientámos que a pandemia tem sido uma experiência global, vivida por todos em todo o planeta, independentemente de sexo, raça ou religião. Esperemos que possa servir para nos unir e ajudar-nos a refletir sobre o que realmente é importante, bem como para desenvolvermos atitudes e comportamentos mais adequados para nós mesmos e para com os outros.
Efetivamente, foram muitas as manifestações de solidariedade, em particular no meio artístico, quer da sociedade para com os próprios artistas, que muito se têm ressentido do impacto da pandemia, nomeadamente em termos financeiros, quer dos artistas para a sociedade, nomeadamente com a realização de eventos solidários de música e com iniciativasque permitissem visitas online a museus de todo o mundo e a visualização virtual de obras de arte.
Mas entre os próprios artistas, a solidariedade e a “ligação” também parece ter aumentado. A realização de exposições coletivas pode ser um indicador disso mesmo.
Já no artigo ”Regresso ao futuro” nas artes visuais após o estado de emergência? havíamos feito referência à “Associação 289”, sediada em Faro e com fortes ligações às Artes Visuais da Universidade do Algarve, que organizou uma exposição em que participaram 57 artistas contemporâneos.
Mais recentemente foi inaugurada a exposição “Projecto MAP – Mapa de Artistas de Portugal (2010-20). Mapa ou Exposição”, no Museu Coleção Berardo, em Lisboa.
O subtítulo “Mapa ou Exposição” remete para a forma como a exposição foi organizada, tendo esta resultado das “ligações” profissionais e/ou afetivas de artistas portugueses, desde 2009. Neste ano foi criada a “Associação Cultural Colectivo de Curadores”, sem fins lucrativos, a qual foi criada a partir do encontro de vários curadores que escolheram Lisboa como plataforma para a sua atividade, após diversas experiências internacionais. Esta Associação tem promovido o “ProjectoMaAP”, um projeto curatorial de mapeamento dos artistas plásticos ativos em Portugal e todos os seus eventos e exposições.
Cada artista convidado a pertencer ao Map – Mapa de Artistas de Portugal – deve sugerir dois nomes de artistas centrais no seu universo artístico e/ou pessoal, e é a partir desta nomeação direta de artista a artista que o mapa se desenvolve exponencialmente. É portanto um mapa de relações que se desenvolve perante o nosso olhar, em que os artistas se legitimam mutuamente. A equipa curatorial não interfere no processo de seleção.
Contando já com mais de 350 artistas que integram o mapa de arte contemporânea portuguesa, aolongo da última década, o “ProjectoMap” tornou-se uma das maiores plataformas online de iniciativa privada sobre artistas vivos que se apresenta em formato de base de dados através de um mapa interativo, oferecendo uma leitura diferenciada da geografia da criação contemporânea portuguesa.
Tudo começou em 2010 quando quatro curadores convidaram quatro artistas, dando início à geração embrionária do projeto. No mesmo ano, cada artista convida outros dois artistas para integrar o mapa, e assim sucessivamente. Hoje o mapa conta com mais de 360 artistas, acentuando o seu carácter exponencial e hipoteticamente infinito.
O “ProjectoMAP” ancora as suas raízes na exposição “Freunde—Friends —Fründ”, realizada no ano de 1969 nas “Kunsthallen de Berna e Düsseldorf”. Esta exposição foi fruto da amizade dos quatro artistas Daniel Spoerri, André Thomkins, Karl Gerstner e Dieter Roth, em colaboração com os curadores Harald Szeemann e Karl Ruhrberg. Estes convocaram os amigos de cada artista e os amigos dos amigos, propondo apresentar o universo pessoal de cada um. Nesta exposição acabariam por participar, ao lado dos quatro artistas iniciais e dos seus amigos, artistas como Joseph Beuys, Christo e Marcel Duchamp, reunindo mais de 400 obras de cerca de 50 participantes. Foi esta a exposição histórica de 1969 que se tornou fonte de inspiração fundamental, mais de quatro décadas depois, para a criação da metodologia curatorial do “ProjectoMAP”.
A exposição no Museu Coleção Berardo marca os 10 anos de história do “ProjectoMAP”, um projeto que é também uma leitura do panorama artístico português da última década, um “mapa” de relações, afinidades e cruzamentos entre práticas, discursos que influenciam a leitura da produção artística contemporânea. A componente reflexiva também está presente, sendo ao longo da exposição colocadas questões que remetem para a reflexão de quem visita a exposição. De entre as questões colocadas, contam-se as seguintes: “O que querias ser quando eras novo?”; “Quem são as pessoas que mais te influenciaram?”; “O que te interessa nos tempos de hoje?”.
Esta exposição pode ser visitada até 10 de janeiro 2021, sendo as visitas limitadas a 8 pessoas de cada vez e orientadas pelas curadoras Alda Galsterer e Verónica de Mello. O Museu Coleção Berardo está certificado com o selo «Clean & Safe» do Turismo de Portugal e com o selo «Safe Travels» do World Travel & Tourism Council, cujos requisitos pretendem garantir ao visitante uma experiência em total segurança.
Entretanto, com o novo estado de emergência, as atividades culturais voltaram a ficar suspensas. Esperemos que num futuro próximo a “ligação” entre os artistas continue forte e solidária, mas que também possa aumentar a “ligação” entre os artistas e o público, para beneficio de ambos, porque os artistas precisam do público, mas as pessoas também precisam de arte e cultura.